A primeira aula que o quarto ano tinha na manhã do dia seguinte era uma aula prática de Biologia. Ou seja, os alunos não deveriam ir para a sala de aula como de costume, mas sim para o laboratório, onde tomariam anotações e analisariam alguns materiais selecionados pelo professor. Já eram praticamente sete e meia da manhã e, aos poucos, os alunos chegavam ao laboratório ainda sonolentos, usando seus uniformes regulares e um jaleco branco por cima. Todos carregavam seus cadernos e estojos e aguardavam, em pé e amontoados, que o professor da matéria, sr. Benjamin, desse início à aula. Enquanto não começava, o laboratório era tomado por conversas paralelas. Um dos grupos de amigos que conversava entre si, mas sem a preocupação de serem escutados, era Diego, Giovanni e Tomás.
-Quando você ia contar pra gente que tava de rolo com a Mía, parceiro? -Tomás perguntou a Diego.
-Pois é, dá pra acreditar? Somos os melhores amigos e ficamos sabendo por último. -Disse Giovanni um pouco chateado.
-Por último, nada. -Diego retrucou, estampando um sorriso presunçoso no rosto. -Nós não tínhamos mesmo um rolo antes, só que era inegável a atração que nós dois tínhamos um pelo outro, então resolvemos dar uma chance. -Ele disse como se fosse óbvio. Parecia que já havia ensaiado bem a sua narrativa de mentirinha. Giovanni e Tomás deram tapinhas no braço do amigo, felicitando-o por aquela "conquista". -Sabe como são as garotas, não resistem ao papai aqui.
Roberta, que estava próxima aos rapazes, sentiu vontade de vomitar ao escutar a fala de Bustamante. Não era possível que um arrogante como aquele pudesse chamar Mía Colucci de namorada. Ainda que Roberta tivesse suas próprias críticas sobre alguns comportamentos de Mía que ela tinha conseguido conhecer até então, ela não conseguia evitar sentir um forte impulso de livrar a loira do rapaz. Se esse sentimento era o mais puro e genuíno ciúme, Roberta ainda não era capaz de dizer. Mas o fato era que, desde que soubera do romance entre os dois, ela não conseguia tirar Mía de sua mente, muito menos depois do beijo intenso que trocaram no dia anterior. Roberta percebeu que estava mesmo em apuros depois de passar a noite em claro, revivendo o calor que sentiu em seu corpo com os mais simples toques de Colucci. Seu coração acelerava sempre que se lembrava da cena, ficando cada vez mais claro para Pardo que, em seu interior, cresciam sentimentos por Mía que eram bem distintos da aversão que "devia" sentir. Isso a deixava em um grande impasse: Roberta não sabia se era pior estar trancafiada em um internato cheio de bonequinhas de plástico ou estar se apaixonando sem precedentes por uma delas.
Mía, que até então não estava no laboratório, entrava agora acompanhada por Celina e Vick. Roberta chegou a prender a respiração quando a viu. As duas cruzaram o olhar por um leve instante e foi o suficiente para que sentissem como se o mundo tivesse dado uma pausa. Havia muito que estava entalado em suas gargantas desde à tarde anterior, mas aquela não era a hora nem o local para tratarem disso. Uma voz chamando Mía cortou o contato visual entre as duas.
-Oi, gatinha. -Diego cumprimentou-a com um beijo no rosto e ela sorriu forçosamente. -Não vai dar bom dia pro seu namorado?
-Bom dia, amor. -Ela se esforçou para manter a pose. Alguns colegas fizeram sons de "aw" com a demonstração de afeto dos dois e, mais uma vez, o casal virou assunto de todos ao redor. Roberta virou de costas para a cena abruptamente.
-Essa porra de aula não vai começar nunca, não? -Ela perguntou entredentes à Lupita e Josy que estavam ao seu lado.
-Bom dia pra você também, flor do dia. -Josy zombou da amiga e depois checou seu relógio. -Relaxa, ainda faltam alguns minutos.
Josy e Lupita ainda estavam com a pulga atrás da orelha quanto à visita de Mía ao dormitório delas do dia anterior. Roberta não havia lhes dado muitas explicações convincentes. Falou que Colucci estava cismada com ela desde a brincadeira que fizera na apresentação de dança da garota e que agora não a deixava mais em paz, procurando sempre um jeito de arrancar uma confissão de que havia tido um dedo seu naquela catástrofe. Isso não era exatamente uma mentira, no entanto, Lupe e Josy consideraram uma implicância exagerada. Josy reafirmou à Roberta que, se Mía voltasse a perturbá-la, poderia contar com sua ajuda para dar o troco à loira. Lupita reprovou a reação "combativa" das duas, mas disse que estava ao lado de Roberta para o que fosse.
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Quiéreme a Rabiar
FanfictionContrariada pela decisão de seus pais, Roberta Pardo, uma adolescente de dezesseis anos, é mandada para o internato Elite Way School, onde deve sobreviver seus últimos três anos de escola em meio ao que mais detesta: ricos esnobes e autoridades pres...