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MIA.  

                                       — Faz dois dias desde o ocorrido, e ainda estou com medo. Depois que chegamos em casa naquele dia, o Nicolas me bateu muito, e meu corpo ainda dói em cada movimento. Tento esconder a dor sempre que ele olha pra mim, porque qualquer sinal de fraqueza parece atiçar ainda mais a sua raiva. Mas a verdade é que estou exausta, física e emocionalmente.
                          Desde então, cada segundo parece uma eternidade. Eu fico imaginando quando o Richard vai aparecer. Ele disse que viria me buscar, mas até agora nada. Tento me convencer de que ele deve estar planejando algo ou esperando o momento certo, mas o silêncio dele me atormenta.
                     Enquanto isso, continuo fingindo com o Nicolas. Não é fácil. Cada palavra, cada gesto tem que ser cuidadosamente calculado para não despertá-lo de novo. Tento sorrir, dizer que estou bem, que ainda o amo, que quero que as coisas voltem a ser como antes. Tudo mentira, claro, mas preciso ganhar tempo.
                   Hoje de manhã, ele perguntou por que estou tão calada. Disse que era só cansaço, que as dores no corpo ainda eram por causa da "briga" que tivemos. Ele riu e disse que eu era fraca. Tive que rir junto. Meu estômago embrulhou, mas segurei. Enquanto ele saiu para resolver alguma coisa, fiquei sozinha. Peguei meu celular escondido, olhei pela janela para ter certeza de que ele não estava por perto e mandei outra mensagem para o Richard. "Por favor, venha logo. Não sei quanto tempo consigo segurar isso."
                Apaguei a mensagem imediatamente depois de enviada, por segurança. Meu coração está apertado. Não sei se ele vai responder, mas preciso acreditar que ele virá antes que seja tarde demais.

RICHARD.   

         
                               O estádio em São Paulo estava fervendo, cada grito da torcida fazia o chão vibra, mas tudo aquilo parecia um ruído distante para mim. Aquele jogo, o mais importante para minha carreira. O olheiro que todos sonhavam em impressionar estava na arquibancada. Esperando para avaliar meu desempenho. Isso deveria ser a única coisa na minha mente. Mas não era.
                  Era Mia. A mensagem dela não saiu da minha cabeça. Desde o dia em que recebi aquele "Por favor, venha logo", meu coração estava apertado. Algo estava muito errado, e a ideia de que ela ainda estava presa com Nicolas me tirava o sono. Foi por isso que contratei um investigador. Eu precisava de respostas, porque esperar por um sinal dela era tortura.
                Estava no vestiário, tentando me concentrar enquanto amarrava as chuteiras, mas minhas mãos tremiam. A cada minuto que passava, o peso daquela decisão se tornava insuportável. Peguei meu celular pela décima vez, verificando se havia alguma mensagem nova. Nada. O silêncio dela era ensurdecedor. O técnico entrou e começou a dar as últimas instruções, mas eu mal conseguia ouvir. Foi quando o telefone vibrou na minha mão. Olhei para a tela e vi o nome do investigador. Meu coração disparou.

— Richard?— Ele começou direto.— Eu descobri onde ela está. Mia está em Recife, em uma casa alugada por Nicolas. Tenho o endereço completo.

                        Meus pulmões se encheram de ar, mas a sensação de alívio durou pouco. O que fazer? Minha mente foi tomada por um turbilhão. Eu estava prestes a entrar no jogo que poderia mudar minha vida. Mas Mia... Ela era minha vida.
                      Fiquei em pé, passando as mãos pelos cabelos. Os gritos de incentivo dos jogadores no corredor me trouxeram de volta à realidade. O técnico me olhou, percebendo minha inquietação.

— Richard, está tudo bem?

                          Respirei fundo, tentando ordenar meus pensamentos, mas cada segundo parecia uma eternidade. Olhei para o técnico e depois para o campo iluminado, onde eu deveria estar em poucos minutos.

𝔇𝔢𝔳𝔲𝔢𝔩𝔳𝔢𝔪𝔢 𝔢𝔩 𝔠𝔬𝔯𝔞𝔷𝔬𝔫 - Richard Rìos Onde histórias criam vida. Descubra agora