Crônica ㅡ Camada branca de felicidade

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     Fazem-se 7 dias desde que a neve cai. O frio está no seu ápice. Escolas, comércios, foram todos fechados. Pessoas já não saem de casa. A situação está preocupante.
     Apesar, cientistas dizem que esta neve não é sinal do fim do mundo. Estima-se que os flocos pararão de cair daqui curtos 4 dias. O povo, bom, o povo. Metade acreditou e, a outra, entretanto, discordou plenamente.
     Na sua casa de média renda, agasalhado em seu espesso cobertor, Jefh assiste às notícias mais recentes sobre a neve em abundância do município.

     ㅡ Maldita neve! ㅡ exclamou o homem, socando o ar. ㅡ Tinha de cair logo no dia da festa de Regina?

     Regina, irmã mais nova de Jefh. Fez 6 anos hoje. A festa seria às 7 da noite, isso se a neve traiçoeira não caísse.
     Triste pela irmã, Jefh pôs-se em pensamentos tristes e sérios.

     ㅡ Pesquisas estimam que a neve pode parar de cair só na semana que vem... ㅡ dizia o repórter dentro da tela da TV.
     A cara furiosa de Jefh foi nítida, e, em seguida, sobreposta sobre a sua fúria, a tristeza. O homem, apesar de mostrar-se coração de pedra, despencou em lágrimas melancólicas. A dó da irmã era mais forte que ele.
     O rapaz até pensara em sair, mas, no pessimísmo, acreditou que suas chances eram zero.

     Poucos minutos depois que o rapaz desligou a TV, o toque de chamada do celular vibrou por toda a casa.

     ㅡ Olá! ㅡ exclamou ele, já sabendo quem o ligara. ㅡ Tudo bem por aí?
     ㅡ Mais ou menos. Regina está meio triste porque ficou sem festa ㅡ disse a mãe da mesma.
     ㅡ Passe o telefone para ela...

     ㅡ Alô. Mano? ㅡ perguntou a voz fina da criança.
     ㅡ E aí, mana! Você está bem?
     ㅡ Não! ㅡ exclamou Regina, sem pensar duas vezes. ㅡ Eu não vou ter mais festa.
     A voz tão doce de Regina estava se transformando numa voz triste de choro.
     ㅡ Calma, mana ㅡ pediu o irmão, ao reconhecer o peso da
situação. ㅡ Eu até queria passar aí. Mas a neve está atrapalhando.
     ㅡ Então eu odeio a
neve! ㅡ exclamou Regina, aborrecida.
     Jefh riu.
     ㅡ Você vai adorá-la quando você crescer!
     ㅡ Eu não acho!
     ㅡ Só espere. Mudando o assunto. Não fique triste, mana, podemos programar a festa para outro dia.
     ㅡ Não vai ser a mesma coisa!
     ㅡ Eu sei. Mas você vai gostar. Eu sei disso.

     Enfim, a neve só foi parar de cair duas semanas depois. Foram-se 14 dias de muita ânsia, tanto para a pequena Regina quanto para o irmão.
     Passadas as duas semanas, a festa de Regina fora realizada. E após uma festa cheia de brincadeiras e comida, muita comida, os amigos e familiares de Regina foram embora. Ficando apenas o irmão.

     ㅡ Ei, mana. Vem cá. Vou te mostrar que a neve é legal!
      A pequena seguiu Jefh até os fundos da casa. O mesmo acendeu a luz e, adentrando sobre a camada razoável de neve que sobrara, fez uma bolinha da mesma matéria e jogou-a, suavemente, sobre a irmã. Sentido-se desafiada, a mesma correu até a neve e tacou um monte de neve no irmão.

     ㅡ Até que neve é legal - afirmou Regina, após a guerra de neve.

Contos Diversos - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora