O Primeiro Tropeço - Alice

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Fica calma Alice, você sempre faz isso. A única diferença é que você vai ir a pé ao invés de ir de carro. Não! Eu não consigo me acalmar, o Gabriel vai estar lá e ele é a última pessoa que eu gostaria de ver agora, ai meu Deus. Talvez ele não esteja lá, foco nisso e saio de casa com o meu irmão.

— Parece que você vai explodir a qualquer momento, estou com medo — João diz zombando do meu estado.

— Fica na sua big brother.

— Olha, foi a sua primeira vez bebendo, ninguém vai te julgar.

Espero que ele esteja certo, porque eu não aguentaria ter que olhar na cara do Gabriel e ainda ter pessoas me zoando.

Chegamos à faculdade do João, ele entra e eu continuo andando sem olhar para os lados. Foi uma péssima ideia. Tropeço e caio em cima de alguém, é claro que isso tinha que acontecer comigo hoje.

— Você está bem?

Não! Quero correr, quero me enfiar em um buraco e não sair nunca mais. Eu devo ser a pessoa mais azarada desse mundo.

— Alice? — Gabriel diz, me fazendo voltar à realidade, que é horrível.

— Ah, oi. Estou sim...

— Que bom, não é bom andar sem prestar atenção ao seu redor. Achei que já tinha aprendido isso — diz se referindo a quando eu estava bêbada.

Estou com muita raiva dele. Imagino mil respostas grosseiras que eu poderia dar agora, mas elas só significam que eu terei que falar mais tempo com esse traste, e eu não estou afim. Reviro os olhos exageradamente e ele diz:

— Não que eu esteja reclamando, mas, já que você não quer conversar, poderia sair de cima de mim por favor? Estou um pouco atrasado.

Meu rosto queima de vergonha. Qualquer pessoa que me visse agora poderia pensar que estou morrendo. Levanto-me e pego minha bolsa que caiu.

— Sinto muito — digo sem fazer contato visual.

— Sem problemas, espero que nos encontremos mais vezes — diz com um sorriso travesso.

Saio sem responder. Idiota! Ele deve estar se divertindo com o meu estado deplorável. Esse menino me irrita em um nível sem igual, por que ele tinha que falar isso? É tudo culpa do meu irmão, se ele não tivesse implorado para eu ir naquela festa e se ele não tivesse ido para um racha a minha vida continuaria maravilhosa.

Apesar disso, uma questão me intriga. Pude ver que o Gabriel está com um olho roxo. Será que alguém que estava na festa fez isso? O mais importante é saber por que eu estou preocupada com ele. Na verdade eu diria que estou curiosa para saber o que houve após a festa, mas acho melhor não me envolver.

Entro em um dos meus lugares preferidos, amo meu trabalho. O pet shop está quase vazio esta manhã. Vejo apenas alguns funcionários e alguns cachorrinhos esperando por seus donos. Avisto Eduardo por trás do balcão.

— Bom dia — ele diz e me olha preocupado. — Está tudo bem?

— Ai Edu, hoje é o pior dia da minha vida — digo choramingando.

— Ô meu Deus, o que aconteceu florzinha?

Conto tudo pra ele, desde a festa até hoje. O Eduardo é o meu melhor amigo, sempre me dá os melhores conselhos e me consola quando estou triste. Conheço ele não faz muito tempo, mas já sei que ele é incrível.

— Olha, dessa vez o João se superou — ele comenta.

— Estou com tanto ódio dele.

— Eu te entendo, mas você tem que ficar calma. Você não pode mudar o que aconteceu, mas pode controlar o quanto essa situação vai te afetar.

Ele tem razão, não posso ficar remoendo o que aconteceu, o babaca do Gabriel deve estar super feliz e nem se lembrando de mim. O meu irmão com certeza não liga nem um pouco para minha situação. Então a única aqui sofrendo sou eu.

— A conversa está boa aí não é? Será que eu poderia participar? — meu chefe diz bravo.

— Desculpa — eu e Eduardo dizemos ao mesmo tempo.

— Alice, temos dois cachorros esperando por você — ele diz e vou trabalhar.

...

Depois de dar banho e cuidar de muito mais que dois cachorros, vou para casa. O Edu se ofereceu para ir comigo, mas a casa dele é para o outro lado, não vou força-lo a fazer dois caminhos. Além do mais, ainda são cinco horas da tarde, não vejo nenhum perigo em voltar sozinha. Recebo uma ligação da Ester.

— E aí? Sobreviveu ao seu dia?

— Ai amiga, nem te conto — digo frustrada. — Eu tropecei e caí bem em cima dele, fiquei com tanta vergonha. E ele ainda por cima me zoou.

— Meu Deus Alice, a sua vida é tão clichê.

— Você e a Raquel têm que parar com isso, eu já falei que isso não é um filme adolescente da Netflix — digo ficando estressada.

— Ok, mas aconteceu mais alguma coisa interessante na sua vida hoje? — pergunta curiosa.

— Nada demais, o Edu me deu um ótimo conselho e me acalmou.

— Ai esse "Edu". Só você ainda não percebeu que ele gosta de você. Não é ele que fica te chamando de "florzinha"? — pergunta forçando uma voz que ela não tem.

— De novo com isso? Eu já te falei que somos só amigos. Eu não gosto dele e nem ele de mim — falo bufando.

— Isso é o que você pensa, a minha intuição não falha nunca Alice.

— Tá bom, agora tchau. Tenho que ir — corto.

— Isso, foge do assunto de novo amiga — diz rindo e eu desligo o telefone na cara dela.

Não sei o que tem na cabeça da Ester. O Eduardo sempre me tratou normal, ele só é mais fofo e calmo do que os outros garotos. Agora se um menino for educado assim é porque ele me ama? Claro que não! Ela é doida.

Chego em casa e ignoro meu irmão falando coisas desnecessárias e minha mãe me chamando para o jantar. Vou ao meu quarto, tomo um banho e me deito, hoje foi um dia cheio e minha cabeça está a mil. Ainda estou tentando entender como minha vida entediante virou essa bagunça.

Tropeçando no AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora