Capitulo 1 - Lamentos

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Era normal ele estar sozinho em casa enquanto seus irmãos saiam para beber. Sem ele, era mais divertido, afinal. Sem costelas quebradas pelas suas palavras dolorosas, sem eles ficando zangados pela sua própria existência. Sem seus irmãos zangados, o pobre coração de Karamatsu não sofria tanto.

Mas sofria de qualquer jeito. Estar sozinho o machucava demais, ver que não era necessário sua existência, e que se ele nem sequer tivesse nascido, todos estariam mais felizes.

Um lixo, desnecessário, doloroso... É isso que ele sempre foi.

Seu peito doía demais ao pensar essas coisas. Ele tentava evitar, mas era impossível não se sentir assim. Deus, ele só queria ser ouvido, ele queria gritar, implorar por um pouco de atenção, de carinho. Era pedir demais que seus irmãos, sangue de seu sangue, o amassem como ele o faz?

Mesmo que sofresse, ele escondia esses lamentos, escondia tudo no mundo de seu ser, e sorria, aceitando tudo. E isso machucava, Deus, como machucava.

De repente, Karamatsu sentiu uma dor física, ele levantou a mão, e viu um corte relativamente grande nas costas de sua mão. Sangue começou a sair do machucado, e ele mal conseguiu reagir.

"Como que eu me machuquei? Eu estava parado!" Não fazia sentido, o sangue estava escorrendo e pingando no carpete do quarto. Era um corte reto, quase muito perfeito. Ele logo então se levantou, ainda confuso, e ia em direção ao banheiro para tentar parar o sangramento, o sangue pingando enquanto ele andava.

"Tenho que limpar ligo aquela mancha, se não meus irmãos vão ficar bravos..."

De repente, ele sentiu novamente aquela dor, desta vez na outra mão, mas mais forte dessa fez. Ele levantou a mão dolorida, e ficou apavorado com o que estava ali. Na palma de sua mão, mais um corte, mas desta vez mais profundo e dolorido, sangrando com a imagem clara de uma palavra.

"Irmão"

Karamatsu ficou encarando aquela palavra sangrar na sua pele, o olhar apavorado. Deus, o que estava acontecendo com ele?

De repente, o braço anterior voltou a doer. Logo abaixo, mais cortes apareciam, mas desta vez, Karamatsu conseguia entender. Eram números. Agora o primeiro corte fazia sentido. Era uma contagem.

一 

"Um"

"Dois"

"Três"

"Quatro"

"Cinco"

"Seis"

E parou. Karamatsu observou a contagem ir, quase conseguindo ver uma lamina passando pela sua pele, os números subindo pelo seu antebraço, e acabando no cotovelo. Deus, aquilo doía. Sangue jorrava dos cortes, que Karamatsu não entendia de onde vinham.

E então, o segundo numero começou a ser riscado, causando mais e mais dor nele. Muitos cortes eram feitos naquele numero, e Karamatsu não aguentou a dor e acabou caindo no chão, gritando de dor.

Então, ele começou a sentir muitos cortes sendo feitos em todo seu corpo. Nas costas, no abdômen, nas pernas, e apenas um do rosto.

A esse ponto, ele já gritava de dor, e seu sangue manchava o piso, a parede, e suas roupas.

Ele não entendia o que estava acontecendo, e não conseguia parar para pensar nisso, ele só conseguia sentir dor por todo seu corpo, e gritar de dor.

- Faz parar! Para! Chega! Por favor! Para! - Ele gritava sem parar, lágrimas correndo pelos seus 

olhos.

Então, a dor e a perda de sangue se tornou tamanha, que ele não conseguiu mais ficar consciente, e desmaiou ali mesmo no meio do corredor, deitado no próprio sangue e tormento.


Os cinco irmãos logo voltaram para casa, todos despreocupados, fazendo piadas entre si. O dia tinha sido incrível, foram no pachinko e Osomatsu finalmente venceu, então saíram para comer num lugar chique, gastando tudo de uma vez só, e então indo no posto do Chibita para beber, e novamente não o pagaram.

Quando chegaram em casa, sentiram um peso pesado sobre seus ombros, e ninguém mais falou. Todas as luzes estavam desligadas, e estava silencioso demais.

- Ei, o Karamatsu não estava em casa? - Perguntou Todomatsu, o mais novo, assustado pelo clima pesado e anormal.

- Talvez ele tenha saido - Respondeu Choromatsu, o mais racional, tentando ignorar aquela sensação ruim que ele sabia que todos estavam sentindo.

- Quem se importa com ele? - Ichimatsu diz, não dando atenção, e passando na frente de todos para ir ao quarto. - Estou com sono, vamos logo dormir.

Ele ignorou as queixas dos outros, e deixou os sapatos na entrada ficando de pés descalços e subindo as escadas. Ele foi direto até o quarto, nem olhando para o corredor. Mas então ele sentiu algo estranho pelos seus pés. Algo úmido e pegajoso. Um calafrio percorreu sua espinha, e devagar, olhando para o chão, ele seguiu aquela trilha de pingos até o corredor, quando viu o que estava ali, gritou a plenos pulmões, caindo no chão.

- Ichimatsu!? - Osomatsu, o mais velho, gritou, subindo as escadas para ver o que tinha acontecido, sendo seguido pelos seus outros irmãos.

- O que aconteceu? - Choromatsu pergunta, chegando logo atrás do mais velho.

Ichimatsu, tremendo, aponta para onde estava o corpo de Karamatsu.

Todos ficaram paralizados ao ver o segundo irmão jogado no chão, sangue para todo o lado.

- Karamtsu-nisan! - Jyushimatsu foi o primeiro a sair daquele choque, e correr para seu irmão.

Quando ele saiu correndo, os outros acordaram, e também correram até o segundo irmão. Jyushimatsu, chegando primeiro, pegou o corpo do irmão, não se importando em se sujar de sangue, e virou-o para cima em seus braços.

O rosto de todos ficou branco ao ver o que tinha escrito em uma se suas bochechas.

愛して

"Me ame"

Passagem espiritual - Osomatsu-sanOnde histórias criam vida. Descubra agora