Caminho atordoada observando o papel em minhas mãos. O número de telefone do Gabriel está um pouco borrado por conta de minhas lágrimas, que insistiram em cair após nos separarmos. Qualquer um que passasse por mim juraria que estou triste, mas, na verdade, estou com raiva. Por que o Mateus tinha que estar aqui? Por que tínhamos que nos encontrar logo quando alguém me chamou para sair? Será que o Eduardo está chateado comigo? Como, em questão de segundos, o Gabriel foi promovido de odiado a confidente?
Confesso que não entendo mais nada do que está acontecendo em minha vida. Esses pensamentos, somados as lágrimas, borram minha visão e a única coisa que consigo enxergar é uma luz forte que me cega. Meu transe é interrompido quando escuto o alto som de uma buzina, alguém gritar meu nome e me agarrar com força.
— Você está bem? Se machucou? O que estava fazendo no meio da rua? Por que está chorando? — Eduardo me enche de perguntas sem me soltar, como se eu fosse fugir a qualquer momento.
— Eu sinto muito por tudo o que aconteceu hoje Edu — digo me sentindo culpada.
— Não se preocupe com isso florzinha — diz enxugando minhas lágrimas. — O que eu ia te falar nem era tão importante assim.
— O que era? — pergunto curiosa.
— Na verdade, eu acho que só queria te ver — diz e eu não entendo o que ele quer dizer. — Ei, você não me respondeu se está bem.
— Eu vou ficar.
Um silêncio constrangedor se instaura entre nós, o fazendo perceber que ainda não me soltou. Ele se afasta e cora, me deixando confusa. Por que ele está agindo assim, estranho? O que aconteceu? Será que ele me entendeu errado em algum momento?
— Vou te acompanhar até sua casa, não quero deixar você voltar sozinha — diz me tirando de meus pensamentos.
— Eu sei me cuidar — respondo um pouco grossa, odeio que as pessoas me subestimem ou me façam sentir indefesa.
— Eu só estava tentando ajudar Alice.
— Tudo bem, mas eu não preciso da sua ajuda.
— Alice, você não precisa descontar seus problemas em mim. Não é minha culpa que o seu ex te trocou e se arrependeu.
— Tem razão, é por isso que eu não preciso da sua ajuda nem da sua pena — digo e vou embora pisando firme.
...
Chego em casa e meu coração quase para. A cena me deixa em choque e perco as poucas forças que me restaram. Meu irmão caminha até mim e me abraça.
— O que está acontecendo João? Por que o papai está com uma mala? Por que ele está gritando? Por que a mamãe não faz nada? — pergunto já me desesperando.
— Alice, era o que a gente pensava. Eu descobri que o velho estava traindo a mamãe e contei para ela. Sei que é difícil, mas precisamos ser fortes.
Sinto meu sangue ferver. Vejo meu pai entrando em um carro e partindo sem nem nos direcionar o olhar. Minha mãe vem em nossa direção e me abraça. A ficha finalmente cai. Meu pai nos abandonou. As paranoias da minha cabeça estavam certas. Ele não traiu apenas minha mãe, ele traiu todos nós.
— Desculpe Alice — ela diz e vejo que está fazendo o máximo para não chorar em nossa frente.
— Por que você está se desculpando?! — pergunto gritando e chorando e eles me olham assustados. — Que se dane esse velho! A culpa é dele, só dele!
— Calma querida, ele ainda é seu pai e eu não estou chateada, não é a primeira vez que ele me trai.
— Calma o caramba! — grito e levo às mãos a cabeça. — Eu o odeio, ele não é o meu pai!
Afasto-me deles e caminho por minha rua amaldiçoando cada formiga que passa por mim. Eu me pergunto se é possível alguém morrer de ódio. Respiro fundo e repasso todos os acontecimentos do "maravilhoso" dia de hoje.
O beijo acidental com o Gabriel, meu reencontro com o Mateus, minha briga com o Eduardo e a traição do meu pai. Lágrimas escorrem por meu rosto e começa a chover, eu mereço.
Sento na sarjeta e cubro meu rosto com as mãos. Por que isso está acontecendo comigo? Eu fiz algo de errado? O retorno do Mateus foi uma pancada grande demais para mim. Eu o amava, eu realmente o amava. Ele me usou e depois pisou em mim, agora ele aparece pedindo perdão. Eu o odeio, mas odeio mais o fato de ele ainda me abalar.
O Eduardo é a pessoa que eu achava que mais me apoiaria nesse momento, mas o jeito que ele me tratou e como mudou assim que eu o contrariei me magoou. Sei que eu também fui péssima com ele, mas eu não estava pensando direito no momento.
Ainda por cima tem meu pai. Ele sempre foi meu porto seguro. Em casa minha mãe brigava comigo e com meu irmão quando fazíamos arte e meu pai sempre dava um jeito de amenizar a bronca. Ele sempre me deu ótimos conselhos apesar de nunca me contar nada pessoal e sempre trabalhar muito. Saber que ele estava traindo minha mãe não foi um choque, mas mesmo assim é difícil acreditar que não somos mais uma família.
A chuva fica cada vez mais forte e sinto muito frio, mas não me movo, não consigo. As lágrimas não param de escorrer e pensamentos de que a culpa é minha rodeiam minha mente. De repente não sinto mais as gotas me atingirem, mas ainda escuto o barulho da chuva. Removo as mãos do rosto e olho para cima, dando de cara com Gabriel segurando um guarda-chuva.
Ele não diz nada e também não me olha, apenas fica lá de pé. Sua presença de alguma forma me dá forças e consigo me levantar. O encaro e, sem dizer nada, ele me abraça. Não com segundas intenções e nem de um jeito que me deixa desconfortável. Seu abraço é quente, me faz sentir que eu tenho alguém em que posso me apoiar, alguém que não vai me julgar. Minhas lágrimas logo secam e ele me solta.
— Obrigada — digo sem graça.
— Não precisa me agradecer, eu disse que se precisasse de alguém eu estaria aqui. Você não me chamou, mas eu li seus pensamentos — diz em um tom brincalhão e eu sorrio.
— É sério, obrigada. O dia de hoje foi horrível, só de estar aqui já me ajudou.
— Que bom que pude ser útil.
— Aliás, por que está aqui? A sua casa não é para o outro lado? — pergunto desconfiada.
— Não é nada demais. Está vendo aquela casa ali? — pergunta e aponta para uma casa não muito distante da minha com uma placa de "aluga-se" na frente.
— Sim — respondo com medo. Tomara que não seja o que estou pensando.
— Eu vou morar nela a partir de semana que vem.
Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta kkkkkkk.
Pessoal, me desculpem pelo sumiço, tive muitos imprevistos por aqui. Prometo que irei postar regularmente agora que consegui organizar tudo.
Muito obrigada a todos que estão lendo essa história e me apoiando, espero que tenham gostado do capítulo de hoje.
Não se esqueçam de votar e comentar o que acharam.
Bjs :)
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Tropeçando no Amor
Ficção AdolescenteCercada por eventos desastrosos, um irmão encrenqueiro e um ex arrependido, Alice vê sua vida politicamente correta e normal virar completamente de cabeça para baixo após um convite perigoso. Ambos com problemas familiares e feridas profundas, Alice...