Esse foi o fim

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Sabrina Alano

(Recomendo escutarem - sing of the times, Harry Styles)

A falta de Fernanda já não me consome tanto, desde de a última conversa com o meu pai, tenho me sentindo bem melhor, acho que tudo isso foi necessário, a ingenuidade me torna fraca e nunca mais vou me permitir ser fraca.

Nos últimos dias eu me concentrei muito no trabalho, hoje mesmo ensaiei coreografias de dois shows diferentes, era necessário ocupar minha cabeça, mas como a Millena diria "a pausa é necessária" é isso que pretendo fazer hoje, pedir uma pizza e assistir alguma série.

Antes de ir pra banheira, eu faço um leite aromatizado com hortelã, já que passei a noite de ontem e o dia todo com uma sensação ruim. Me sinto melhor e sigo para um merecido banho, mas meus planos são interrompidos por uma ligação. Minha tia Marta não costuma ligar, sempre ocupada no trabalho e nos afazeres domésticos, começo a ter uma sensação ruim, mas não deve ser nada.

-Oi tia, tá tudo bem?

-Oi querida, eu gostaria de dizer que está, mas não devo mentir pra você, o que eu tenho para dizer é terrível -ela mal termina de falar, como se estivesse engasgada pelo choro, que por sua vez parece não ter cessado desde o início do dia.

-Como assim tia, o que aconteceu? -começo a pensar em um milhão de possíveis tragédias, mas nada aperta mais o meu peito do que quando eu penso na pessoa que eu mais me preocupo- Tia, fala comigo, é o meu pai? -sou eu quem solta lágrimas agora, e elas não param de descer, principalmente porque a minha tia não consegue me responder.

-Bina, aqui é a nany -minha prima Mariany é quem fala entre soluços- Sinto muito, minha mãe não consegue falar talvez em breve eu não consiga também, o tio Gui... faleceu prima, eu e meu pai estamos indo te buscar.

Não, não ele não!!! Meu pai, minha vida , o homem que me criou, com minha mãe, e sozinho desde os meus 15 anos, esse cara, que tocava violão pra mim, fazia cafuné no meu cabelo até eu dormir, o cara que me dava os melhores conselhos, o meu melhor amigo, como? Como a vida pode ser tão cruel a ponto de tirar ele de mim?

-Como? -minha voz sai em um sussurro, as lágrima caem e eu estou no chão, literalmente despencada no chão da minha sala.

-Eu tô indo prima em breve chegaremos aí -ela fala, parecendo cansada de conter as lágrimas, e encerra a ligação.

Eu grito, entre os soluços saem às lágrimas, a dor vem, me destrói, eu não tenho forças pra levantar e nem quero. Quero meu pai, meu paizinho porque ele...

Não sei ao certo quanto tempo faz que estou aqui, deve ser muito já que escuto o que parece ser um carro em frente a minha casa, ainda permaneço imóvel de toalha no chão da minha sala. Eu não consigo e nem tenho mais forças pra chorar, o que saem são chiados, sem lágrimas que, infelizmente não amenizam em nada a dor que eu sinto.

Nem mesmo ver a minha prima faz eu me sentir melhor, ela que é como uma irmã mais nova pra mim, desde sempre estamos ao lado uma da outra, tia Marta irmã do meu pai, ajudou muito quando minha mãe foi morar em outro continente, e a Mariany se tornou a melhor amiga que eu podia ter. Mas ninguém pode me ajudar, nesse momento ninguém pode retirar esse sentimento, ninguém é capaz de me devolver a coisa que eu mais amo nesse mundo, e que foi tirada de mim.

Já não sou capaz de discernir o que acontece e só apago, quando eu caio em mim, sei que já não estou mais de toalha, estou vestida e entrando no carro do meu tio Fábio, Mariany está ao meu lado segurando a minha mão, ela derrama lágrimas, eu me vejo no retrovisor e o reflexo é realmente o espelho de como eu me sinto: um corpo vazio, sem sentimentos, sem... NADA.

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