OITAVO CAPÍTULO

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OITAVO CAPÍTULO

Aquela madrugada ficará para sempre gravada em minha mente.

Assistir médicas, cientistas e enfermeiras adentrando ao meu apartamento como se estivessem preparadas para barrar o fim do mundo, foi desesperador.

Últimos de praticamente a ala inteira, e alguns cuidadores também, estavam parados na minha porta, presenciando tudo de longe, ao mesmo tempo que eu, desnorteado e solitário, enquanto sentado no piso do meio da sala, chorava aos gritos. Como se tal coisa fosse capaz de trazer a saúde, o sorriso, a paciência, a presença dele... Como se tal coisa fosse capaz de trazer Hwang Hyunjin de volta.

ㅡ Felix, recomponha-se! ㅡ Sana gritava do banheiro em alto e bom tom, durante o tempo em que ajudava doutora Momo a reanimar o maior, deitado sobre a cerâmica fria e, agora, tingida de vermelho. ㅡ Ele apenas desmaiou! Para com isso, por favor! Ele sente seu sofrimento, Felix, só vai piorar, então para, por favor!

Eu não consigo! ㅡ Minha mente vozeia em completa bagunça, viajando sobre a culpa avassalante. ㅡ Se Hyunjin morrer, eu não vou suportar, eu não vou aguentar, sem ele! Eu...

ㅡ Lalisa, aplica um tranquilizante naquele garoto... O Felix está fora de si. ㅡ Sana, firme e até mesmo aborrecida, ordena para a moça de longos fios ruivos, que rapidamente assente, acatando o que fora mandado, preparando, sem demora, algo ao meu lado. Não dou a mínima importância, apenas continuo com os olhos grudados no Hwang coberto por uma manta térmica socorrista. ㅡ Talvez assim ele consiga recobrar a consciência. ㅡ Diz, fazendo uma avaliação completa no corpo do maior com uma pequena lanterninha em forma de caneta. ㅡ Precisamos desobstruir as vias respiratórias dele, Hirai, ele está perdendo muito sangue, se continuar assim ele pode morrer por asfixia!

ㅡ A temperatura dele despencou, está tendo uma crise hipotérmica ㅡ Momo, ajusta o Hyunjin para dentro da manta socorrista, prendendo-o como num sushi enrolado na folha da alga. ㅡ Precisamos levá-lo com urgência para o laboratório, rápido! Preparem a maca!

Após a enfermeira injetar, vagarosamente, todo o líquido em minha veia, um enorme peso caiu sobre meu corpo. Eu não sentia mais ímpeto de gritar. Várias coisas, naquele instante, deixaram de fazer sentido. Eu não tive controle sobre meu corpo e, com auxílio da Lalisa, deito-me sobre o tapete, mesmo que contra minha vontade eu fizesse.

Minha visão, desfocada, sopesava sobre o meu desejo de continuar vendo o que faziam com o meu cuidador. Foram quase dois minutos, mas ainda assim ouvia vozes ao longe, apesar de não conseguir distinguir de quem eram, havia muitas pessoas ali.

O rosto triste e desacordado de Hyunjin, fazendo par com minha mão jogada sobre o tapete, também manchada por seu sangue, foram minhas últimas memórias, pois em menos de ㅡ rápidos e míseros ㅡ dois minutos, tudo nublou, perdeu o brilho, e a escuridão levou minha consciência para um lugar distante. Distante de quem eu amo, distante de Hwang Hyunjin.

Aquele sono não foi reconfortante ou tranquilo, amarras em todo o meu sistema eram sentidas. Meu corpo ressoava em pouca intensidade com o corpo do meu cuidador. Sentia no íntimo a sua preocupação e angústia. Hyunjin parece lutar para que não me leve junto a si naquele momento de desastre atual. Ambos nós desacordados, mesmo assim presentes.

Mas tudo tem um fim, é uma assertiva que nos persegue, enquanto vida tivermos.

Num segundo o tenho, noutro, não sinto mais a sua presença.

Quando minha visão, aos poucos, foi tomando forma de todas as imagens à minha volta, notei que não estava sozinho. Num quarto inteiramente branco e bastante luminoso foi onde despertei do transe inerte e cruel.

LI(v)E • { hyunlix }Onde histórias criam vida. Descubra agora