6. physical

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Não importa o que aconteça, nos últimos tempos, aparentemente, a única coisa que me servia como refúgio era o celular. Rolar a página inicial parecia algo importante pra mim, mas abrir meu aplicativo de mensagem, mesmo sem nenhuma notificação, era essencial.

Ok, devo admitir, isso é ridículo, mas depois daquele dia no parque  com Jimin, eu tenho aguardado alguma mensagem sua, exceto pelo fato de que ele, em seus vinte e poucos anos não tem um celular. Como alguém nessa idade não tem um aparelho como esse em minha mão? Passei a me questionar.

Se não tinha nenhuma chance de entrar em contato com ele, como irei ter certeza que o verei novamente pessoalmente? Ele pareceu um cara tão legal comigo que quero o conhecer mais, só não queria me sentir dessa forma com ele, como se ele estivesse deixando claro que não quer vínculo nenhum.

O dia estava bem agradável e ameno, ideal para uma caminhada e com sorte, mais uma chance de encontrá-lo no parque depois de uma semana. Não quero depender emocionalmente de Jimin, quero ser sincero em meus sentimentos, mesmo sendo recente. Eu estou me recuperando aos poucos.

- Jungkook? - Me surpreendo por Jimin me chamar. Perto de uma árvore, o garoto se apoiava ao tronco e acenava na minha direção. Ele vestia roupas pouco largas e fofas, uma calça de moletom e uma blusa de manga comprida. O lugar estava deserto, eram só nós dois ali.

- Jimin! Como você está? - Ele sorriu e eu me aproximei dele, invadindo a grama.

- Estou bem e você? - Assinto.

- Estou ótimo. Eu... Eu de alguma forma esperei suas mensagens aparecerem no meu celular, mas elas nunca chegaram. Queria conversar mais com você. - Ele riu baixinho.

- Pronto, você está conversando comigo agora, o que quiser saber, estou aqui, só perguntar. - Sorrio.

- Mas você entende o que quero dizer, certo? Pra mim mensagens são muito importantes. - Ele sorriu fraco dessa vez.

- É, mas acho que você deva dar prioridade ao contato físico, entende? Esse olho no olho que estou tendo com você é tão importante, Jungkook. Gosto do jeito como me olha, me observa tão atentamente. Faço o mesmo com você, caso não tenha notado. - Assinto.

- Eu notei sim, mas por que não ter um celular?

- Porque não, não é importante pra mim ter um aparelho grudado à minha mão, digitando com meus dedos de forma frenética uma mensagem evasiva se posso olhar dentro dos seus olhos e o efeito ser bem melhor do que através de uma tela. - Fiquei estático, não sabia mais o que dizer para ele. Me senti inútil por ser tão dependente daquele aparelho, o peguei e coloquei dentro do meu bolso, refletindo.

- Tá tudo bem? - Sorri, afirmando. - Me perdoa por soar um pouco...

- Você está certo, relaxa, não se desculpe eu... eu gostei do que disse. - Jimin sorriu largo. Seus olhos brilharam.

- Fico feliz então. - Houve uma pausa, então ele prosseguiu.

- Qual é sua comida predileta? - Olhei, confuso.

- O quê? Como assim? Assim do nada? - Ele riu, fechando os olhos dessa vez. Fofo.

- Isso, assim do nada, só fiquei curioso.

- Pizza.

- Sabia, também amo! Qualquer dia vamos comer juntos, eu gostaria. - Olho para ele, na direção de seu rosto. É tão bonito e bem detalhado, fiquei alguns segundos admirando até que sua voz me chama de volta à realidade. - Oi? Tá tudo bem por aí? Terra chamando. - Dei risada.

- Desculpe, só... só estava... É...

- Me olhando?

- Admirando. - Sorrio e ele olha para os próprios pés, envergonhado. - Desculpa se eu pareço óbvio demais, é que você... me deixa sem jeito, mas enfim, respondendo à sua pergunta, eu também quero comer pizza com você.

- Ótimo! Depois marcaremos!

Sentamos na grama, um do lado do outro.

- Você já notou que às vezes nem precisamos ir tão longe para encontrar algo que nos faz feliz? - Jimin me questiona, de repente.

- O que quer dizer com isso?

- Que a felicidadea gente encontra nessas coisinhas, sabe? - Ele me analisa e procura meu braço, para tocá-lo. - Seu coração já se aqueceu com essas coisinhas?

- Que coisinhas, Jimin?

- Ah, você sabe o que eu estou dizendo, essas coisinhas que acontecem e nosso coração, mente e alma parecem completos. Algo ou alguém com certeza já te fez sentir assim.

- Sim, já. E esse alguém... Eu realmente o amei demais. - Olhei para ele, seus olhos estavam marejados. - Ah Meu Deus! Me perdoa, não foi minha intenção te fazer chorar. - Ele sorriu enquanto as lágrimas caíam e rolavam suas bochechas. Virei-me para ele e com meu polegar, as sequei.

- Fica tranquilo, só fiquei emocionado pelo o que disse, isso é muito bonito, Jungkook. Essa pessoa deve ter sido alguém de sorte.

- Sim, éramos o casal. Eu o via como meu marido. O destino achou melhor que... ele partisse. - Jimin assentiu, fungando. - Te disse sobre ele na última vez que nos vimos.

- Sim, eu lembro que você me contou e sinceramente, dá pra ver no seu olhar como você ainda o ama. - Olhei sério para ele.

- Sério? - Jimin assentiu.

- Eu acho que é natural, já que vocês eram tão ligados e apaixonados, faz parte de você e isso nunca vai mudar. - Suspirei.

- Mas superar e seguir em frente também é importante.

- Com toda certeza, Jungkook. - Jimin apoiou sua cabeça em meu ombro e em seguida procurou a minha mão e a segurou bem forte. Sua pequena mão envolveu-se a minha, ela estava tão quentinha que eu não queria que aquele momento acabasse tão cedo.

Realmente, o contato físico era insubstituível.

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