4°- Chuva e passos

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Acordei já pela manhã, bem cedo por sinal, os pássaros cantavam felizes por mais um dia de vida, a leve chuva de ontem agora salpicava suas últimas gotas sobre o gramado, a felicidade invadia meus pensamentos se mostrando em meu coração como sentimento dominante, é incrível como um belo dia pode interferir no nosso humor.

Tomei café da manhã com um cereal que tinha achado no armário e fui assistir TV até a hora da minha tia chegar, o que por algum motivo não aconteceu.

Horas mais tarde Clara bate na minha porta, ela estava a usar uma blusa no estilo top que combinava com a calça larga que ia de sua cintura até seu calcanhar, onde um delicado tênis branco finalizava seu look.

- Oi Charlie, sua tia me pediu para passar aqui e ver como você tá - Estava sorridente, ela era a portadora do sorriso mais belo que eu já tinha visto.

- Certo, mas o que aconteceu com ela ?- Perguntei, imensamente feliz por a Clara ter vindo e não a minha tia.

- Parece que seu primo acabou sofrendo um acidente e quebrando uma perna, ele está bem, mas a Mary vai precisar cuidar dele, então até seus pais chegarem sou eu quem vou cuidar de você.

"Obrigado por ter quebrado a perna primo, não que isso seja bom pra você, mas eu estou tão feliz !"

- Você sabe que eu sei me virar muito bem sozinho né Clara ?

- Umhum, tão bem que ontem quase me mata de susto - Brincou soltando novamente aquele branquíssimo sorriso - E então, vamos entrar, eu não posso demorar muito.

Ao entrarmos, Clara preparou um macarrão-de-forno de qualidade duvidosa, apesar de ser a moça mais bonita da cidade, ela não levava muito jeito na cozinha, em seguida trocou meus curativos e ficou comigo por um tempo.

Fora o macarrão, o dia correu perfeitamente bem, na verdade até melhor do que eu esperava, e como combinado meus pais chegariam amanhã ao anoitecer, isso se não ocorresse nenhum imprevisto como ocorre na maioria das vezes.

A noite cobria de negro o céu gélido obrigando as pessoas daquela pequena cidade a acenderem as luzes de suas casas, 
não diferente, eu acendi as luzes da sala e cozinha me sentando em seguida na pequena mesa em frente à janela para observar o movimento do lado de fora.

Fiquei sentado por vários minutos, as nuvens novamente derramavam suas lágrimas cristalinas, que davam às cores presentes naquela paisagem, um tom leve de quietude e melancolia. Tudo permanecia tranquilo até que por volta das 21:20hrs um barulho novamente me chama a atenção, um diferente do da noite anterior.

- Batidas !!- Sussurrei pra mim mesmo enquanto tentava ouvir de onde vinham.

Do segundo andar outra vez. Me privei de subir lá novamente, pois me lembrava da bagunça de ontem, que tinha ocorrido por minha causa, então resolvi esperar até que o barulho cessasse por si só, e realmente cessou, ao menos até a hora em que eu me deitei.

Com todas as luzes apagadas e já deitado na cama, o barulho novamente me veio aos ouvidos, dessa vez muito mais alto e perto do que antes, eu tremia por debaixo das cobertas. Lá fora, o barulho de chuva batia forte contra minha janela, se misturando às batidas, que por sinal vinham de uma porta pequena que existia ao lado de minha cama, porta essa que, em meus pensamentos, davam acesso às escadas do sótão.

Me levantei com cuidado e encostei o ouvido na porta, mas como se sentisse minha presença, o ruído simplesmente cessou, continuei com o ouvido colado à parede e então comecei a ouvir algo arranhando do outro lado da porta, se afastando cada vez mais. De arranhado o barulho se torna passos que sobem escadas... uma porta se abre mais ao fundo e os passos continuam... descem outra escada... outra porta se abre, dessa vez no fim corredor, duas portas ao lado do meu quarto... mais passos, porém agora se aproximando, eu me jogo debaixo das cobertas como se elas fossem minha proteção.

Quando me dei conta, a "coisa" responsável pelos barulhos estava parada na porta do meu quarto, eu podia ver sua sombra por debaixo dela, parecia bem grande, e ali ela ficou imóvel por um bom tempo, até que um relâmpago resoou fazendo a casa tremer e ao voltar minha atenção novamente à porta a sombra simplesmente havia desaparecido.

"Será que foi embora ?" pensei com lágrimas nos olhos, por um momento eu realmente pensei que algo horrível fosse acontecer, temi gritar pois pensei que isso poderia alertar aquela estranha presença, e também porque eu iria acabar causando uma confusão outra vez.

Após a aparição, eu passei parte da noite acordado, alerta a tudo, com medo do que se escondia pelos cantos, em meio às sombras. Fiquei perdido em meu medo até que o sono vencesse a luta, me levando novamente ao breu de meus sonhos.

Na escuridão " O Medo À Espreita "Onde histórias criam vida. Descubra agora