Subi as escadas bem devagar, prestando atenção a todo possível movimento que não fosse meu, estava tremendo, mas não de frio, sabia que tinha algo errado, eu estava sozinho em casa, e não deveria haver janelas abertas devido à leve e insistente chuva.
Ao chegar no topo, percorri todo o corredor com os olhos a procura de algo que podesse causar o barulho. O corredor não era tão extenso, tinha apenas três portas, a do meu quarto, a do quarto dos meus pais e a porta que dava acesso às escadas do sótão da casa. A primeira vista todas estavam devidamente fechadas, mas com um pouco mais de atenção eu pude ver que a última estava entreaberta.
Fui bem devagar até a porta, temendo e imaginando o que poderia tê-la aberto. Ao chegar a uma distância onde minha mão podia encostar na maçaneta eu a abri lentamente, de forma que um rangido rouco, muito semelhante ao que eu tinha ouvido a pouco, pode ser ouvido, subi os poucos degraus até o sótão ainda tremendo e sentindo um mal estar fora do comum, talvez causado pelo tão conhecido medo.
Ao chegar nos últimos degraus eu puxei a pequena corda fazendo com que a luz, antes ausente, se espalhasse por todos os cantos do cômodo. Com as luzes acesas eu tinha uma visão de todo o sótão, estava muito empoeirado, fazia muito tempo que eu não subia até lá, observei por um tempo as pilhas de objetos velhos até que um amontoado de caixas, no canto direito do lugar me chamou a atenção, eu podia ver um leve movimento por detrás delas, uma pequena sombra, esfreguei os olhos, talvez eu apenas estivesse muito amedrontado, não, havia algo realmente se mechendo ali atrás.
Eu peguei um pedaço de madeira pequeno que estava ao meu alcance e o lancei em direção às caixas, na tentativa de espantar aquela pequena criatura. Tremulante, eu errei o lance e a madeira bateu em um vaso florido de porcelana que estava ao lado das caixas fazendo-o cair e se fragmentar em diversos pedaços.
Em milésimos de segundos a sombra que estava se escondendo pulou detrás das caixas correndo em minha direção, e eu, assustado com tudo aquilo, corri escada abaixo, gritando e tropeçando nos degraus sem coragem de olhar para trás para conferir o que me perseguia.
Quando alcancei a porta, me joguei por ela e ao me virar para fechá-la um vulto preto pulou em cima de mim com uma agilidade sobrehumana. Sem pensar eu dei o maior e mais alto grito que eu consegui exprimir, comecei a me balançar e me debater pelas paredes na tentativa de tirar aquela coisa de cima de mim, eu estava aterrorizado e chorando. Aquela criatura se prendeu a mim de forma tão agressiva que eu sentia meu sangue quente escorrendo de pequenos ferimentos em meu rosto. Estava tão amedrontado que meus pensamentos se reduziam a medo e desespero.
Quando finalmente me livrei daquela criatura eu percebi que se tratava de uma gato preto estranhamente grande, de pelugem negra e tão exagerada que merecia o conhecido apelido "bola de pêlos".
Meus pulmões se esforçavam além de seus limites para me proporcionarem o oxigênio necessário e meu corpo estremecia a cada tentativa de movimento meu, mas me sentia aliviado por saber que tudo não passava de um debilitante mal entendido, o gato estava assustado mas eu consegui pegá-lo no colo e acalma-lo :
- Você me deu o maior susto em amiguinho !!! - falei arqueando as sobrancelhas enquanto me esforçava para diminuir o ritmo de minha respiração.
Me levantei e meio cambaleante bati a porta contra o batente, me certificando de que agora ela estaria devidamente fechada. Ainda com o gato no colo, fui andando em direção à escada, mil coisas passavam pela minha cabeça naquele momento, dei poucos passos ao longo do corredor e um barulho ensurdecedor invadiu o primeiro andar da casa, a bola de pêlos que há pouco estava em meus braços pulou agressivamente ao chão e correu em direção contrária à que estávamos indo, o barulho tinha ecoado tão alto que eu senti chão e paredes estremecerem por todos os lados a minha volta.
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Na escuridão " O Medo À Espreita "
Horror"...Eu peguei a lanterna e a faca que estavam ao meu alcance bem lentamente, sem tirar os olhos daquela aberração, quando as alcancei eu sai correndo e entrei pela pequena porta do meu quarto na esperança de encontrar uma escada que me levasse ao só...