Revelações - Gabriel

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Eu mereço um prêmio por ter conseguido aguentar o Mateus durante quase uma semana. Ele é extremamente insuportável! Eu gosto de trabalhar no restaurante, já que me ajuda a pagar a faculdade e, às vezes, posso comer de graça. A parte ruim é que tenho que trabalhar nos finais de semana e, agora, com o Mateus.

Hoje é domingo, mas isso não significa nada. Em minha opinião, domingo é o pior dia da semana. Aos domingos eu sinto como se estivesse de luto, já que o dia seguinte é segunda-feira.

Já é uma hora da tarde e o restaurante está movimentado. Vejo que tem algo de errado, pois há um dos garçons paralisados atrapalhando o movimento. É claro que tinha que ser ele! Aquele loiro oxigenado do Mateus só me dá trabalho. O pior de tudo é que o chefe quer que eu cuide dele. Desde quando eu virei babá?

Sigo em sua direção e tento me acalmar, talvez ele não tenha feito nada dessa vez. O meu trajeto é atrapalhado por alguém que esbarra em mim. Na verdade, não é qualquer pessoa, é a Alice. Sinto como se nós estivéssemos destinados a nos encontrar em situações constrangedoras, me pergunto o porquê não podia ser em outra hora, outro lugar.

Caímos juntos e sinto nossos lábios se encontrarem brevemente. Merda! Tinha que ser logo ela. Quando a encontrei antes foi extremamente vergonhoso por causa da festa, agora será mais vergonhoso ainda!

Encaro Alice e vejo que ela está corada, tão fofa. Balanço a cabeça de um lado para o outro como se isso ajudasse a espantar esses pensamentos idiotas. Logo a expressão de Alice muda de envergonhada para desesperada.

­— Me desculpe — ela diz e se levanta rapidamente.

A vejo ir em direção a um garoto, ele parece triste. Será que ela veio aqui para um encontro? Não interessa, afinal, isso não é da minha conta.

Levanto-me e olho para o Mateus, que está com uma expressão petrificada, até parece que fiz algo de errado. Ele vem em minha direção, pelo menos era o que eu achava, mas ele desvia e vai até a mesa onde está Alice e o garoto misterioso. Eu o sigo.

— Alice? — Mateus pergunta. Calma, eles se conhecem?

— Mateus? — ela pergunta com os olhos arregalados. — O que está fazendo aqui? Você não tinha se mudado?

— Sim, mas eu voltei. Isso é um encontro? — pergunta olhando para o garoto na mesa.

— E se for? — Alice pergunta irônica. — Você não tem nada a ver com isso Mateus.

— É assim que você me trata Alice? Depois de tudo o que a gente passou?

— É exatamente por tudo o que a gente passou que estou te tratando assim. Desculpe-me se você queria que eu te recebesse com um abraço e dissesse que nada mudou.

— Do jeito que você fala até parece que eu fui insignificante para a sua vida — diz claramente irritado.

— Você não foi insignificante, você foi um erro!

Olho para o garoto sentado com Alice na mesa e ele parece bem triste. Será que é por causa do nosso beijo acidental ou por causa do Mateus? Não sei, só sei que estou completamente perdido. Eles claramente se conhecem, mas eles são o que? Ex-namorados? Amigos que brigaram? Não estou entendendo mais nada.

— Eu sei que fui um idiota, mas passou. Eu mudei! — ele diz e vejo o rosto de Alice ficar vermelho de raiva.

— Se com mudou você quer dizer que aquela piranha te traiu e agora você se arrependeu por ter me deixado eu acredito!

Eita! O negócio está ficando sério. Eu sei que deveria falar para os dois pararem de brigar, já que estamos no meio do restaurante e, eu e o Mateus, estamos em horário de trabalho, mas eu estou muito curioso para saber da história toda.

— Não é isso Alice, eu ainda te amo — Mateus diz e eu fico chocado.

— Eu não ligo! A culpa foi sua por ter estragado tudo, foi você que me machucou primeiro, foi você que fez um monte de merda! Falar que me ama não vai mudar nada! — ela diz e, por mais que se esforce, consigo ver seus olhos marejarem. Acho que o idiota também percebeu. Meu Deus, que treta!

— Você não precisa acreditar em mim Alice, vou te provar que mudei — ele diz mais calmo e volta ao trabalho.

— Me desculpe Eduardo, eu tenho que ir — ela diz ao garoto sentado na mesa e sai do restaurante.

Eu sei que não devo, mas não consigo ignorar, vou atrás dela.

— Alice espera! — grito e ela me olha chorando. — Eu sei que não tenho nada a ver com a sua vida, mas se você precisar de alguém para conversar, eu estou aqui.

— A gente nem se conhece direito.

— É por isso, já que a gente nem se conhece, não tem problema você desabafar comigo.

Ela me encara, seus olhos castanhos perfuram os meus. Penso ter falado algo de errado, mas ela aceita minha proposta e se senta no banco do ponto de ônibus que tem perto do restaurante. Sento-me ao seu lado.

— O Mateus e eu namorávamos ano passado — diz se acalmando.

— Se não quiser me contar o que houve entre vocês não tem problema.

— Não, está tudo bem. Eu o amava, bem, acho que amava. Não sou muito boa com essas coisas de amor e nem sei se amor verdadeiro existe mesmo. Mas posso dizer que eu gostava dele de verdade, mas ele só me usava. Foi só por minha causa que ele conseguiu passar de ano. Ele fingia que me amava, mas ele me deixou logo que não precisou mais de mim.

— Que cara babaca — penso alto e ela ri.

— Sim. Eu demorei pra superá-lo, mas quando vi que ele já estava com outra garota, fiquei com muita raiva. Ele se mudou e nunca mais nos vimos, até hoje.

— Eu nunca fui com a cara daquele loiro oxigenado.

Nós dois rimos e eu a observo. Ela parece melhor agora. Fico feliz de conseguir conversar com ela sem fala alguma besteira e sem ficar com aquele clima terrível por causa da festa.

— Obrigada — diz sem me olhar. — Até que você não é tão ruim Gabriel.

— É claro que não, eu sou demais — digo sorrindo e ela ri e revira os olhos.

— Ok senhor incrível, eu vou para casa agora. Obrigada por me ouvir.

— Tudo bem, sempre que precisar desabafar com um estranho pode me ligar, esse é o meu número — digo anotando em um guardanapo e entregando a ela.

Volto ao restaurante, mas logo me arrependo.

— Você sabe que vou descontar do seu salário não é Gabriel? — meu chefe pergunta com uma expressão assustadora.

— Me desculpe senhor, já vou voltar ao trabalho.

— É bom mesmo!


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