Roberta passou todas as horas de sua detenção pensando sobre as cartas anônimas. Ela ainda não tinha conseguido digerir todos aqueles ataques, muito menos o que diziam a respeito de sua mãe e o pai de Mía. Ela não se atreveu a cogitar que aquilo pudesse ser verdade, mas sabia que, desde a separação dos pais, o que mais havia de fofoca na mídia era a suposição de que o motivo do divórcio de Alma Rey era que ela estava tendo um caso. Roberta repetia mentalmente que isso não passava de mentiras, do assédio costumeiro da mídia mexicana. Mas ler aquilo nas cartas anônimas fez com que ela ficasse com a pulga atrás da orelha. Roberta sabia que sua família era problemática, mas não acreditava que sua mãe poderia chegar a tanto. Ela não podia chegar a tanto.
Ler aquela "notícia" nas cartas anônimas deixou Roberta desconcertada, muito mais do que havia ficado ao ler os xingamentos direcionados para si. Bem ou mal, o autor misterioso havia sido certeiro ao descobrir que Mía não estava namorando Diego e que ela e Roberta estavam se encontrando às escondidas. Como será que ele (ou ela) havia chegado àquelas conclusões sobre os pais de Mía e Roberta? Quem era aquela maldita pessoa e como ela conseguia estar em vários lugares ao mesmo tempo?
As horas nunca tinham se passado tão tortuosamente para Roberta como naquela tarde de detenção. Ela não tirava os olhos do relógio da parede, que estava pregado acima da professora Hilda, a fiscal da detenção daquele dia. Quando o relógio finalmente chegou às 17h, Roberta saltou de sua cadeira em um pulo e foi a primeira a pegar seu celular de volta com a professora e a ter o papel de liberação da detenção assinado por ela. Ela olhou rapidamente o visor do seu telefone e viu pelo menos umas 16 notificações de mensagens de Mía, sem contar, é claro, todos os outros nomes de seus amigos que mandaram mensagens de apoio à ela depois da carta anônima. Roberta ficou aflita, sabendo que teria que dar alguma explicação aos amigos eventualmente: ou teria que mentir sobre sua relação com Mía ou então assumir que o que as cartas diziam era verdade. Ela tentou não pensar tanto nisso e apenas soltou um suspiro profundo para esvaziar a mente. Sua cabeça parecia que poderia explodir a qualquer momento de tanto que pensava.
Roberta caminhou até a direção para entregar seu último papel de liberação da detenção. Todo dia era assim: ela terminava a tarde de detenção e entregava o papel assinado pelo professor fiscal do dia na mesa de Alice. No entanto, quando chegou na recepção, Alice não estava lá. Não sabia se era pelo fato de ser sexta-feira que Alice poderia ter saído mais cedo, mas, em sua ausência, Roberta resolveu ir à sala de Pascoal para deixar o papel assinado em cima da mesa do diretor. Roberta bateu à porta, mas não houve resposta. Então, ela empurrou a maçaneta cautelosamente e, para sua sorte, a porta estava mesmo destrancada e não havia ninguém lá dentro. Roberta deixou o papel em cima da mesa e depois deu uma olhada ao redor da sala de Pascoal, curiosa. Lá estava ela sozinha, na sala em que se encontravam todos os documentos, todos os dados de todos os alunos... Não inventa, Roberta, ela pensou consigo mesma, tentando afastar de si a tentação de vasculhar os documentos de Pascoal. Você acabou de sair de uma semana de detenção, já tá em uma corda bamba com esses inspetores imbecis... ei, espera aí.
Roberta notou que a porta que havia nos fundos da sala de Pascoal - logo ao lado da estante de livros, atrás da sua escrivaninha - estava entreaberta. Nunca tinha reparado nessa porta antes...
Roberta aproximou-se e abriu a porta lentamente. Ela dava para uma saleta, pequena e mal iluminada, onde havia uma cadeira, mesa e uma quantidade enorme de telas com as imagens das câmeras de segurança do Elite Way School. Ah, então é por aqui que o Hitler faz a vigília da prisão.... Interessante, Roberta pensou. Ela escaneou a sala com os olhos e notou algo de incomum. Havia em cima da mesa com as telas, um notebook aberto em uma pasta de documentos. Ao lado, um pacote de salgadinhos indicava que alguém estava ali não fazia muito tempo. Roberta olhou para trás e garantiu que estava mesmo a sós. Ela aproximou-se do computador sorrateiramente e viu que na pasta de documentos haviam vídeos nomeados com "Mía 1", "Mía 2", "Mía e Roberta", "Alma", entre outros títulos suspeitos. A boca de Roberta abriu-se formando um perfeito "O". Ela ficou indignada com a ideia de Pascoal passar seu tempo livre espionando os alunos, guardando trechos das gravações de cada um... Mas isso não faz o menor sentido, ela pensou. Foi aí que um estalo fez com que Roberta juntasse todas as peças daquele quebra-cabeças em questão de segundos. Ela ficou tentada a abrir os vídeos e ver por si mesma o que estava ali - especialmente aquele com o nome de sua mãe -, mas o barulho de um tamanco ao fundo fez com que ela saísse imediatamente da saleta. Ela encostou novamente a porta e, quando estava prestes a sair da sala do diretor, foi surpreendida por Alice que arrumava sua mesa para ir embora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quiéreme a Rabiar
FanfictionContrariada pela decisão de seus pais, Roberta Pardo, uma adolescente de dezesseis anos, é mandada para o internato Elite Way School, onde deve sobreviver seus últimos três anos de escola em meio ao que mais detesta: ricos esnobes e autoridades pres...