Capítulo 35

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Juliane

Cinco dias que não tenho sequer um vislumbre de Alexander. E ainda que eu sinta falta da rotina que tínhamos, e de sua personalidade aterradora, eu estou aliviada com esse tempo que tivemos para pensar longe da interferência física que sempre temos na presença um do outro.

Durante esses meses eu fui cultivando sentimentos e me envolvendo cada vez mais, cada coisa que eu via, cada pontinho do seu jeito, cada atitude construindo isso e me encantando. E talvez eu não tenha brecado algo, não tenha visto, ou apenas não estava na hora do susto. Me sinto meio perdida, o lado que gosta dele, que viu muito mais que isso e que reconhece que ele parou antes, e o outro que para e pensa que porra ele pensou em fazer.

O fato de ele estar tão envergonhado amansa meu medo e tenho receio que eu caia em uma cilada. E eu não vou, não quero, não aceito me submeter a isso.

A hora de nosso encontro para a inevitável conversa esta chegando e a ansiedade é um nó em meu peito. Medo, receio, apego, saudades também.

Por Deus, nós encaminhamos rápido demais para estar assim desse jeito em poucos meses. Será esse o erro? Será que ele está vendo esse possível erro assim como eu?


Alexander

Saio da sala com mais 15% de peso a menos, isso já é 25% ao todo e a esperança de que não sou um caso perdido e que eu posso trabalhar com isso.

Ando no automático com o único pensamento de me encontrar com Juliane. Me resumindo a medo e saudade.

Por mais determinado que estou a resolver isso, não posso fazer nada se ela não me quiser mais. Que ela não queira a minha carga, minhas merdas ainda não resolvidas.

Foram a merda de cinco dias.

Será que ela sentiu essa falta que me apertou o tempo todo? Esse medo de não dar certo? De virarmos estranhos?
De onde eu tirei que ela seria uma para mim eu não sei, nunca seria. Mas doeria como um caralho se eu me tornasse um para ela.

Vou por todo o caminho, que dou graças a não ser muito, atormentado.

A vejo me esperando na porta da minha casa, me paro, bebendo dramaticamente de cada detalhe seu. A face no rosto redondo parecendo aflita e o aperto em meu peito se intensifica por medo da razão.

Saio do carro sem desviar meu olhar. Seu pequeno sorriso dirigido a mim me parte em dois, sério, o medo está me tirando total capacidade de percepção, e por mais que tenho passado os últimos meses observando cada detalhe dessa mulher, nesse momento não sou capaz de discernir se o que recebo é consolação ou carinho.

Me aproximou ainda assim em passos rápidos, seu rosto se inclina para cima quando exito poucos segundos antes de puxá-la para os meus braços. A tensão de suas curvas se soltando ao se aconchegar a mim é como ar puro depois de se afogar.

Meu Deus, que isso seja um bom sinal. Que de tudo certo. Que essa mulher não saia da minha vida.

— Só pra constar: eu senti sua falta. — é isso, ela tinha uma canal direto com tudo meu. Aquela afirmação quase me pôs de joelhos. Minhas pernas realmente chegaram a falhar e seu braços se apertaram mais ao meu redor.

— Eu sou muito errado em dizer que me sinto feliz e aliviado por isso?

— Não. E eu vou entender isso como um "eu também".

Dou o primeiro sorriso pleno em cinco dias.

— Eu acho que senti mais do que sua falta, Juliane.

Seu sorriso me abençoa e eu me desmancho em pé quando seus lábios se encontram com os meus.

Essa mulher tem uma conexão direta com meu coração ou ela é ele todo?

Passamos bons minutos, ou talvez fossem horas, sentados, não adiando, mas apenas suprindo a falta sem vergonha que estávamos sentindo. Nada apenas que aconchegados, no nosso silêncio confortável. Meu peito subindo no compasso do seu, sua mão agarrada em minha roupa, o nariz encostado em meu peito.

A aperto mais antes de começar a falar, nunca sei como começar, até porque nunca pensei que fosse ter que iniciar um dia esse assunto, só sei que não quero soltá-la, não ainda. Nunca?

— Eu poderia iniciar isso dando ainda mais desculpas. Colocar boa parte da parcela de culpa em tantas coisas, mas eu tenho a merda de mais de trinta anos e não sou sem vergonha a esse ponto. Procurei ajuda, Juliane. Posso dizer nesse momento que tenho total consciência da minha dependência e da carga que estava colocando em cima de você. Não quero, não posso e não vou permitir que isso se estenda.

Seus olhos limpos me dão total atenção e nenhum milímetro sequer do seu corpo me afasta.

— Eu vou mudar. Farei um acompanhamento, não colocarei a carga de me ensinar sobre você. Não é sua função, você não é psicóloga ou meus pais para me ensinar como agir, ter bons modos ou qualquer coisa do tipo. Podemos aprender juntos a ter um relacionamento, mas não a mudar minha mente em determinadas coisas, isso é obrigação apenas minha. — paro para respirar e dou a ela o meu medo— Isso se você ainda me quiser, é claro.

Seu silêncio me espera, com a paciência que eu nunca tive.

— Eu sou apaixonado por você, Juliane, e se eu entendi bem em meio ao belo tapa de pelica que me deu dias atrás, eu acho que o sentimento é recíproco. —Espero mais do que tudo que seja. —  O que eu quero saber é se você pode esperar por mim, por uma versão melhor que nem eu conheço mas quero dar para nós. Você pode?

Recebo o silêncio por um punhado de tempo, enquanto seus olhos não deixam nada passar por mim. Escrutinam tudo antes de falar.

— Eu acho que você está muito certo. Acho que é bem recíproco. — o bombo volta para o meu peito, minha respiração alta se cortando com a próxima coisa que ela me diz.

— Eu não vou esperar por você, eu vou esperar com você. Por enquanto, eu não vou a lugar algum.

Isso, meus amigos, é algo que eu não posso descrever.

— Você sabe que eu estou me encaminhando muito rapidamente para um mais, não é?

Coloco sua mão em meu peito para que sinta as batidas de loucas do meu coração.

— Eu acho que estamos, Senhor Warner. Acho muito, que estamos!

Sr Warner [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora