É incrível pensar que alguém te ama. Mas descobrir que isso tudo não passava uma fantasia, é uma das piores coisas do mundo.
É uma pena que Rita não conseguisse me amar. Até tentamos começar; e duramos algum tempo. Mas não ia dar certo. O que nos sustentava era o meu amor, e um amor sozinho não suporta uma relação. Ela foi embora, acho que foi a escolha certa. . .Depois daquela noite em que ela soltou a minha mão para sempre, fiquei frio, sozinho, sem sentimentos. Isso acontece com todos, mas sempre acaba depois, o que não foi o meu caso; fiquei assim por muitos anos. Até que Tari apareceu; ela parecia a Rita, só que era como se fosse a versão certa para a mim.
Não foi na escola, foi na aula de piano. Tari era uma aluna nova, novata no piano. Ela começou meio confusa, e como eu era o único da idade dela, a senhora Gurt, nossa professora, nos juntou numa dupla; ou seja, segundo ela, nos faríamos tudo juntos. Ela disse que era melhor assim, pois a Tari era meio lenta a entender as coisas, já eu, era o contrário.
Não me incomodei com isso; não via nada de errado em ajudar Tari, ela parecia legal. De qualquer forma, sendo legal ou não, não era de meu interesse fazer algum laço com ela.
Tari pareceu aceitar isso também, parecia ficar meio tímida às vezes. O simples fato de saber disso me fazia ficar um pouco tímido também. Mas esquecíamos disso num instante, e voltávamos ao piano.Assim foram as primeiras semanas, em alguns dias, Tari teve de vir em casa para copiar algumas tarefas que ela, como sempre, esquecia ou não conseguia terminar de copiar.
Eu não me incomodava com ela, mas também não gostava dela. Para mim, ela era só alguém, um pouco diferente, sim, mas, em geral, uma garota normal. Foi numa sexta que tudo o que eu sentia mudou. . .Era a tarde, a aula de piano já acabara; mas Tari não conseguiu copiar todo o quadro de músicas novas, e, como eu era a sua dupla, ela veio pedir ajuda à mim, meio tímida, claro.
Dei o meu caderno a ela e me sentei ao seu lado, mas nem observei o seu trabalho, estava muito concentrado no jogo que jogava no celular.
Para tirar-me desta atenção, só um toque rápido de Tari foi o suficiente. Ela relou na minha perna! Como isso aconteceu? Olhei-a, surpreso e assustado levemente; ela não desfixava os olhos do caderno, mesmo assim, vi que estava corada. E, contudo, deduzi que fora sem querer. Voltei-me, um pouco envergonhado, à partida do jogo, que ainda não havia terminado.
Apesar da partida ainda estar em andamento, desconcertei-me da mesma e pulei aos pensamentos, às perguntas.
Ponderei muito sobre o último acontecimento neste quarto. Quando Tari relou-me minutos atrás, senti o antigo toque de Rita, como se ele estivesse guardado em Tari, em algum lugar. Pensei um pouco nisso, mas depois, pulei para fora dos devaneios e voltei a atenção à partida, pensando nesta sensação como algo estúpido e que não merecia tal atenção.Desde aí algumas coisas mudaram. Parei de ver Tari como uma simlples garota, comecei a vê-la com certa admiração. Ela é até que legal, pensava eu sempre quando via ela.
Este " até que " era dito apenas porque eu não tinha certeza do que sentia por ela, ou simplismente não queria aceitar. Minha cabeça estava confusa!No final de 4 meses, Tari e eu já eramos amigos e sabiamos nos entender. As vergonhas já não apareciam tanto quanto antes, nós já sabiamos que havia algo, maior até que a amizade, mas ficamos calados em relação a isso.
Faremos uma apresentação à cidade daqui alguns meses. Não é minha primeira vez, então não estou tão nervoso. Mas não para Tari; é a sua primeira vez que vai se apresentar em público. Ela pensou em desistir, mas eu não deixei-a fazer isso, e, com um sorriso doce, ela me agradeceu num abraço. Está bem, confesso, fiquei tímido naquela hora, não sou feito de pedra!
Estou à espera da apresentação para surpreender Tari. As falas já estão decoradas, mas não sei se vou conseguir falar isso no momento. Quem sabe. . .
Ainda, porém, não consigo e nunca conseguirei esquecer Rita. Foi um belo amor imaginário, fantasioso. Agora, entretanto, é o novo começo. Talvez Tari seja a Rita que dê certo. . . Basta ler o seu nome de trás para a frente. . .
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Contos Diversos - Vol 1
Short StoryConjunto de contos de diferentes gêneros. Estes serão especificados no título do capítulo.