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   Sinto um som ecoando pelo quarto fazendo meu corpo se mexer em minha cama quentinha e confortável. Meus olhos dão pequenas piscadelas e aos poucos vou despertando com aquele som. Quando abro os olhos o suficiente para analisar meu quarto, viro bruscamente meu olhar para a pequena mesinha branca, que está ao lado da minha cama.

- Droga! – Em um solavanco pulo da cama e pego o objeto que fizera me despertar, meu celular, que marcava o horário que eu havia programado para estar no aeroporto. Percebo em meio as notificações do meu celular que há 10 chamadas perdidas da minha mãe. – Pra piorar tudo.

 Jogo o meu telefone na cama e saio correndo para o banheiro para preparar um banho rápido e vestir algo confortável, afinal um voo de Los Angeles até Paris não era tão curto assim.

Meu corpo ainda está fraco por ter despertado tão bruscamente, mas ao entrar no chuveiro e sentir aquela água quentinha descendo pelas minhas costas, arfo com a sensação prazerosa. Em menos de 10 minutos, saio o banho e vou para o quarto procurar alguma roupa. Uma legging preta, um tênis branco da Adidas, que combinaria à camiseta branca com decote em V, e um blazer preto. – Perfeito.

No cabelo, apenas um coque às pressas deixando minha franja solta. Faço uma maquiagem simples, apenas para esconder as marcas de cansaço pela noite anterior mal dormida. Estava tão ansiosa pela viagem que não consegui pregar os olhos a noite. Separo um óculos escuro para o uso durante a viagem.

Ao terminar de me arrumar, pego minha bolsa e minhas malas, partindo em direção a saída do quarto. Quando já estou no fim do corredor de casa, ouço batidas estrondeantes na porta.

– Mãe... - Falo com o sorriso fraco já imaginando a bronca que irei levar.

Deixo minhas malas no canto da sala e parto em direção a porta para abrir para a mulher impaciente do outro lado.

- Ava, você não aprende nunca né? Mais uma vez se atrasando para compromissos sérios! Estou te esperando no aeroporto já faz 40 minutos. O que te fez perder o horário desta vez?? – Minha mãe anda de um canto ao outro pelo meu apartamento, enquanto esbraveja sua impaciência.

- Sono. - Falo baixo enquanto fecho a porta para olhar em direção a ela.

Não aguento e solto um riso bobo ao ver a cara tão séria de mamãe. Seriedade não combinava nem um pouco com dona Emma Crawford. Passamos por muita coisa juntas depois que papai morreu, em decorrência ao seu trabalho. Eu tinha apenas 6 anos, mas lembro de cada momento em que passei com ele. Sentia que estava conosco a todo momento, nos protegendo. Mamãe sempre se mostrou uma pessoa forte, ainda mais depois que papai se foi. Mas ainda assim, sentia que sua verdadeira felicidade havia ido embora junto com ele.

Pego novamente minha bolsa, certificando que todos meus documentos, carteira e passagem, é claro, estavam ali.

– Tudo ok - Falo comigo mesma e sinto minha mãe me fitar enquanto checo minhas coisas.

- Vou sentir sua falta, filha. - Minha mãe fala com tom abatido.

Olho para ela e vejo seus olhos prenunciarem a cair algumas lágrimas. Não leva um segundo para que eu corra em direção aos seus braços. Ela passa as mãos em meus cabelos me fazendo suspirar em meio ao seu abraço.

- Eu vou mandar mensagem, chamada de vídeo, o que for todos os dias, mamãe. Eu prometo. – Falo apertando mais ainda nosso abraço.

Uma de suas mão corre para seus olhos para secar as lágrimas que insistiram cair. Levanto meu olhar em direção ao seu e dou um beijinho na ponta do seu nariz, fazendo ela rir sem jeito.

- Vamos, eu levo você até o aeroporto. Não quero fazê-la perder o voo – Mamãe separa nossos corpos caminhando até a porta da entrada do meu apartamento, me ajudando carregar as bolsas. 

