Crônica ㅡ Cães ao preço de carros

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     Vejo, quase todos os dias, o preço daqueles cães; um absurdo!
     Todos os dias de semana passo à frente da loja de animais para ir comprar pães. De fora da loja, através do vidro transparente, é possível ver o preço daqueles animais. O mais popular são os cães; variam dentre 50 a 130 reais; da pra acreditar?!
     Sei que posso estar sendo ignorante; aliás, os cachorros podem ser de raça; mas que importa?
     Um belo exemplo do que digo é o meu próprio cão, o Chester; nos conhecemos na rua, ainda quando eu era um jovem adolescente e o Chester era um pequeno filhote. Quando vi aquele animal, sozinho, com a sua barriga magra, fraqueza ao andar, não consegui aguentar, tive de pegá-lo e levar para casa, nem que fosse apenas para alimentá-lo um pouco.

     ㅡ O que esse bicho tá fazendo na minha casa? ㅡ exclamou minha mãe, com certa impaciência. Lembro-me bem deste tom de voz alto e razoavelmente enfurecido.
     Expliquei tudo à mamãe; que havia encontrado este cão na rua e não suportei vê-lo sofrendo. Depois de muita insistência, ela disse que ele podia passar uns dias aqui, desde que eu cuidasse bem; e depois de uma semana, nós o levaríamos para adoção.
      Cuidei bem do cão; dei-lhe água e, com o meu próprio dinheiro, a ração. Uma semana passada, o nome Chester já fora dado ao cachorro. Inclusive, nós já estávamos nos entendendo, brincando e, algumas vezes, correndo pelo quintal da casa. Mas, para tirar tudo de nós, o dia chegou. Mamãe pegou a chave do carro e Chester no colo. Mas, antes que ela ligasse o motor, interrompi-a, e implorei para que não levasse Chester embora; cheguei até mesmo a chorar um pouco neste momento. Apesar de contra a vontade, mamãe deixou Chester ficar, com a exceção de não poder entrar em casa e ficar apenas no quintal; e, claro, eu teria de cuidar dele, sozinho. Mamãe ajudaria apenas na compra da ração.

     Papai não aceitou isso, queria Chester longe de casa; mas mamãe conversou com ele, não sei que mágica ela falou, mas papai aceitou Chester, embora não conseguisse tirar a cara de aborrecimento.
     Mas deu certo. Com o tempo, mamãe e papai acosturam-se com Chester; até estavam gostando dele. E, claro, e óbvio que o cão cresceu, já estava na minha cintura. Ele se tornou um ótimo cão, dava ânimo a todos da casa.
     Quando me tornei um adulto e saí de casa, logicamente, levei Chester comigo; mamãe e papai tentaram esconder, mas estava na cara que eles iam sentir muita saudade do cão que animava a casa num dia cansativo.
     Enfim, levei Chester para a nova casa e nos habitamos aqui até agora. Chester esteve menos agitado ultimamente, por causa da idade, o que não me incomodou; por que incomodaria? Estou menos agitado e brincalhão também.
     Esta é a história de Chester e eu; a forma de como nos conhecemos. E como você pôde ver, não ouve dinheiro em nada disso (exceção à ração, apenas).
     As pessoas ligam tanto para raça, e, no final, esquecem o que mais importa, o amor.

Contos Diversos - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora