- Eu deveria... deveria ter aceitado passar o período de chuva na casa da minha tia !!!- disse pra mim mesmo enquanto um leve sorriso desesperado se esboçava em meu rosto.
- Se... se eu tivesse feito diferente, se não fosse tão idiota, talvez não tivesse chegado a esse ponto.As mãos trêmulas erguiam a faca para dar o golpe que ceifaria de uma vez por todas minha vida e junto com ela meu desespero, mas não tive coragem para finalizar o ato.
- Droga... - exclamei enquanto socava a árvore na qual estava escorado - ...eu não... eu não consigo, mesmo nessa situação, eu ainda não consi...
Nessa hora um grito estridente pode ser ouvido em meio as árvores, não parecia estar muito longe, a leve neblina começou a se densificar tornando muito mais difícil a locomoção, minhas pernas mal se mantinham, mas eu ainda conseguia correr, corri cautelosamente, o mais longe que eu consegui, até chegar em uma caverna com pilares de pedras perfeitamente retos com vinhas entalhadas ao seu redor e com três enormes crânios de cachorro erguidos na parede acima de minha cabeça logo na entrada. Era como se alguém a tivesse construído, tomando todo o cuidado com sua decoração e simetria. Novamente o grito se espalhou pela floresta e sem mais tempo para pensar eu adentrei a caverna na esperança de me esconder do que quer que fosse aquilo, porém ainda mais temeroso com o que poderia estar me esperando do lado de dentro.
Tudo estava escuro, em um click a luz amarelada da lanterna ilumina à minha volta, rapidamente fiz pequenas marcações com a faca em alguns pontos para, caso eu me perdesse, achar facilmente a saída, quanto mais eu entrava na caverna, mais a escuridão se densificava ao meu redor. Andei por um tempo adentrando cada vez mais na escuridão até que comecei a ouvir o que me pareceu um rio.
- Está logo a frente, acho bom eu descansar um pouco antes de continuar, minhas pernas estão doendo muito e...- parei de falar pra conferir se ouvia alguma coisa mas tudo parecia calmo, passei a lanterna pelo local com medo e me sentei na margem do pequeno rio.
Era um rio belo e cristalino que seguia seu curso tranquilamente, sem se importar se havia pedras em seu caminho, até agora ele havia sido a única coisa que tinha uma aparência realmente "viva" naquele misterioso local.
Passei o que me pareceu 30min descansando e quando ia me levantar para continuar em frente, ela apareceu novamente, seus olhos amarelos brilhavam e exprimiam ódio, ou desespero. Quando ela me viu, diferente das outras vezes, não exitou em avançar, muito pelo contrário, correu em minha direção como um lobo faminto atrás de sua presa, um momento de desespero/sorte e eu acabo por escorregar na margem do rio, caindo e sendo arrastado pela correnteza.
Por pouco não me afoguei, fui carregado pra muito longe daquele trecho, tanto que nem na caverna eu me encontrava mais. O rio passava por dentro da montanha cavernosa e continuava seu curso por uma floresta morta que conseguia ser ainda mais sombria que o primeiro cenário, a correnteza por algum motivo era mais forte dentro do que fora da caverna, e por conta disso eu consegui me segurar em um galho grande de um tronco curvado sobre a água.
Ao sair do rio eu percebi que havia um corte longo e raso em minha perna, não doía tanto, talvez devido à adrenalina imposta a mim naquela situação de terror. Eu só queria ir pra casa, mas não fazia idéia de como.
- Talvez... Talvez se eu seguir o curso do rio eu encontre uma cidade, ou quem sabe um pequeno vilarejo, ou... ou mesmo uma casa, pelo que eu sei as pessoas costumam criar casas perto de rios devido à fonte de água pra animais e plantações !
A idéia de encontrar alguém me animou um pouco, e eu sabia que se continuasse por ali, logo aquela criatura me encontraria novamente, eu não tinha mais opções, então segui o curso do rio por horas à fio até cair novamente inconsciente.
Quando recobrei completamente os sentidos, me dei conta de que havia alguém mais adiante na margem do rio, parecia uma mulher vestida com um capuz vinho com várias rosas gravadas de mesma cor porém com elevações mais salientes que o capuz em si, ela carregava um cesto trançado em fitas de ébano com seu braço esquerdo enquanto colhia algo com o direito. Parecia uma moça de fazenda comum, ao menos até o momento em que eu consigui ver o seu rosto e o segredo que seu capuz escondia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Na escuridão " O Medo À Espreita "
Horror"...Eu peguei a lanterna e a faca que estavam ao meu alcance bem lentamente, sem tirar os olhos daquela aberração, quando as alcancei eu sai correndo e entrei pela pequena porta do meu quarto na esperança de encontrar uma escada que me levasse ao só...