Eu estava levando tanta coisa, mas era necessário. Estava a caminho do meu grande sonho. Por sorte, meu apartamento não ficava tão longe do aeroporto, cerca de 15 minutos de carro. O silêncio nos acompanhou por um momento durante o trajeto, então mamãe preferiu ligar o som para trazer alguma voz para aquele carro. Eu preferi me perder nos pensamentos, enquanto passava pelas ruas de L.A. Eu amava morar aqui, o clima era agradável, apesar de quê no verão, o calor era absolutamente terrível. Mas mesmo assim, aquela cidade me trazia memórias boas, como as que eu tinha com meu pai, quando ele me levava para tomar sorvete. Ou quando íamos para praia, aproveitar seus fins de semana livre.

Oliver, ou "papai Oli" como eu chamava, era muito atarefado. Ele foi Coronel na Los Angeles Police Department, sempre dedicado no que fazia. Sorrio enquanto me debruço na janela do carro, sentindo o vento soprar meu cabelo. Fecho os olhos com aquela sensação gostosa.

- Eu nem preciso perguntar o motivo desse sorriso. – Mamãe responde, acreditando que aquele sorriso fosse em decorrência da viagem.

Era um dos motivos, então ela não estava totalmente errada.

- Estava pensando no papai. – Replico.

Olho para ela, mas ela volta seu olhar para a estrada. Não responde nada, mas sei o que ela queria dizer. Mesmo após 19 anos, mamãe não havia superado a morte de papai. Ela estava indo me buscar na escola, quando recebeu a ligação de que papai tinha sido gravemente ferido em uma ação policial. Até hoje lembro-me do seu olhar perdido, enquanto escutava o amigo de papai dando a notícia pelo telefone. Ele ficou internado por duas semanas no hospital em coma, até seu corpo não aguentar e partir. Esse foi o momento mais doloroso para nós, mas principalmente para mamãe, que esteve ao lado dele até seu último suspiro.

Chegando ao aeroporto, checo mais uma vez minha bolsa para ter certeza que não esqueci nada.

- Você só vai parar de conferir as coisas quando chegar lá, não é? – Mamãe para o carro no estacionamento e começa a analisar o que estou fazendo.

- Acredito que ainda sim, irei continuar checando para ver se não esqueci nada. – Ambas caímos no riso.

Saímos do carro e partimos em direção a entrada do aeroporto. Procuro o painel sobre o status do meu voo – Perfeito! – Eu havia chegado faltando 1 hora para saída do meu voo. Eu já havia feito o check-in em casa, o que daria mais tempo para me organizar no aeroporto e fazer todas aquelas burocracias comuns de voos internacionais.

Fiz todo o necessário para poder viajar, e agora estava apenas esperando chamarem o voo para o embarque. Enquanto isso, ficava relembrando os últimos momentos que passara com a minha mãe antes de nos separarmos. Ela tentou a todo custo segurar o choro, mas não resistiu. 

Ela apenas me abraçou, o mais forte que conseguia, enquanto eu afundava meu rosto no seu pescoço sentindo seu perfume floral que sempre me acalmava. Mamãe me ajudou o quanto pôde para eu realizar este sonho: estudar durante um ano Moda em Paris.

Eu havia conseguido uma bolsa de estudos em um dos melhores institutos de Paris, a RIVERS. Era uma escola renomada, eu tive que estudar durante um ano inteiro para conseguir passar na prova. E essa oportunidade da bolsa fez eu realizar meu sonho.

A voz de uma aeromoça ecoa pelo microfone me fazendo acordar dos meus pensamentos. Estava tudo pronto para o embarque. Senti um leve frio na barriga ao caminhar até o portão de entrada para o avião. Entreguei meu bilhete para a aeromoça que confirmou o voo, devolvendo me de volta. Enquanto eu prosseguia, um sorriso tímido se formava em meu rosto. Mordo o lábio inferior tentando conter a alegria que estava crescendo dentro de mim, mas por fora eu queria berrar o quanto estava contente por tudo aquilo. Eu estava prestes a mudar meu futuro, realizar meu sonho.  

Burning Desire - Pedro Pascal (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora