As imitações de Nayeon

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Dahyun acordou com o barulho irritante da corneta, virou para o lado oposto e cobriu seus ouvidos com o travesseiro numa tentativa falha de abafar o som. Pode ouvir o barulho de todos do quarto levantando, arrumando suas camas e conversando entre si.

Bom, na verdade, por ser filha do major, que tinha o privilégio de ter um quarto só para si, mas preferiu daquela forma pois não gostava de dormir sozinha. Se acostumou, em sua vida inteira, acordar no meio da noite por conta de um pesadelo e correr para a cama de Nayeon, ou também acordar por conta de Yeji falando enquanto dormia.

— Acorda! — sentiu uma travesseirada em suas costas, grunhiu irritada e se sentou na cama. Coçou seus olhos para conseguir enxergar melhor a coreana sorridente á sua frente.— Se a mãe entra e te pega dormindo ela vai ficar puta, você sabe né?

A mais nova assentiu, esticou seus braços para cima até que seus ossos estralassem e seus músculos despertassem por completo. Nayeon estava certa, tinha que levantar logo.

Nayeon era sua irmã adotiva, filha legítima da major. Dahyun foi adotada quando bebê, quando uma vila foi atacada pela rebelião e matou todos os moradores, acharam a pequena num quartinho de uma casa despedaçada enquanto berrava de fome. Foi criada como uma militar, se tornou uma militar e amava ser uma.

Arrumou sua cama bem lentamente para que desse tempo de todas as garotas daquele quarto saíssem para o banheiro primeiro, gostava de ser a última, amava ouvir o silêncio no quarto pela manhã.

— Hoje tem treinamento de campo — a mais velha suspirou, apoiando suas costas na quina da beliche.— O que você acha de a gente da um perdido na mãe e ficar de bobeira a manhã toda?

— Só se você estiver querendo se fuder e me fuder — riu fraco.— Vamos logo.

Nayeon assentiu, segurando sua cintura, andando juntas até o banheiro. O barulho antes abafado, se tornava alto á medida que se aproximavam. Aquelas garotas pareciam crianças, todas mesmo. Elas brincavam com a água e fofocavam do pelotão masculino as alturas, algumas aproveitavam para ainda dar alguns cochilos sobre os bancos que tinham lá.

As duas sentaram numa parte livre de um dos bancos, dobrando suas coisas ali, conversando sobre o treinamento que teriam. Esperando um dos chuveiros ficarem livres, Dahyun fazia alguns alongamentos antecipados ali.

— Por Zorg — uma voz atrás de Kim soou, Jennie fazia uma careta para a garota, como se estivesse com um certo nojo da mesma —, você ama mesmo esses treinamentos, não é?

Dahyun franziu o cenho, deu de ombros. Jennie pegou a toalha pendurada na mini parede que dividia os chuveiros e esfregou em sua cara.

— É o mínimo que posso fazer por quem me salvou das mãos daqueles imundos — ela resmungou.— Tenho que honrar Zorg.

— Ah, qual é, aquele alienígena velho de quase 3000 anos está quase com o pé na cova. Daqui a pouco ele bate as botinhas.

— Por isso mesmo que tenho que me apressar para honrá-lo.

Jennie revirou seus olhos, enxugando seus cabelos com a toalha de rosto, inclinou seu corpo inteiro para baixo e amarrou o pano em seus cabelos.

— O chuveiro está livre — murmurou, pegando a escova de dentes em sua necessaire.

As duas irmãs se entreolharam, rapidamente, correram até o chuveiro numa aposta de quem chegava primeiro. Dahyun tropeçou em um sabonete jogado no chão e caiu, grunhiu pela dor e pelo chuveiro que foi perdido por Nayeon.

— Qual é, Nay — gemeu, entrou debaixo do box e tentou empurrar a mais alta —, me deixa tomar banho primeiro!

— O caralho, sai daqui — riu, puxando o braço de Kim para fora do box.— Espera outro agora.

A mais nova revirou os olhos com um suspiro, olhou para os lados procurando algum chuveiro que estaria livre. Andou pelo longo banheiro, perguntando á alguém se estava perto de terminar o banho. 

Odiava ter que esperar para tomar banho, gostava de se arrumar antecipadamente para ter a certeza que tudo estava dentro dos conformes e perfeito para que não chamassem sua atenção na vistoria diária.

Teve que empurrar um casal dentro de um dos chuveiros, sem paciência, não se importou quando elas resmungaram. Pelo holograma na parede, escolheu a temperatura perfeita da água, apoiou suas mãos na parede e gemeu sentindo a água quente cair sobre suas costas.

Sua pele branca tomou uma coloração avermelhada, quase parecendo que  estava machucada. Sua cabeça queimava, seus fios molhados caíam sobre seu ombro e grudavam em sua pele.

Aos poucos, o barulho das risadas foram diminuindo, restando poucas garotas lá, apenas ás que se arrumavam e estavam de bobeira por lá.

Enxugou seu corpo avermelhado, andando pelo banheiro para poder pegar suas coisas e terminar aquela parte de sua manhã. Colocou seu uniforme — o diário, que era o que usavam para perambular pelo batalhão —,  suspirando aliviada ao sentir o tecido macio em seu corpo. 

Andou preguiçosamente até sua sua cama, desviou de duas garotas que brincavam de lutinha e quase á derrubaram. Sentou sobre o chão frio, próximo a escada de sua beliche e tombou a cabeça para trás deitando-a no acolchoado da cama.

No momento, ninguém se atrevia a deitar nas camas, não antes da vistoria. Qualquer dobra ou amasso no pano da fronha do travesseiro ou a colcha de cama poderiam condenar a dona daquela cama á 70 abdominais.

— Por, Zorg, Kim — Yeji resmungou —, nem penteou o cabelo?!

Dahyun passou a mão por seus fios embaraçados, dando de ombros.

— Mó preguiça..— bocejou.— Penteia pra mim?

Hwang balançou a cabeça, abriu a gaveta da cômoda entre sua cama e a da mais velha, e pegou o pente de marfim. O deslizou entre suas madeixas, passando pelos nós com cuidado, evitando dar puxões ali.

— Ô, Nayeon — uma das garotas no fundo do quarto gritou —, cadê sua mãe hein?! Tamo com fome!

— Ah, a velha deve tá relaxando de boa na cama dela — debochou, ela andou até o corredor que era formados pelas camas e sorriu largo. Colocou suas mãos para trás, ficando na ponta dos pés e balançando seu corpo para frente e para trás.— "Vamos,, vamos logo, suas aberrações humanoides de quinta categoria!" — imitou a voz rouca e alta da major, andou pelo quarto, olhando aos arredores com o queixo erguido e uma expressão esnobe. As ridas apenas á incentivava a continuar suas imitações.—"Você, Irene — apontou para a mulher sentada sobre a escada — mas o que pensa que está fazendo ai de bobeira?! 3000 polichinelos agora!"

As risadas eram altas, sempre zombavam de sua superiora quando ela não estava, amavam também as imitações quase perfeitamente bem feitas. Dahyun, segurando uma risada, balançou a cabeça, esperava a hora que a major entrasse ali e visse toda aquela bagunça em plena 5:50 da manhã.

"Mais depressa!" — gritou Im, andando sem olhar para trás. Fazia gestos exagerados que quase á faziam perder o braço.— "Vocês são mais burras que um esmagador!"

Ela estranhou quando todas pararam de rir, se ajeitando entra os espaços de suas camas e se posicionando em sentido. Olhou para trás, arregalando seus olhos, deu um sorriso amarelo. Tentou ir para sua cama, mas foi impedida por um puxão de braço.

— Eu mandei sair?

— Não, mãe...

— "Mãe?!"— indagou, cruzando seus braços.

Im revirou seus olhos.

— Não, senhora.

A  mulher assentiu.

— Já que a espertinha da amiguinha de vocês gosta de brincar — disse alto, para todo mundo escutar —, logo depois do treino, vão passar a manhã inteira pintando os meio-fio do batalhão e varrendo as folhas secas. Todas vocês entenderam?!

— Sim, senhora! — todas responderam juntas.

— Agora vão comer logo, as folhas não vão se varrer sozinhas — a superior disse, dando as costas para as garotas.

Elas se mantiveram na mesma posição, até que a major saísse do quarto. Depois uma gritaria furiosa soou, jogaram travesseiros na garota, a culpando por conta do trabalho á mais que teriam que fazer.

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