Sabrina Alano
Já faz quase três semanas, que tudo aconteceu, os dias parecem ser todos iguais desde então. Estou morando com meus tios e minha prima Mariany, o quarto de hóspedes é... confortável, mas nem de longe eu me sinto em casa. Sei que não é culpa deles, acho que essa cidade não é pra mim, tudo aqui me lembra o meu pai, tudo faz eu ter vontade de abraça-lo, sentir seu cheiro, ouvir sua voz... um misto de saudade e dor, muita dor.
Nos últimos dias as minhas emoções tem sido mais amenas, a Mi tem me ajudado e a Nany também, do jeitinho delas, eu às agradeço muito por tudo, mesmo que não expresse isso em palavras. Já passa das três da tarde, está fazendo um leve frio graças a chuva branda que está presente desde a madrugada, talvez em uma outra realidade pudesse ser um dia perfeito, mas não na minha.
*mensagem*
"Nanda: Meus sentimentos Brina, espero que você esteja bem, se precisar de uma amiga pra conversar estarei aqui."
"Sabrina: Valeu Nanda"
Eu ia escrever algo do tipo, "sim eu preciso de você, vem agora", mais minha amada prima me interrompeu, talvez porque uma lágrima teimou em descer.
-De jeito nenhum Bina, iremos ainda mais baixo do que já estamos? -Millena fala tomando o celular da minha mão.
-Eu só ia agradecer mesmo Mi, por favor sem alvoroço.
-Ótimo, já agradeceu, agora vamos de superar! Faça um favor a si mesma bloqueia, e depois apaga esse número. -ela conclui e me olha como se eu fosse uma criminosa- Mudando de assunto, Mariany saiu do trabalho agora e vai trazer açaí pra gente, então se anima e toma um banho prima, você tá fedendo a lençol guardado.
Ela sai do quarto sem nem me dar a chance de bater nela, mas está certa em muitas coisas, em tudo na verdade, -conclúo isso após cheirar minha blusa-. É claro que uma mensagem de pêsames não altera tudo o que a Fernanda fez, isso não mudou o que ela sente, decido então fazer o necessário e dou adeus para Nanda, sinto até um certo peso saindo, em seguida vou para o banho.
Depois que a Nany chegou, fomos pra sala de TV assistir um filme, nem sei qual, não prestei a menor atenção, estava absorta, como se só o meu corpo estivesse lá e mais nada, tem sido assim desde o momento que perdi a pessoa mais importante pra mim:
-Quer que eu desligue Bina? Você parece estar, cansada. -Mariany olha pra mim, parecendo talvez tão cansada quando eu.
-Realmente, vou desligar -Millena diz se levantando do sofá.
-Desculpa meninas, talvez eu não esteja no clima pra filmes, nem pra nada -eu falo e limpo algumas lágrimas.
-Para com isso, venham aqui. -Em um ato de amor sincero a Mi nos juntou em um abraço.
Nós permanecemos nos braços da mais velha, Mariany estava praticamente cochilando e eu também, quando alguém bateu na porta:
-Eu vou lá -A mais velha é quem diz, enquanto eu enrolo a coberta e levo para o quarto ao passo que Mariany da um pulo no sofá.
-Bina é pra você... -ela parece estar surpresa, mas isso não me causa nenhuma reação, já sei que é alguém vindo dar as condolências, estou tão exausta de tudo isso.
-Está bem, vamos comigo Nany?
-Acho melhor você ir sozinha prima -ela faz a cara clássica de por favor me obedeça, e é o que eu faço, sem vontade de contraria-la sigo sozinha para a sala de estar.
De todas as pessoas que eu esperava receber os pêsames, um policial estagiário ainda não tinha passado pela minha cabeça. Vem até um desprezo involuntário em minha mente, provavelmente fruto do cansaço. Mas tudo muda quando eu assimilo o seu rosto, está mais alto, mais forte também eu diria, fora isso não mudou muito, Phedro Santiago é quem está na minha frente. E, parece desesperado...
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A Sombra de um crime
AçãoSabrina Alano é uma dançarina bem sucedida, mora sozinha no sul do país, sua mãe Lucy Amaro está na África pela causa das crianças carentes desde que se divorciou, seu pai Guilherme Alano mora na sua cidade natal e é um delegado extremamente compete...