- Não!
- Ah, vai Alice! Eu nunca te pedi nada, por favor!
- Nunca me pediu nada? E aquela vez que eu tive que falsificar a assinatura da mamãe pra você? Ah, também teve a vez que você falou para os seus amigos que namorava e quem teve que fingir ser sua namorada? Teve também a vez...
- Tá bom, eu já entendi - ele me interrompe. - Mas Alice pensa! Isso vai ser bom para nós dois. Você, uma jovem sem graça e normal que nunca foi para uma festa na vida, vai finalmente ver o que é bom e eu vou poder ser popular!
- Uau, agora eu quero ir - digo com sarcasmo. - João, eu já falei que não vou e você não vai me convencer!
- Alice, se você me ajudar eu te dou cinquenta reais e lavo a louça por uma semana.
Agora ficou interessante, afinal, é só uma festinha de faculdade, o que pode dar errado?
- Combinado! Você deveria ter começado por isso big brother - digo usando o apelido que eu sei que ele odeia.
- Eu já falei pra parar de me chamar de big brother, mas que chatice!
- Tudo bem big brother!
- Ô meu Deus - ele sai contrariado, mas sabe que não pode reclamar mais porque depende de mim para o seu "plano infalível".
O meu irmão pode ser bem convincente quando quer. Apesar de que eu já estou cogitando a ideia de chama-lo de volta para falar que não vou mais, que droga! Ele nem parece ser o mais velho. Eu aceitei, mas, pra falar a verdade, nem roupa eu tenho para ir nessa tal festinha, que tipo de roupa os jovens de hoje em dia usam para ir a lugares com um som ensurdecedor e cheio de gente bêbada?
Mas meu irmão tem razão, eu tenho que parar de ser pessimista, talvez nem seja tão ruim quanto eu imagino e eu realmente não saio de casa para me divertir, só para ir ao trabalho. Mesmo assim estou sentindo que algo vai dar errado hoje... Não! Vai dar tudo certo e eu vou me divertir muito, pensamento positivo Alice!
Abro meu guarda roupa e a minha ideia de pensamento positivo se esvai rapidamente. Por que é impossível achar roupas para as ocasiões? Procuro por uma roupa ideal e diferente, já que meu irmão me disse para não ir muito sem graça, mas no fim acabo colocando uma calça jeans, um moletom e um tênis, como sempre. Pego meu celular e meus fones de ouvido e me jogo no sofá para esperar meu irmão, já que ele está se arrumando tanto que parece que vai ganhar um Oscar, talvez consigamos ir à festa amanhã.
- Que parte de "não ir sem graça" você não entendeu? - ele diz entrando na sala e me analisando de cima a baixo.
- Primeiro, nem ir eu queria, então se contente com o que tem. Segundo, você já deveria saber que a sua irmã não tem outro tipo de roupa - digo já sem paciência.
- Certo. Bom, como não era para estarmos saindo hoje, já que o papai e a mamãe estão viajando, eu arrumei uma boa desculpa. Se eles ligarem e a gente não conseguir atender, vamos dizer que acabamos dormindo enquanto víamos um filme.
- A mamãe nunca vai acreditar - falo já prevendo a merda que vai dar.
- Claro que vai, esse é um plano que não tem como dar errado! - exclama orgulhoso. Eu poderia fazer uma lista de todas as coisas que tornam esse plano um fracasso, mas não vou tirar a alegria do meu irmão e estou muito estressada pra isso no momento.
Chegamos ao local e eu já quero ir embora. A casa é bem grande, mas já tem gente transbordando no lado de fora. Olho para o meu irmão, bem, para onde o meu irmão deveria estar, mas não o vejo. Que ótimo! Eu estou na minha primeira festa, sendo espremida por um monte de gente, quase surda e ainda por cima SOZINHA! Com certeza a primeira coisa que eu vou fazer quando chegar em casa é matar o meu irmão por ter me colocado nessa situação.
- Você parece tensa, está tudo bem? - Uma garota estranha que parece ser legal me pergunta.
- O meu irmão me obrigou a vir e agora me deixou plantada aqui - eu digo tentando disfarçar todo o ódio que emana dentro de mim.
- Entendi - ela diz e me estende um copo com um líquido estranho dentro. - Beba isso, quando estou nervosa ou triste, essa bebida me ajuda a relaxar - completa e vai em direção à mesa, que só agora noto que tem mais desse líquido.
Encaro o copo, desconfiada. Pode ter tudo dentro dele, mas ele me parece convidativo. O João disse que eu preciso me arriscar mais, ser diferente. Ele também disse que o lema dele é "melhor se arrepender do que passar vontade", acho que eu não vou morrer se seguir essa filosofia ao menos uma vez. Depois de muito refletir, engulo toda a bebida de uma vez só e sinto o líquido amargo queimar na minha garganta, é horrível, mas me sinto bem agora. Não estou mais preocupada com meu irmão e nem quero ir embora, essa bebida ajuda mesmo! Vou até a mesa e pego mais um copo.
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Tropeçando no Amor
Teen FictionCercada por eventos desastrosos, um irmão encrenqueiro e um ex arrependido, Alice vê sua vida politicamente correta e normal virar completamente de cabeça para baixo após um convite perigoso. Ambos com problemas familiares e feridas profundas, Alice...