Quando acordei naquele dia sabia que muita coisa mudaria na minha vida. Eu sei que vai levar um tempo, vou ter que me ajustar à nova realidade, mas não tenho saída e tenho certeza que Tae me odiaria se me visse assim, tão dependente e me culpando diariamente, mesmo depois de tanto tempo.
No caminho do trabalho eu sentia um novo ar, uma confiança e um positivismo desconhecido. Não sei se estava tentando forçar todo esse sentimento de "está tudo bem", ou se eu finalmente estava encarando isso tudo de outra forma.
Eu só teria certeza depois de realizar todo o apoio psicológico, de enfrentar diariamente tudo aquilo que carrego faz um tempo.
Assim que desço do ônibus, sinto o ar batendo em meu rosto, meu cabelo cai por sobre meus olhos e é quando perco o equilíbrio, caindo sentado no chão, deixando cair minha pasta do braço.
Afasto meu cabelo dos olhos e noto que na realidade, diante de mim, de pé, há um jovem sorridente, de cabelos compridos tingido de platinado. O vento faz com que seu cabelo fique esvoaçante e por um tempo admiro a cena da sua franja invadindo seus olhos. Sua pequenina mão surge na frente de meu corpo para que eu tenha um auxílio para me levantar e eu o faço. Aperto-a, permitindo sentir uma eletricidade inexplicável por sobre minha mão e o observo melhor. Seus olhos estão completamente fechados pelo sorriso que demonstra e ele parece sem graça pelo o que aconteceu.
— Ei! Me desculpe! Não foi minha intenção trombar em você, acho que hoje não é meu dia, quase tropecei na rua de trás no caminho ao trabalho. — Sua voz é suave e fina, como de um anjo. Poderia ouvi-la o dia todo.
— Está tudo bem, ok? Não se culpe. Espero que você tenha um ótimo dia! — Aceno em sua direção.
— Ei! Qual o seu nome? — Ele me questiona assim que fico de costas, quase seguindo para meu destino. Retorno.
— Jeon Jungkook e o seu? — Ele sorri novamente.
— Que nome bonito! Me chamo Park Jimin. Bom, espero que possamos nos encontrar novamente. — Assinto e sorrio.
— Até mais! — Respondo.
— Até! - Ele devolveu, empolgado.
Não sei o que realmente aconteceu agora, mas de uma coisa eu sei, me arrependi de não ter anotado seu telefone.
Observei-o com tanta atenção que fiquei confuso se ele percebeu a tensão no ar. Às vezes penso o quão patético pareço.
A beleza de Park Jimin é tão singular. Seu rosto é delicadamente moldado, sua mão tão fofa e pequenina... Me estranhei pelo meu comportamento diante do garoto.
Suspirei e enfim entrei no prédio da empresa, pronto para mais um dia.
Meu trabalho rendeu de forma bastante positiva, mas isso não anula o fato de que ainda há algumas falhas, fora que ainda vou conversar com Namjoon.
Conseguindo um intervalo no trabalho, me encaminhei para a sala de apoio e me surpreendi por somente eu estar ali. Como apoio psicológico, achei que seria em grupo, mas me enganei.
— Olá Jeon Jungkook! — Surpreendi-me por uma voz na sala que aparenta tão organizada. — Sou Kim Namjoon. — Um homem jovem, alto e tão bonito aparece com um copo d'água em mãos ajeitando seus óculos. Seu cabelo castanho bem cortado o faz ter um ar tão intimista, mas tenho certeza que vou mudar de ideia.
— Olá! Muito prazer! — Sorrio.
— Pode se sentar, Jungkook. — Ele me oferece a cadeira vazia em frente à sua mesa e eu me acomodo. — Fiquei sabendo sobre o que aconteceu com você e estou disposto a te ajudar no que eu puder. Com o apoio psicológico, espero que você retorne bem ao trabalho.
— Sim! É o que eu espero também. — Ele se sentou à sua mesa e pareceu muito interessado sobre o que eu tinha a falar.
— Pode falar, tudo o que te aflinge e que está te incomodando, acho que o primeiro passo para se sentir mais tranquilo é desabafar, colocar isso tudo para fora. — Assinto.
— Bom, eu sou gay e perdi meu namorado há quase um ano e me culpo diariamente pelo o que aconteceu com ele, porque sei que poderia ter evitado e ele ainda estaria aqui. Sei que a vida continua, mas em um relacionamento de dois anos, praticamente íamos morar juntos, parece tudo tão difícil de superar. Tenho me dado bem no trabalho, mas acho que me encher desses pensamentos novamente está me destruindo por dentro e sei que meu namorado jamais gostaria de me ver assim... – Dei uma pausa para me recompor, mas fui surpreendido por Namjoon.
— Uma perda nunca é fácil de se encarar, ainda mais por ser alguém tão próximo, mas eu sempre tive um pensamento sobre isso. A pessoa que você amava jamais gostaria de te ver dessa forma, se autodestruindo. Imagina que ele estivesse aqui, será que ele gostaria de ver essa versão desse Jeon Jungkook tão desconhecido? — Ele faz uma pausa. — Muitos dizem para que a gente siga em frente, porque a vida continua, mas isso é tão difícil e pode parecer impossível, pelo menos é o que você deve ter pensado. Só que tem pessoas ao seu redor, tem uma vida acontecendo aqui e agora, e a dor da saudade sempre vai existir, mas é importante lidar com ela, porque todo o passado com o seu namorado, todas as memórias, elas nunca vão parar de existir e nem mesmo ficarão menos vívidas, o que você precisa ter em mente é equilibrar tudo isso e não deixar que isso te abale e te consuma. Como você lida com sua família? — Fiquei absorvendo aquelas palavras e entendi o que precisava fazer. Encontrar equilíbrio.
— Atualmente? Da pior maneira possível, só me afasto deles. — Namjoon negou com a cabeça.
— Você percebeu até onde isso chegou? Vamos fazer um pequeno teste. Tente se aproximar e se preocupar com aqueles que você compartilha o tempo, se mora com eles, se demonstre interessado nas atividades que cada um faz, procure fortalecer esse vínculo novamente, ok? — Assenti, aliviado por ouvir tudo aquilo. Como um completo estranho pode me ajudar tanto assim?
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Nota:
É importante ressaltar nesta obra que o papel de Namjoon é ser um apoio psicológico, não um profissional na área, até porque não posso escrever sobre algo que não sei ou que não tive contato. Ele tem como objetivo, junto a um grupo de pessoas na empresa, de prestar assistência àqueles que mais precisam nos momentos mais difíceis.

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We Are In Love
Fanfiction[CONCLUÍDA] A vida de Jeon Jungkook muda drasticamente após perder uma das pessoas que ele mais amava, seu namorado. Se culpando diariamente pelo ocorrido, volta a morar com os pais e o irmão mais novo. Assim que tudo parecia começar a caminhar em s...