É, é, você não pode me quebrar, não importa o que você faça
É, você vai se sentir melhor quando admitir isso também
É, se você se der bem ou falhar, seja lá o que acontecer com você
É, você não pode escapar, não importa pra onde vá
Eu sou você, você sou eu, agora você sabe
Você sou eu, eu sou você, agora você sabe
Nós somos um só corpo e nós vamos nos enfrentar
Nós somos você, nós somos eu, isso você sabe.
(Interlude: Shadow - Suga)ʚ
"Sofrimento também vicia."
A frase escrita no último livro que leu ecoa pela sua cabeça, escorre em seu coração, se apodera de seu corpo e fica entalada em sua garganta.
É o incômodo de um cubo de gelo preso, o frio em excesso se converte em queimação e a agonia de não saber quando ele, por fim, derreterá em água, faz a sensação tornar-se mais forte. Dá a ilusão de ser mais duradoura.
Jimin não está pronto para admitir a si mesmo que há mais coisas erradas do que ele imagina.
Sofrimento é algo normal, inerente à condição humana.
Ele não sofre mais ou menos que ninguém, apenas lida de maneira diferente com isso.
Ou não lida.
— Vamos ao shopping? — pergunta Seokjin ao seu lado.
Desde um fatídico episódio ocorrido há cerca de seis semanas, a presença tanto dele quanto de Agust, que Jimin ouvia o namorado chamar de Suga e Minmin, se tornara constante em sua vida.
Ele não tinha força de vontade o suficiente para expulsá-los dali.
E, se fosse ser honesto consigo mesmo, sentia falta de interação humana sem o uso de máscaras e artimanhas.
Jimin não precisa fingir quando está com eles. Suas mentiras não são levadas a sério e, mais ainda, Agust e Seokjin parecem ter um entendimento do que se passa que vai muito além do que é possível verbalizar.
Louco pensar que saiu da Coréia do Sul e arranjou dois amigos conterrâneos logo do outro lado da Ásia.
— Fazer o quê no shopping?
— Cinema. Comida. Compras. Julgar o estilo das pessoas. — vai enumerando com os dedos.
— Podemos fazer tudo isso aqui. — Jimin rebate, apontando para a smart tv pendurada na parede à sua frente. — A gente assiste algo na Netflix, pedimos comida delivery e fazemos compras em algum site. Quanto a julgar o estilo das pessoas… Criticamos pela tv.
— Você é ridículo! — Seokjin bufa, jogando uma almofada em sua direção.
Achou ter ganho a argumentação, mas cerca de uma hora e meia depois está andando pelos corredores de mármore e ouro do shopping center local.
Agust está passando duas semanas na Coreia resolvendo pendências familiares das quais não entrou em maiores detalhes e, por conta disso, Jimin é inundado pela presença esfuziante de Seokjin sem o namorado por perto para contrabalancear.
Não é fácil dizer não ao seu hyung, ele logo aprendeu.
— O que vamos comer? — Jin questiona animado quando saem de uma loja da Pierre Cardin carregando sacolas de compras consigo.
— Vietnamita? Não aguento mais comida chinesa na minha frente. — Jimin murmura, olhos vítreos encarando sem realmente prestar atenção nos transeuntes que passam ali perto.
Está trajando preto dos pés à cabeça, o capuz do moletom está abaixado, mas um chapéu de pescador cobre seus cabelos escuros e uma máscara negra serve como escudo contra o escrutínio alheio, além dos óculos de grau de armação quadrada. Ao seu lado, Seokjin permanece sendo o mesclar de elegância e conforto. Tênis de lona, calça jeans azul clara e uma camisa rosa com um logo de campanha contra o câncer de mama que Jimin sabe custar uma pequena fortuna.
— Vietnamita então! — o mais velho concorda, rumando em direção aonde sabe estar o restaurante que Jimin tem em mente.
Não sente fome, mas sabe que Seokjin não permitirá que eles voltem pra casa sem forrarem o estômago com algo, então ao menos opta por algo que agradará ao paladar de ambos.
Estão saindo da escada rolante que os levou ao andar da praça de alimentação quando se dão conta de uma comoção que reverbera por todo o ambiente.
Curioso como é, Seokjin com a mão livre agarra o braço de Jimin e o puxa para ver o que é.
Park sente que deveria dizer algo para dissuadi-lo da ideia, mas antes que consiga forçar as palavras a saírem da sua boca, é acometido por aquela sensação aterradora.
Não muito distante deles, cercada por espectadores ávidos, uma dupla de policiais de maneira truculenta tenta conter um cara.
O homem também veste preto da cabeça aos pés e, com exceção dos fios tingidos de loiro, se parece muito com Jimin.
Pessoas filmam, pessoas falam alto, mas isso não serve como amenizante para os gritos do jovem e dos sons de socos e chutes desferidos contra ele.
Só tem tempo o suficiente de encontrar uma lixeira antes de esvaziar todo o conteúdo de seu estômago dentro dela, uma camada de suor permeando toda a sua pele, os batimentos cardíacos tão acelerados que ressoam alto em seus ouvidos, momentaneamente lhe ensurdecendo.
Quer fechar os olhos, mas mesmo o fazendo a imagem já está gravada em sua alma.
Não é mais o jovem desconhecido o protagonista da cena.
É Jimin.
E imagens do passado voltam à tona.
Dor e sofrimento, quando muito sentidos, se tornam hóspedes sem data de partida.
Ele bem sabe.
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✰ Quando as estrelas já não brilham
FanficQuando o Sol nasceu para ser Lua. x Quando Park Jimin precisa seguir em frente. vmin | friendship kookmin | couple +18