Capítulo 9 - Colorido

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O inverno é rigoroso, congela todos os vidros da escola, me dando uma pequena sensação de que eu vou morrer se continuar naquele lugar. Pelo menos era o que eu achava, mas tudo está bem tranquilo na verdade. Por algum motivo, os seres repugnantes da minha sala pararam de implicar comigo e com a Lissa, acredito que não seja para sempre, mas é um alívio não ouvir as suas vozes irritantes mesmo que só por um momento.
- Você quer ir à biblioteca? - Lissa perguntou enquanto puxava minha mão para a segurar.
- Você sabe que eu não leio, aliás, você também não lê, por qual motivo quer ir lá? -
- Ahh, verdade, eu não leio - disse rindo, como se tivesse esquecido disso, às vezes eu acho que ela tem algum problema de memória - N-Não sei o motivo, só queria ir a algum lugar diferente com você - por quê ela ainda cora?
- Fofa - disse rindo.
- O-O quê?
- Você, ué.
- A-ah - parecia com vergonha, mesmo depois de eu falar isso tantas vezes - Vamos lá então, não deve ser tão ruim com você.
- Hihi, te amo - estava entusiasmada e com um enorme sorriso no rosto, dei um sorriso também.
A Biblioteca ficava no último andar da escola, no caso, o terceiro. As paredes eram de vidro, e era possível ver o brilho do Sol refletindo nos incontáveis livros das estantes. Havia pouca gente, então era um ótimo lugar para estar com a Lissa, na verdade, qualquer lugar é ótimo se for com ela.
- Vem, vem! - Disse me puxando para as estantes. Lissa não gosta de ler livros, mas adora histórias em quadrinhos, é quase um hobbie.
- Uau! Tem tantos! - Seus olhos brilhavam, e ela estava mais agitada do que o normal.
- Está tão feliz assim apenas por estarmos em um lugar diferente?
- Ué, claro que sim - ela me olhava como se achasse que eu já sabia o motivo.
-...
-...
-...
- Espera, você realmente não sabe?
- É... não.
- Bobo. Cada lugar diferente que eu vou com você é uma nova memória eternizada, como se desbloqueasse um novo local no meu mapa de lugares que já fui com o meu amorzinho.
- Hmm, tá - Não fez muito sentido pra mim, mas parece fazer pra ela.
- Você não entendeu, né? - parecia séria.
- Entendi, entendi, escolhe logo o que você vai ler - tentei mudar de assunto.
- Grosso - ela ficou fazendo birra. Mas era tão linda, meu deus.
- Você é perfeita, sabia?
- H-Ah, vou vou pegar esse aqui, e você? Parecia desesperada para mudar o foco da conversa, que era ela.
- Não vou ler nada.
- Ué, o que você vai fazer, então?
- Hmm, vou ficar admirando minha namorada enquanto ela lê - ficou vermelha, como sempre.
- Ho-Hoje vo-você está tão, tão, tão...
- Tão?
- Ousado, é isso, ousado.
- Mas por quê?
- Vo-você está está me elogiando tanto, sem nenhuma vergonha.
- Não gosta... que eu te elogie? - fingi estar triste com o que ela dizia.
- Ah- ah não não não é isso, eu adoro quando você me elogia - parecia com envergonhada por me deixar "mal", eu ri.
- O  que que que foi?
- Estava brincando, boba.
- Você! - já estava da cor de um belo tomate.
- Vamos sentar. - continuei a rir, enquanto ela tentava disfarçar a vergonha e raiva.
Fazia cafuné na cabeça da Lissa enquanto ela lia, era quentinha. Os Sol refletia no seu belo cabelo ondulado. Seus olhos de nebulosa pareciam infinitamente focados e consumidos por aquele gibi, quando a Lissa se interessa por algo parece que ela se isola do resto do mundo e apenas aquilo faz sentido, aquilo e eu. Puxou minha mão que estava na mesa e começou a fazer carinho, ainda com seus lábios vermelhos desenhando um grande sorriso.
Continuamos assim até o sinal da próxima aula tocar. Acabamos perdendo a noção do tempo na biblioteca e, consequentemente, esquecemos de almoçar.
- A gente pode não ter comido, mas não trocaria esse tempo por nada - Lissa disse sorrindo.
- Também não - sorri junto.
Ajudei ela nas aulas da tarde. Termino as tarefas rápido, então tenho um bom tempo para a ensinar. No último tempo, uma mulher entrou na sala e falou algo no ouvido da professora Gleed, nossa professora de geografia. Ela acenou com a cabeça e a mulher saiu.
- Lewis, vá até a secretaria, por favor.
- Uuh, o Lewis vai embora pra sempre? Seria um sonho - Donatello falava com uma cara de deboche.
- Cala a boca, Donatello - Lissa parecia brava e curiosa para saber o porquê de eu ter que ir até a secretaria. Também gostaria de saber. Sorri com os olhos para ela, e fui até a secretaria.
Andava pelos corredores de piso de madeira escura recém-polida enquanto pensava o motivo que me fazia ir até a secretaria. Não arranjo confusões na escola, e também não estou com notas ruins, cheguei à conclusão de que poderia ser apenas uma coisa, e soube que estava certo ao parar na frente da porta da secretaria. Seus cabelos longos e escuros que pareciam seda da mais alta qualidade, um justo terno preto que fazia aparentar ser mais alto do que já era, suas sardas que se destacavam pela sua pálida e branca pele, sua presença que me fazia congelar de frio, e claro, um grande nariz de metido. Era o meu irmão.
- Oi, Aaron.

Fim do Capítulo 9.

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