6°- Aparição

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Me encolhi na cama na vã esperança de me convencer que tudo não passava de ilusão, mas não, eu a tinha visto, sentia que ela era real. O desespero percorria minhas veias, mal conseguia me mover até que ouvi a pequena janela de pentágonos do sótão se abrir, ela se abria lentamente fazendo seus rangidos estridentes ecoarem por toda a residência.

Passos... Mais passos... Eles descem escadas... Uma porta se abre... "De novo não, de novo não", mais passos.

- Pa...pararam !?- sussurrei tremendo enquanto gotas de suor escorriam pelo meu rosto.

Era a primeira vez que ouvia tais passos durante o dia, isso só piorava ainda mais minha situação, agora nem mesmo com os poucos raios de luz emitidos pelo sol eu estaria seguro.

Apesar da mudança de turno, tudo estava acontecendo exatamente como na noite anterior, então eu poderia imaginar o que viria a seguir, "algum barulho, e em seguida ela some", ao menos foi o que pensei. Era como se eu estivesse sendo torturado psicologicamente por um loop repetitivo, me levantei da cama bem devagar e fui até a porta.

Cheguei perto o suficiente para ouvir a respiração falha e rouca emitida por "ela", aquela coisa não era humana, não podia ser. Me abaixei para olhar pela fresta entre o chão e a porta, mas ao encostar os joelhos na madeira envernizada, uma rajada de vento bateu forte contra minha janela fazendo-à bater bruscamente na parede.

- Droga, que susto !!!- Exclamei, esquecendo por um momento da aparição do outro lado.

Fui até a janela e a fechei, garantindo que estaria bem trancada para que o mesmo incidente não ocorresse novamente. Ao travar a pequena janela, uma leve batida na minha porta pode ser ouvida, me alertando de que, o que quer que estivesse ali, ainda não tinha ido embora.

Eu entrei em pânico, sabia que não tinha saída, não tinha pra onde correr, uma segunda batida soa ao vento, pouco mais forte que a primeira, eu sabia que se não fizesse algo, "ela" iria entrar, na terceira batida eu me enfiei debaixo da cama buscando de todas as formas possíveis não fazer nenhum barulho.

O farfalhar das batidas de meu coração entoavam com as gotas de chuva a se fragmentarem contra a janela, então a maçaneta rodou, lentamente, e o rangido apavorante novamente percorreu as paredes de meu quarto. Eu podia ver apenas a sola de seus pés, extremamente magros e pálidos, a caminharem pelo quarto. Tal qual os mortos uma aura fria e sombria exalava de sua presença e abraçava o local, me sentia encurralado, o menor barulho representaria minha sentença.

"Ela" parou justamente em frente à minha cama, eu tinha certeza que havia me descoberto, lágrimas escorriam pelos meus olhos enquanto eu me preparava para o pior, mas por algum motivo, aquela coisa ficou lá, parada, sem se mover, o que ela estava esperando ?!

A sombria aparição se voltou para a pequena porta ao lado da cama, batendo com suas unhas contra a mesma, relembrando as batidas que eu havia ouvido noite passada. A pequena porta se abre aos lentos movimentos daquela criatura, que entra pelo o estreito corredor batendo a porta atrás de si fortemente.

"O que tá acontecendo comigo ?!!"

A sensação de vulnerabilidade invadia por completo toda a estensão de meu corpo, aguardei por um tempo, para ter certeza de que ela não voltaria e tentei sair de casa, mas a rua, devido à forte chuva, mais parecia um rio de água suja e seria perigoso de mais sair assim, Clara com certeza não viria, estava ilhada em sua residência assim como eu e se continuasse assim meus pais não chegariam naquela noite como combinado por causa do temporal, pra piorar ainda mais a casa não tinha energia. Eu estava sozinho, ou quase sozinho.

Tudo teria sido um completo desastre se eu não tivesse encontrado uma lanterna na gaveta inferior do guarda-roupa dos meus pais, eu tinha algumas baterias também, o suficiente para a lanterna passar a noite inteira acesa, eu sentia que aquela coisa viria me visitar novamente essa noite, e não tinha certeza de que dessa vez sairia ileso.

Na escuridão " O Medo À Espreita "Onde histórias criam vida. Descubra agora