"...Eu peguei a lanterna e a faca que estavam ao meu alcance bem lentamente, sem tirar os olhos daquela aberração, quando as alcancei eu sai correndo e entrei pela pequena porta do meu quarto na esperança de encontrar uma escada que me levasse ao só...
Acordei assustado, havia tido um pesadelo terrivelmente assustador, levantei da cama sentindo leves calafrios a percorrerem meus membros. Olhei pela embaçada janela, a chuva estava fraca e uma neblina densa cobria até onde minha vista alcançava, dando a impressão de que uma nuvem havia pousado em meu quintal.
- Que sonho horrível, pensei que ela realmente fosse entrar e...
Congelei ao abrir a porta do quarto e me deparar com grandes e sujas pegadas espalhadas por todos os lados, pegadas estas que não se contentavam apenas com o chão, estavam presentes também nas paredes e teto, eu me sentia rodeado por um interminável pesadelo.
Uma latejante dor inundava minha mente, enquanto eu tentava me mover em direção às escadas. Ao segurar o corrimão de madeira, tive minha atenção voltada para o corredor. Com espanto, eu observava os grandes sulcos paralelos, contínuos e profundos que percorriam toda a parede até o batente da porta do quarto.
Imediatamente, como se tivesse conseguido o gatilho do qual precisava, eu bati em retirada até a casa de Clara.
- Clara, rápido eu preciso de ajuda !- Gritei enquanto batia na porta deseperadamente.
- O que foi, o que foi, está tudo bem ?- Perguntou assustada abrindo a porta.
- Não, por favor me ajuda, tinha alguém andando dentro de casa ontem enquanto eu estava na cama e... e... pegadas.. por toda parte !!
- Se acalma Charlie, você está pálido !
Eu estava aterrorizado. Meus olhos brilhavam, com lágrimas de medo a se misturarem às puras e vazias lágrimas que continuavam insistentes a cair céu, impulsionando meu pensamento diretamente para aquelas marcas. Novamente, me sentia dominado por sentimentos ruins que me corroíam por dentro.
- Vamos lá na sua casa e você me conta o que aconteceu tá bem ?- Sugeriu enquanto acariciava meu cabelo molhado.
- Tudo bem - Finalizei me virando para a casa.
Enquanto Clara entrava para procurar um guarda-chuva eu fiquei na pequena varanda apenas observando e tentando entender o que estava acontecendo, mas aparentemente, todas as causas que eu conseguia imaginar eram simplesmente impossíveis.
Foi quando eu passei o olhar por uma janela do segundo andar, e lá estava, a me observar com seus penetrantes olhos amarelos, eu sabia que ela era a responsável por tudo aquilo. Volto minha atenção à porta de Clara pensando em chamá-la, mas ao olhar novamente para a janela, "ela" havia desaparecido.
Clara sai pela porta poucos segundos depois me pegando pela mão e me guiando até minha casa, ela tinha completa noção de meu estado caótico. Ao entrarmos, eu mal me aguentava de pé, canto a canto, chão, teto ou paredes, a casa não tinha uma mancha se quer.
- Mas eu vi, estavam por todos os lados, e na parede do corredor tinha... tinha um...
- Tinha um o que Charlie ?- Perguntou com semblante assustado.
- Nada... Acho que eu só tive um pesadelo.
- O que está acontecendo com você ?- Eu via pequenas lágrimas a se formarem nos cantos de seus olhos, ela estava realmente preocupada.
"Eu também não sei !"
- Olha, eu preciso ir trabalhar daqui a pouco, ainda deve ter macarrão no forno, toma um banho quente e troca essas roupas tá bem ?!
- Tudo bem, me desculpa.
- Não tem problema, se mais alguma coisa acontecer você pode me ligar que eu venho correndo te ver - Finalizou Clara, fechando a porta da sala.
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A chuva caía cada vez mais forte do lado de fora, fazendo a densa neblina se dissipar, mas em oposição a isso, a névoa nebulosa que encobria meu ser começava a se mostrar cada vez mais presente.
Tomei banho e me sentei no sofá, enrolado em uma coberta, na esperança de combater o frio de meus pensamentos. Ao soar, uma sequência de trovões leva consigo a energia de minha casa, mas isso não foi percebido por mim até que a noite caísse sobre aquela pacata cidade.
Ao ouvir tal estrondosa sequência, subi para o meu quarto e da cama, fiquei observando o quintal pela pequena janela, era belo mesmo em dias chuvosos, tinha um canteiro com flores diversificadas, um balanço vermelho e amarelo e mais ao fundo tinha a pequena floresta que rodeava a cidade.
- Mas o que é aquilo ?- Disse tremulando os lábios enquanto focava uma das árvores mais próximas.
Eu não conseguia ver direito devido à forte chuva, mas tinha algo debaixo da árvore, o que era ? um amontoado de galhos ? Não, é bem maior, uma pedra ? Também não, parece que é...
"Não pode ser !! De novo não..."
A misteriosa figura se levanta, aparenta ser alta, esguia, de cabelos longos, pálida de mais para uma pessoa comum, uma pequena névoa encobre seus pés e ela entra floresta adentro em meio à chuva. Minutos mais tarde lembrando da cena, me lembrei de uma característica familiar, seus brilhantes olhos amarelos.