Capítulo 10

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Os dois passaram o caminho todo em silêncio, Arthur entendia que algo havia acontecido e começou a se preocupar com Matt, porém respeitou o silêncio do garoto e continuou a corrida até chegarem na colina que era um local tranquilo.

Ainda haviam alguns alunos circulando pela escola e arredores, porém ninguém ia para as colinas, Matt costumava sentar ali com seus amigos para passar o tempo e apreciar a brisa.

A colina era alta, não tão íngreme, mas ao subir era fácil de se cansar. O gramado estava um pouco alto, chegando até o alto de suas canelas, tinham várias flores amarelas espalhadas misturadas com alguns dentes de leão que balançavam e soltavam suas sementinhas.

Matthew ofegante jogou-se na grama macia, deitando de braços e pernas esticados formando uma estrela. Arthur sentou-se ao seu lado apoiando-se em seus braços, respeitou o silêncio de Matt e ficou admirando a paisagem do sol que começava a se pôr no horizonte. Onde estavam era possível ver o fundo do castelo que era a escola, cheio de torres e pontes interligando as cada uma, também era possível ver a gruta e a praia com pedrinhas.

Arthur fechou os olhos aproveitando o restante de energia que o sol estava lhe dando, respirou fundo, sorriu e deitou-se também apoiando sua cabeça em seus braços.

- Hoje aconteceu um negócio estranho comigo. – Disse Matthew.

- O que?

- Espero que não me ache louco, peço que não me julgue.

- Já estou julgando.

Matthew pausou por um momento, sentou-se, respirou fundo e logo retomou seu pensamento:

- Bom, hoje fui ao bar da Porca para ler e espairecer, mas ela não estava lá. Apenas entrei, sentei e comecei a ler. Então do nada ouvi ela gritar dos fundos junto com um estrondo alto. – Ele pausou novamente, Arthur notou que algum relato estava por vir, então se ajeitou para prestar atenção no garoto. – Quando cheguei no armazém, ela estava caída no chão e havia uma criatura enorme, de uma cor preta tipo carvão, muito magricela, com braços cumpridos, uma boca cheia de dentes finos. Não sei o que era aquilo.

Arthur não falou nada, apenas ajeitou-se novamente e continuou prestando atenção em Matthew, que continuou seu relato:

- Em certo momento, a criatura apontou pra mim e gritou com a sua voz! Gritou por socorro!

- Uau... Isso é pesado. – Respondeu Arthur. – Está tudo bem com Grulha?

- Sim, espero que sim. Depois do grito da criatura, ele sumiu no meio do ar! Foi bizarro demais...

Novamente os dois ficaram em silêncio, somente o vento e mar faziam barulho enquanto Matt, ansioso, olhava para a grama que se mexia e Arthur concentrava-se no movimento que fazia com suas mãos.

- Pensei que eu estava vendo coisas. – O mago novato voltou a dizer ainda olhando para suas mãos. – Hoje mais cedo, estava em meu dormitório estudando, ouvi um grito de socorro muito parecido com a sua voz, então corri para a porta e era uma criatura como essa que você descreveu, porém ele se arrastava com muita dificuldade.

- Não acredito nisso... – Respondeu Matt.

- Então a criatura se arrastava, logo bati a porta para pegar meu livro, mas quando abri ela não estava mais lá.

Parece que eles gostavam de ficar em um breve momento de silêncio entre uma informação ou outra. Mas esse "breve momento" se estendeu um pouco mais, os dois sentiam que algo estava acontecendo, mas não sabiam como continuar a conversa ou até mesmo como sentir que eles compartilharam do mesmo medo horrendo. De ver aquela criatura de aparência inexplicável surgir e gritar por socorro com suas vozes:

- Arthur, sinto que algo vai acontecer. – Disse Matthew levantando o olhar para o jovem mago.

- Você é dissimulado, – Respondeu Arthur com tom de brincadeira. - Ainda estou te julgando.

Contos da Estrela do Norte - O Sol e a LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora