Neste momento, incluso o cálido vento com aroma de flor
Até mesmo o céu sem nem uma nuvem
Tudo se sente frio e estou incluso assustado pelo céu claro
Sé você não esta aqui, eu sou apenas um corpo, como respirar
Dói, sempre estou chorando, chorando, chorando
Eu estou ficando louco, estou ficando exausto
Penso em você sem parar
Eu odeio tudo, odeio tudo cada dia
Isso me faz chorar
(Hold me tight - BTS)
ʚ
— Oi, você tá livre? Preciso de você aqui. É... aconteceu algo. Não, eu tô bem. Te juro. Tá... mas eu não tô em casa, tô no apartamento do lado... Não, o Smith não. O outro, o do Gasparzinho. É... Já tá vindo? Ok, quando chegar venha direto pra cá, eu abro a porta.
Uma pessoa comum que soubesse da condição de Jimin provavelmente acharia que o que lhe acometeu foi uma crise depressiva.
Mas Agust não é uma pessoa comum.
Jimin sabe disso agora.
Ele já esteve naquele mesmo lugar que o jovem sentado no sofá de couro da sala, completamente entorpecido, abraçando as pernas, encarando o nada, coberto pela manta que encontrou vasculhando o quarto dele.
Sabe identificar os sinais.
Já havia reparado em algo estranho no seu vizinho desde que se mudou.
Os horários trocados, a falta de som proveniente do apartamento, Jimin quase não saía de casa.
E Agust sabia disso.
Sabia disso porque também quase não saía.
Mas já fora pior antes.
Bem pior.
Agora sente-se frustrado.
E preocupado.
Não é uma criatura empática.
Não é de se importar com os outros.
De dar a mínima.
Contudo é impossível ignorar o que está acontecendo bem debaixo do seu nariz, diante dos seus olhos, na parede ao lado da sua.
O microondas apita o término de seu funcionamento e ele vai até lá, tirando a xícara fumegante de leite com açúcar que colocou para esquentar. Vai assoprando o líquido enquanto caminha até sentar-se ao lado do mais jovem no sofá, que continua alheio à sua presença.
— Bebe isso daqui. — comanda em tom de voz baixo, porém firme.
Jimin lhe ignora, não por querer, mas por não conseguir sair daquele estado letárgico e catatônico em que entrou.
Ele sabe que seu vizinho está ali perto dele, sabe que precisa dar sinal de vida, de consciência, porém não consegue.
É frustrante.
Sua mente muito desperta, o turbilhão de pensamentos dolorosos, presa em um corpo dormente.
Ouve um suspiro do homem ao seu lado.
Sente seu corpo sendo tocado, empurrado para trás, logo o objeto de porcelana encosta seus lábios azulados e prova o gosto doce do leite quente.
O líquido desce rasgando sua garganta, queimando seu peito por dentro e é ali que ele tem a primeira reação.
Seus olhos se fecham, seus braços tremem, ele tosse, como se estivesse rejeitando a bebida.
— Não adianta. Não ouça sua mente, garoto. Ignora ela. Foca em mim. Bebe essa porra.
Jimin quer lhe gritar. Dizer que não é sua mente que rejeita o leite, é seu próprio corpo. Mas não consegue controlar a própria voz, logo tendo que engolir mais da bebida, sua feição fechando em uma careta. Sente a bile lhe subir até a boca, amargando tudo. Chega a arder seus ouvidos. Seu nariz.
— Se você vomitar eu te faço beber o dobro disso. — é ameaçado.
Alheio a sua vontade acaba por engolir tudo, de uma vez só, algumas poucas gotas escorrendo pelos seus lábios, seu vizinho limpando com um pano seco, enquanto o encara por algum tempo, a espera de qualquer sinal de ânsia.
Então ele se afasta, indo até a cozinha depositar a xícara na pia, Jimin o observando de onde está sentado, o corpo começando a perder a sensação de frio. Sendo capaz de mexer os dedos dos pés e das mãos, controlar sua própria respiração.
— Escuta, tem alguém vindo aqui. Sinto muito se você vai ficar puto ou considerar uma invasão da sua privacidade. É alguém da minha confiança e ele vai me ajudar a lidar com você.
Você não precisa lidar comigo.
Nem mais ninguém.
A única pessoa capaz de lidar comigo não está aqui.
Nunca estará.
A única pessoa capaz de lidar comigo largou de mão.
E eu larguei de mão também.
Essas são todas as coisas que Jimin quer dizer a Agust, mas é impedido por seu próprio corpo.
Só lhe resta fechar os olhos, resignado, com raiva da situação.
Mas não tem mais ninguém a culpar além de si mesmo.
Odeia pessoas intrometidas.
Não esperava ter um vizinho intrometido.
Não esperava que alguém invadisse sua vida sem sua permissão, tomando um controle que não deveria tomar.
Se sente uma criança.
O celular de seu vizinho começa a tocar e ele pega em seu bolso, verificando a tela, um sorriso discreto surgindo em seu rosto. Ele se encaminha até a porta e a abre, falando com alguém do outro lado que Jimin ainda não é capaz de ver.
Em seguida abre espaço e uma terceira pessoa está ali dentro.
Jimin quer gritar a plenos pulmões, se forçar a dizer algo, mas só consegue pronunciar balbucios incoerentes.
Seu apartamento, sua zona de conforto, agora não é mais nada disso.
Sua fortaleza solitária.
Ele não está mais sozinho ali.
Agora há dois completos desconhecidos.
Parados na sua frente.
Os olhares lhe ferem a alma.
Não é de julgamento.
Nem pena.
É de compreensão.
E aquilo dói mais do que ele imaginou ser capaz de sentir.
ɞ
VOCÊ ESTÁ LENDO
✰ Quando as estrelas já não brilham
FanficQuando o Sol nasceu para ser Lua. x Quando Park Jimin precisa seguir em frente. vmin | friendship kookmin | couple +18