Capítulo 30 - Family, I'm in your destiny

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Mía estava sentada na sala de jantar, assistindo em silêncio os empregados colocarem a mesa para a ceia de mais tarde. Desde que havia chegado da escola para passar o final de semana em casa, ela ainda não havia tido tempo de conversar com seu pai, que entrava e saía de reuniões em seu escritório à tarde inteira, ainda que fosse pleno sábado.

Sua vida naquela casa sempre havia sido assim, solitária. Seu pai nunca estava presente, mesmo quando se encontravam debaixo do mesmo teto, e sua mãe, já falecida, havia deixado um pouco de melancolia em cada canto daquela casa, como uma espécie de rastro de sua memória.

Mía era muito nova quando tudo aconteceu. Sua memória, vaga, só retinha alguns poucos elementos dos dias que sucederam a morte de sua mãe. Suas lembranças eram como imagens espaçadas...

Um acidente.

Em um dia de chuva, sua mãe pegou o carro para ir até o trabalho e nunca mais voltou.

Um velório em casa.

Mía havia se trancado no quarto e pedido para que só a acordassem quando a mãe estivesse chegado do trabalho.

Uma bronca.

Depois de perguntar insistentemente sobre sua mãe, Franco deu um berro. Já disse que ela não vai mais voltar! Você está me cansando, Mía! Não vê como eu estou exausto? Marina não vai voltar e nunca mais falaremos disso.

E assim foi feito.

Mía não teve mais coragem de perguntar, então os anos se passaram e ela apenas suportou crescer com esse vazio no peito. Enquanto isso, Franco começou a se enterrar cada vez mais em trabalhos para esquecer seus sentimentos e, com o tempo, trabalhar havia se tornado a única coisa que ele sabia fazer. Não tinha quase nenhum amigo, apenas sócios e colegas. Namoradas, então, nunca mais voltou a ter. Logo, era difícil para Mía conviver com seu pai no dia-a-dia. Ela queria vê-lo pleno, feliz, mas como isso nunca parecia ser possível, dava graças a Deus por ter entrado em um colégio feito o Elite Way School. Afinal, não havia refúgio melhor para seus problemas familiares do que o internato e seus dramas juvenis.

Enquanto Mía aguardava seu pai ociosamente, ela encarava a mesa da sala de jantar com o olhar vazio, perdido.

-Deseja algo, senhorita? -Peter perguntou, se aproximando da jovem Colucci.

-Ah, oi. Não, Peter. Obrigada.

-Por que essa carinha? Sabe que não gosto de te ver assim. -O chofer deu um sorriso doce. Às vezes ele era mais como um membro da família do que sua própria família.

-Não é nada...

Estar de volta àquela casa sempre lhe trazia uma tristeza, porém, era justo dizer que isso não resumia tudo que estava passando na cabeça de Mía naquela noite. Em suas mãos estava seu celular com a tela desbloqueada, onde podia-se ver o nome de Roberta e uma conversa vazia, em que Mía havia escrito e apagado mensagens diversas vezes ao longo do dia.

-Isso pra mim tem cara de dor do coração. -Peter lançou um olhar astucioso à loira. -Eu te conheço desde pequena, Mía. Se precisar desabafar algo, saiba que estou aqui pra te ouvir.

A primeira reação de Mía foi hesitar, mas ela olhou de relance para seu celular e percebeu que ficar sozinha com aquela angústia não estava levando ela a lugar nenhum. Então ela calculou suas palavras e sussurrou cautelosamente:

-O que você faria... -Pigarreou. -O que você faria se gostasse de uma pessoa que não consegue confiar completamente em você?

-Hmmm. -O tom de Peter era humilde, porém com a segurança de alguém experiente. -Se fosse eu, teria paciência com essa pessoa. A confiança nos outros é uma coisa que se constrói, Mía. Se você tiver paciência e carinho no dia-a-dia, você vai conseguir provar sua confiança a qualquer um. Isso, é claro, se você estiver certa de que essa é uma pessoa boa, por quem vale a pena lutar. Você tem essa certeza?

Quiéreme a RabiarOnde histórias criam vida. Descubra agora