cap 1

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2028

Eu pensava que Paris era mais atrativa durante o inverno. O inverno, de modo geral, nos é vendido de forma mais, como posso dizer? Mágico, do que realmente é. Você vê em filmes a lama deixada da nevasca da noite anterior ou as pessoas escorregando mortalmente nas camadas finas de gelo? Não, não se vê. Só te mostram as crianças brincando com bonecos de neve ou casais felizes fazendo anjinhos no chão. Casais felizes. Nada mais frustrante para uma jovem adulta totalmente desgraçada no amor. Enfim, onde eu estava? Ah é, Paris. A Europa toda eu diria que é superestimada. É lindo, de fato, não posso negar essa verdade aos nossos colonizadores. Mas, sei lá. Não é mágico. Estou me adentrando muito e magia, mas essa divagação  inteira que faço contigo no momento é apenas para reclamar da minha bota novinha que eu tinha acabado de estragar pisando em uma poça recém-formada de neve do dia anterior.

-Porra!- Minha bota nova, cara. Eu iria congelar em segundos. Logo, perderia os dedos do pé, o que eu sinceramente acho que levamos muito por garantido. Só valorizamos os dedos do pé se o perdermos. Assim como algumas pessoas em nossas vidas. Reconheça sua pessoa dedo do pé e a não deixe escapar, é o que eu te digo

Desculpe, tenho déficit de atenção. Isso vai ser recorrente, já te deixo avisado. Posso ter 26 anos mas minha mente é de uma adolescente de 15. Enfim, desisto do passeio por Paris naquela noite e tomo meu caminho para meu apartamento. Sim, tenho um apartamento em Paris. Olhe, por mais que pareça, não são grandes coisas. Não é como se eu estivesse feliz aqui, mas fiz muitas cagadas em minha vida para chegar a esse ponto e sou muita orgulhosa para tentar voltar atrás.

Suspirei de desanimação quando vi uma das ruas que me levariam para casa totalmente cheia. Turistas. Benditos turistas

Eu não gosto de turistas. Estão sempre felizes, animados, tiram fotos de tudo! Se acalme, sabe? Essa cidade nem é isso tudo. Talvez eu tenha inveja, porque depois de alguns dias estando aqui e visitando e conhecendo só as partes que valem a pena, eles vão embora. A parte de ir embora é que me deixa mais incomodada. Me levem junto, por favor

Desvio da horda de turistas que a mim mais parecia um apocalipse zumbi de norte-americanos, com pochetes e blusinhas floridas havaianas e eu me alcanço dentro de meu enorme casaco, presente da minha mãe, meu maço de cigarro e meu isqueiro.

Fumar foi um dos hábitos que Paris me deu. Aparentemente, o jovem europeu não sobrevive sem, no mínimo, 10 maços de cigarros por dia. Louise que insistiu que eu experimentasse uma vez. Foi na segunda noite em que dormimos juntas, e última. Eu estava nua em sua cama, havia acabado de acordar e ela saía do banho extremamente quente. Ela me fitou, deitada com cara de sono, alcançou meu cigarro e me entregou. Disse que se eu fumasse seria a visão mais sensual da sua vida.

Bom, eu queria transar de novo, então obedeci. Depois disso nunca mais a procurei. Ah...Mas o cigarro, o cigarro ficou

Soltei a fumaça rindo. O que Larissa diria se me visse agora? E Thaiga? Todas as quatro, acabariam com a minha raça. Como se meu pulmão fosse compartilhado, elas com certeza se preocupariam de uma forma maternal. Milena me falaria sobre os inúmeros artigos que havia lido acerca dos malefícios do cigarro para a saúde humana. Thaiga com certeza me daria uma surra, jogaria todos os meus cigarro no lixo e Lara xingaria a minha pessoa simplesmente por ser um de seus esportes preferidos. Nem percebi quando meus olhos pensaram com as lágrimas. Puta merda, que saudades delas.

Eu as afastei, a culpa foi minha, Há alguns anos, eu fiz muita besteira em minha vida, de fato.

Não me entenda mal, eu tenho amigos em Paris. Não estou sozinha, nunca estou. Mas  é que...Porra, sabe? Não era para ter sido assim. Talvez hoje eu esteja mais mexida, Gaby me mandou uma mensagem mais cedo, dizendo que Thaiga havia acabado de dar à luz. Era uma menina, ela deu o nome de Ana. É um nome bonito

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