você está livre ➤ bucky barnes

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⚠️ Alerta de spoiler do quarto episódio de Falcão e o Soldado Invernal⚠️

Era incrível como Wakanda conseguia ser igualmente exuberante e fantástica à noite; mesmo reduzida à escuridão total, as luzes dos palácios e residências surpreendentemente não eram ofuscadas pelo céu negro repleto de estrelas, enquanto uma noite fria ia engolindo gradativamente toda a imensa extensão do reino.

S/N subia sem qualquer dificuldade as pedras íngremes e não niveladas do pequeno relevo rochoso, rumo à densa caverna iluminada apenas pela luz das diversas tochas alinhadas simetricamente até a entrada da mesma. Devido ao seu intenso e pesado treinamento, escaladas como aquela eram a coisa mais estupidamente fácil de se fazer. Com a ajuda da sua lança afiada, a guerreira subiu o último "degrau" feito de pedras rústicas, enquanto batia a poeira da sua roupa com uma das mãos. Ela dirigiu seu olhar na direção das faíscas das diversas tochas distribuídas até a entrada da caverna, onde a silhueta de um homem sentado reluzia através das chamas alaranjadas e ofuscantes.

Às suas costas, a imensidão iluminada de Wakanda, as cachoeiras paradisíacas e as florestas densas e exuberantes formavam a paisagem mais deslumbrante existente e, mesmo que a mulher não pudesse ver, sabia que o reino cintilava sobre a luz da lua cheia e das estrelas brilhantes.

Com um sorriso involuntário escapando dos seus lábios contraídos, S/N avançou lentamente na direção da entrada da caverna, seus passos pesados ecoando no relevo silencioso. O barulho das cigarras e dos insetos noturnos eram como música para os ouvidos da mulher, já que demonstravam toda a sua admiração e apelo pela vida selvagem- que era muito proveniente ali em Wakanda. S/N bateu sua lança no chão na esperança de chamar a atenção do homem cabisbaixo na outra extremidade da caverna, sentado com apenas um dos braços entre as pernas. Os cabelos longos até pouco acima dos ombros caíam sobre seu rosto iluminado pela luz alaranjada das chamas das tochas, deixando-o com uma aparência mais sombria e assassina do que o normal.

Mas não para S/N. O Lobo Branco com certeza não a intimidava.

Ela pigarreou de modo decidido, enquanto Bucky Barnes erguia lentamente sua cabeça para encará-la.

- Está na hora.- S/N anunciou decidida, enquanto o olhar perdido e frustrado de Bucky analisava-a cautelosamente.

- Tem certeza disso?- ele questionou calmamente, sem desviar seu olhar fixo do rosto da mulher.

- Não o deixo machucar ninguém.- ela confirmou, enquanto Bucky apenas assentia de modo lento e receoso.

S/N respirou fundo enquanto as chamas das tochas estalavam às suas costas em um ritmo constante, apenas para quebrar aquele silêncio assustador e sombrio da floresta.

- Saudade.- ela começou calmamente, forçando um sotaque russo pelo qual havia treinado por muito tempo.- Ferrugem.

Enquanto o timbre firme da sua voz intimidadora preenchia o silêncio arrebatador daquela parte da floresta S/N avançava em passos lentos e ágeis na direção de Bucky, que mantinha seu olhar firme sobre o chão terroso abaixo de si. Mas a mudança repentina na expressão do homem fora perceptível; no exato momento em que aquelas palavras extremamente familiares invadiram seus ouvidos, suas feições foram de inexpressivas a completamente atordoadas em segundos, demonstrando todo o seu medo perante o seu passado doloroso.

Mesmo sentindo uma angústia imensa dentro do seu peito, S/N continuou a falar:

- Dezessete...- a mulher estava a menos de um metro de Bucky, segurando firmemente a sua lança com uma das mãos.

- Não vai funcionar...- a voz trêmula e chorosa de Barnes cortou a mulher, enquanto a mesma pigarreava de modo surpreso.

- Amanhecer.

Um resmungo. E dezenas de lembranças assolando incessantemente a mente de Bucky Barnes.

- Fornalha.- S/N continuou, sua própria voz começando a falhar.- Nove.

Os lábios contraídos de Bucky tremiam com voracidade, expressando toda a sua mais brava e corajosa tentativa de não ceder seu controle àquelas palavras manipuladoras.

S/N, por sua vez, lutava ferozmente contra a sua vontade de se abaixar ao lado do homem e abraçá-lo.

- Benigno.- as palavras saíam como espinhos da sua garganta, obrigando-a engolir em seco diversas vezes.

Bucky cerrou os dentes, enquanto sua respiração acelerada e descontrolada ecoava por toda a extensão grotesca da caverna.

- Retorno.- S/N sentia que não ia aguentar aquilo por mais muito tempo. A dor de Bucky era aparente e real demais para ser ignorada; sua testa franzida, seu olhar assassino e impiedoso sobre o chão abaixo de si e a sua única mão contraída em punho sobre uma das pernas, mostrando o seu esforço mais verdadeiro e genuíno de não deixar-se levar por aquelas palavras controladoras.- Um.

Nada poderia ser mais doloroso do que assistir à todo aquele horror e aquela dor sem poder fazer nada.

Ele precisa disso, ela pensou, enquanto avançava mais um passo na direção de Bucky. Ele precisa ser livre.

- Vagão de carga.

Uma lágrima. E o coração de S/N sendo quebrado em milhares de pedaços.

E, logo após, somente o silêncio. Misturando-se com o choro entrecortado e baixo de Bucky.

- Você está livre.- S/N concluiu orgulhosa, permitindo que uma lágrima solitária descesse pela sua própria bochecha.

Bucky ergueu seu olhar choroso na direção da mulher, enquanto um sorriso afetuoso escapava dos seus lábios trêmulos.

S/N avançou na direção do homem, largando sua lança afiada no chão enquanto sentava-se ao lado do mesmo. Enquanto as lágrimas densas e dolorosas iam rolando pelo rosto contraído de Barnes, a mulher passou um dos braços pelos ombros do mesmo, apertando-os gentilmente e, ironicamente, sentindo falta do apoio do outro braço do homem. Sem conseguir segurar mais, os soluços de Bucky cortaram o silêncio monstruoso da noite, enquanto seu corpo pulava a cada fungada ou grunhido doloroso, as suas lágrimas de alegria e liberdade banhando o peito de S/N. Bucky passou seu braço musculoso por trás das costas da mulher, na tentativa de obter algum tipo de apoio físico. A mulher, por sua vez, deu leves tapinhas nas costas de Bucky, sentindo-se extremamente orgulhosa por essa brava conquista do mesmo.

Enquanto as tochas iam gradativamente soltando as suas últimas faíscas restantes, o choro alto de Bucky finalmente foi controlado, dando espaço apenas para o som reconfortante da sua respiração calma e tranquila. Segundo depois, a última tocha se apagou, permitindo que a negritude da noite preenchesse todo o entorno de ambos.

Mas depois de descobrir sobre tudo o que Bucky passara, a escuridão não assustava S/N. Não mais.


Espero que tenham gostado!

.ೃ࿐ whatever it takes .ೃ࿐  𝐼𝑚𝑎𝑔𝑖𝑛𝑒𝑠 𝑀𝑎𝑟𝑣𝑒𝑙Onde histórias criam vida. Descubra agora