Adoro o fato do Sol sempre estar aqui para me acordar. Já pensou como seria se ele não existisse? Acho que eu não conseguiria viver em um mundo em que não existe luz. Mas bem, isso nunca vai acontecer, então não tenho que me preocupar com isso. Além disso, mesmo que o Sol sumisse, eu ainda teria...
- BOM DIA MELISSA! - Era o Lucas me acordando com os seus gritos como sempre, preciso aprender a trancar a porta do meu quarto quando eu for dormir.
- Você não consegue me dar bom dia sem gritar? - Provavelmente não, e mesmo que ele soubesse, continuaria gritando.
- Você não gosta que eu te dê bom dia, mana? - Lá vem...
- Não foi isso que eu disse, Lucas.
- Foi sim! Eu já entendi, você não gosta mais de mim, você odeia o seu irmão! PAI, MÃE, A MELISSA DISSE QUE ME ODEIA - Eu ainda acabo com ele.
- Cala a boca, Lucas - dizia enquanto descia a escada para tomar café da manhã. Meu pai estava fazendo panquecas com cobertura de chocolate enquanto a mamãe lia um jornal.
- Bom dia mãe, bom dia pai - Peguei um copo de suco e me sentei na mesa enquanto esperava o papai terminar as panquecas.
- Bom dia filha, já arrumou tudo para hoje?
- Arrumar o quê?
- Você não vai fazer um trabalho em dupla na casa do Lewis? - Eu vou? A A A, EU VOU PRA CASA DO LEWV HOJE. Eu sou uma velha no corpo de uma garota, como eu posso esquecer das coisas tão facilmente?
- Obrigada por me lembrar, mãe - Disse rindo envergonhada por esquecer.
- Você não tem jeito mesmo, hein - Minha mãe disse com um sorriso de canto.
- Hehe.
Comi as panquecas com chocolate deliciosas do papai, voltei pro quarto pra tomar banho e arrumar minhas coisas pra passar o fim de semana com o Lewis.
- Tchau mãe, tchau pai, tchau Lucas! Até segunda-feira!
Meu pai segurou meu ombro e olhou para mim.
- Qualquer coisa, você já sabe, nos ligue e saia correndo - Disse meio preocupado.
- Pff, falando desse jeito parece que ele vai me sequestrar ou algo do tipo - Meu pai levou isso a sério - Tô brincando, vou tomar cuidado, pai - Dei um sorrisinho.
- Bom mesmo, e mais uma coisa - O que será? - tenha juízo e não se anime muito, se é que me entende.
- PAI! - Ele e a mamãe começaram a rir, eu saí correndo com vergonha. Fala sério, não é como se fosse acontecer algo entre eu e o Lewis, nós vamos apenas fazer um trabalho em dupla na casa dele, sozinhos... por... dois dias e meio. CHEGA! Se controla, Lissa. Hihi, Lissa.
A ideia de andar três quilômetros numa estrada de neve num frio insuportável para ir pra escola não me parecia muito legal, mas desde que eu conheci ele, nunca senti frio enquanto andava. Era como se ele me deixasse segura, e aquecida.
- Oi Lissa - Seus cabelos negros e bagunçados, seus olhinhos fofos, seu sorriso vermelho, seu agasalho preto maior que ele, era tudo tão encantador, sério.
- O-Oi Lewis - Tenho que parar de repetir as palavras, vai ficar muito na cara.
- Então, pronta pra hoje?
- Pra hoje? Pronta? Pronta pra quê? - O quê, o que ele quis dizer com isso?
- Ué, vamos pra minha casa, esqueceu?
- N-Não não não, é que eu achei que era outra coisa... - Sério, se controla, Lissa.
- Hmm, tá bom então - Disse meio curioso, mas aceitando que não ia saber - Aliás, fiquei surpreso que seus pais aceitaram tão bem você passar o fim de semana na casa de um estranho que você conheceu tem tão pouco tempo-
- Você não é um estranho, nós somos amigos...
- Ah, desculpa. Mas mesmo assim-
- E também, eu falei muito de você para os meus pais - Cala a boca Melissa, que saco. Ele ficou meio envergonhado, com razão, eu sou estúpida, sério.
- Hmm, entendi, heh - Disse com um sorrisinho, que droga, ele é tão adorável.
Chegamos na escola, e passamos o resto do tempo nela juntos. Mesmo todo mundo sendo meio maldoso com a gente, eu ainda gosto de lá, é tão legal estudar, se esforçar pra conquistar algo, eu adoro isso. Além claro, do frango de forno que eles servem às vezes, aquilo é um manjar dos deuses, meu deus. Ele me ajudou em matemática de novo, acho que tenho que começar a retribuir isso. As aulas acabaram e saímos da escola. Andamos até sua casa pela estrada. Depois de tanto andar por lá, ela acabou ganhando uma parte mais funda por causa das nossas pegadas, a gente chamou de vale da neve, não parecia um vale, não tinha nem tamanho pra isso, mas era legal.
Conforme andávamos, meu peito parecia cada vez mais prestes a explodir, não conseguia me segurar de tão feliz que estava por poder passar esses dias com o Lewv. Fomos nos aproximando já pela noite, o céu escuro tomado de estrelas ia de pouco em pouco disputando espaço com uma forte luz que aumentava conforme andávamos. Estávamos perto da casa dele.
- Uau - Era uma bela casa de madeira polida e vidro, iluminada pelas luzes amarelas do teto que podiam ser vistas de fora da casa, parecia a casa dos sonhos, com o meu sonho já morando nela - Ela é tão bonita.
- Você acha? Eu escolhi com o meu irmão - Sorria.
- Você escolheu com seu irmão?
- Sim.
- Tipo, vocês só chegaram, escolheram e compraram? - Quanto dinheiro a família dele deve ter???
- Hmm, é... Foi meio que um presente do meu irmão, já que eu ia ficar aqui sozinho...
- A-Ah... Entendi, desculpa.
- Não não, tudo bem - Ele tem algum problema com seus pais, por isso que veio pra cá. Mas pelo menos seu irmão parece o apoiar. Queria saber o que aconteceu, algum dia - Vem, vamos entrar.
Sua casa cheirava bem e era brilhante por dentro, o chão refletia nós dois, parecia tão limpo que eu poderia comer lá.
- Desculpa a bagunça, ninguém nunca veio aqui antes.
- Você tá brincando né? Isso aqui é mais limpo que uma loja de limpeza, sério, eu tô impressionada - Ele riu.
- Eu gosto de limpar, me deixa mais calmo.
- Hmm, entendi.
- Vamos pro quarto, você pode deixar suas coisas lá.
- Pro pro pro seu quarto? - O quê? Eu não tô preparada pra isso, como ele?
- Ah - Riu depois de entender - Não, não, tem um quarto de hóspedes aqui, pro caso do meu irmão me visitar, acho que dá pra você ficar nele.
- A-A-Ah ah- Como eu sou burra - Entendi entendi.
Fomos até o quarto de hóspedes no segundo andar, era tão quentinho e tinha uma vista para a neve do lado de fora da casa, tinha um TV e uma cama gigantesca, acho que eu me perderia quando deitasse ali.
- Pode deixar suas coisas aí, vou fazer algo pra gente comer e depois fazemos o trabalho - Ele desceu para a cozinha e me deixou lá. Arrumei minhas coisas e desci também.
- Gosta de salgado de carne?
- Eu amo salgado de carne.
- Que bom - disse sorrindo.
Lewv sabia limpar, cozinhar, era bonito, engraçado, inteligente e jogava vôlei. Não é possível que ele não seja ruim em uma mísera coisinha sequer. Os salgados estavam deliciosos, se eu passasse mais tempo na casa dele sairia de lá rolando.
Começamos o trabalho, Lewv fazia brincadeiras toda hora me tirando o foco, sério, como ele consegue ser tão paspalho e ainda tirar notas boas?
O trabalho que a professora Aider passou era gigante, então não conseguimos fazer tudo num dia só.
- Vamos parar por aqui por hoje - Ele disse quase morrendo de tanto cansaço - Quer jogar alguma coisa?
- Hmm, quero sim. - Dei um sorrisinho.
Jogamos videogame o resto da noite e assistimos alguns filmes também, mas chegou uma hora em que estávamos mortos, então nos preparamos para dormir. Lewv foi tomar banho, e eu fui depois.
Me vesti com roupas bem grandonas, são muito confortáveis, comecei a passar creme no meu cabelo pra deixar ele bonito, até que ouvi passos perto do meu quarto.
- Então... Boa noite? - Lewv estava na minha porta, meio confuso, ele parecia não saber muito o que fazer. Eu sorri.
- Boa noite, Lewis, dorme bem.
- Você também - Ele sorriu, saiu e foi para o quarto dele.
A cama era tão macia e quentinha que em outra situação eu dormiria só de tocar nela, o problema é que: Era muito solitário. Era escuro e a neve reforçava a ideia de que eu não tinha ninguém. Como o Lewv conseguia dormir assim? Eu tentei e tentei e tentei, mas não conseguia dormir de jeito nenhum, então só me restava uma opção.
Fui até o quarto do Lewis, abri a porta, fui até a sua cama e o acordei.
- Le-Le-Le-Lewis...
- Hmm, hmm, oi - Ele parecia gelado, sua boca estava meio aberta e muito vermelha, e estava com uma voz sonolenta, faz sentido, eu o acordei no meio da madrugada. Não sei como consegui coragem para isso, meu coração estava a mil, parecia que eu ia desmaiar a qualquer momento, mas estava determinada a conseguir dormir, então era necessário.
- É que...
- É que? - Ele gradativamente acordava, e esperava que eu completasse o que ia dizer. Mas sabe, não é tão fácil assim pedir isso. Respirei fundo, segurei na mão de deus e fui.- Eu eu eu posso posso... dormir com você?
Fim do Capítulo 5.