Único

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Elídio estava suando de nervosismo. Sentado no sofá da sala do apartamento de Daniel, ele olhava fixamente na direção do corredor em que o mais velho havia desaparecido alguns momentos antes, prometendo que não iria demorar, dando tempo ao mais novo de encher a própria cabeça de dúvidas. Começava a se arrepender por ter aceitado aquela loucura.

Onde ele estava com a cabeça?

Aquela noite de sábado havia iniciado de modo bem normal. Ele havia chegado ao teatro, se preparado para a primeira sessão do espetáculo, e resolvido alguns contratempos que volta e meia ocorriam em dia de show; mas que não o haviam abalado, pois estava bastante animado naquela noite. Depois de meses de uma seca terrível, finalmente iria ter um encontro. Estava pronto para "se aliviar" com algo que não fossem suas próprias mãos.

Mas quando pegou o telefone ao fim do espetáculo, viu sua empolgação ser apagada com um balde de água gelada em forma de mensagem de whatsapp:

Rodrigo: Oi Lico.

Rodrigo: Surgiu um compromisso e eu não vou conseguir te ver hoje. ☹

Rodrigo: Fica pra próxima, lindo.

Rodrigo: 👨‍❤️‍💋‍👨

Elídio não se deu ao trabalho de responder. Jogou o celular na outra ponta do sofá em que estava sentado e cruzou os braços, emburrado como uma criança que havia perdido seu brinquedo favorito. Ele estava realmente empolgado para aquela noite. Não por Rodrigo (sequer gostava do rapaz de cabelos loiros), mas estava ansioso para resolver seu problema. Suspirou, inflando as bochechas. Seria outra noite que terminaria sozinho.

Daniel, que observava a cena com um meio sorriso nos lábios, resolveu se aproximar. Tirou o celular do amigo do sofá e sentou no lugar, jogando suas pernas sobre as coxas do amigo, sem se importar com o olhar atravessado que recebeu.

— Por que esse bico? — questionou curioso, desbloqueando o celular de Elídio com sua digital e rolando pela página inicial do aplicativo de mensagens, tentando descobrir o motivo do desanimo repentino do melhor amigo. — Quem é Rodrigo?

— Deixa de ser abelhudo. — resmungou como resposta, se debruçando na direção do amigo para pegar o seu aparelho de volta.

— Hm. Tá zangado por que sua trepada foi desmarcada? — perguntou sem rodeios, fazendo Elídio bufar e cruzar os braços novamente. Daniel abaixou a cabeça e riu presunçoso, cutucando a coxa de Elídio com o calcanhar do tênis que usava. — Quem diria. Elídio Sanna com problemas pra conseguir sexo casual. Não pensei que fosse viver para ver esse dia.

— Ai Daniel, que saco! — Elídio empurrou as pernas de Daniel para longe, se ajeitando no sofá e virando o rosto para o outro lado. Não queria concordar com o outro, mas havia pensado a mesma coisa: não pensou que fosse ver o dia em que ele não fosse conseguir um simples date. Estava em uma fase lastimável na sua vida amorosa.

Daniel deu uma risadinha e arrastou o corpo até o amigo, deitando a cabeça no ombro dele. Elídio o olhou rapidamente e bufou, mas não tirou o mais velho dali. Daniel colocou a mão na perna de Lico e começou a brincar com seus dedos sobre o tecido da calça jeans, mordendo o lábio inferior enquanto pensava se perguntava o que queria perguntar. Talvez fosse o efeito da bebida que havia tomado há alguns minutos ou o pensamento de que não teria outra oportunidade daquelas, mas estava com a mente cheia de ideias que muito o agradavam.

— Lico? — chamou baixinho, recebendo um grunhido como resposta. — Se você quiser... Eu posso te ajudar a resolver seu problema.

— O quê?! — indagou surpreso, virando a cabeça tão rápido que doeu. Daniel não estava olhando, mas Elídio conseguia ver um sorriso travesso nos lábios finos. — Daniel?

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