Emi Otsutsuki

Capítulo 2

A academia era um lugar solitário quando não se tinha amigos. As aulas pareciam passar de forma lenta e os intervalos eram sem graça quando não se tinha ninguém para brincar. Ela gostava de seus professores, mas alguns pareciam olhar estranho para ela, como se ela valesse menos do que os outros. Isso machucou. Eles eram professores, deviam mais do que tudo cuidar dos alunos, não é? Ou eles também viam algo nela que era anormal? Essas coisas eram confusas para seu cérebro de seis anos processar…

Então ela decidiu fazer amigos. Meninos estavam fora de questão já que eles não brincavam com as choronas (forma carinhosa que eles chamaram as meninas), então ela tinha que tentar com as meninas.

Emi sabia que após as aulas elas se reuniam no parquinho para brincar de boneca. Emi não gostava muito de bonecas, elas eram estranhas, mas ela própria tinha uma, não tão bonitas como as de plásticos que as outras brincavam, essa era de pano, ela mesma tinha feito e tinha uma aparência engraçada. Com uma cabeça maior que o resto do corpo, olhos coloridos de botão, uma boca de traça e cabelos de crochê vermelho, o vestido foi feito de retalhos e ela pregou algumas flores que colheu, claro, as flores estavam murchando mas ela ainda estava bonita, não é? 

-Ah, Oi! - Chamou a atenção das colegas. Ela reconheceu duas delas que estavam em sua sala, Sakura e Ino, eram meninas bonitas com bonecas muito parecidas com elas próprias. - P-Posso brincar com vocês? 

-Você tem alguma boneca? - Uma delas perguntou.

-Eu tenho… - e mostrou a boneca de pano. As meninas se entreolharam antes de começar a rir.

-Sério? Essa coisa feia? 

-Você não espera que a gente brinque com isso por perto? 

-Se bem que precisamos de um monstro! Você pode ser nosso monstro! Você já tem o chifre e tudo! - E riram mais, com uma breve exceção para suas colegas de classe que apenas sorriram desconfortáveis. Emi engoliu em seco e abraçou a boneca. Ela não tinha nada o que fazer ali, se virou e foi embora, os risos ainda ecoando. 

Apenas quando estava longe do grupo ela sentiu um lampejo de raiva brotar, talvez se ela tivesse uma boneca mais bonita ela teria amigas, ou se ela não tivesse uma aparência de monstro as meninas teriam ficado mais confortáveis. Sem pensar muito ela jogou a boneca na primeira coisa que viu, que infelizmente não era uma árvore como ela esperava.

-Ei! Qual o seu problema? - O menino loiro reclamou quando a boneca atingiu seu nariz.

-M-Me desculpa, eu não vi você aí. - Se abaixou para pegar a boneca. Ela notou que os olhos dele estavam vermelhos e que ele secava as lágrimas apressadamente. - Por que você está chorando? 

-Eu não tô chorando! E isso não é da sua conta! 

-Pode não ser da minha conta - apertou mais a boneca - mas é bom conversar com alguém quando se está triste - ele estreitou os olhos, parecia uma raposa desconfiada - e se você não quiser conversar comigo pode conversar com outras pessoas, aposto que elas se importam.

-Ninguém se importa comigo! 

-Acho que seus p- 

-Eu não tenho pais! Eu não tenho amigos! Eu não tenho ninguém que se importe! 

Emi recuou um passo. Ela havia encontrado alguém tão sozinho quanto ela. Alguém que sentia a mesma solidão que ela. Alguém que sofria na mesma intensidade que ela. 

-Eu também não tenho pais, nem amigos, nem ninguém que se importe comigo - Isso pareceu prender a atenção do menino que lhe olhou com aqueles enormes olhos azuis cheios de belas e intensas emoções. - E se você quiser, podemos ser amigos.