EPÍLOGO

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EPÍLOGO

Saber que todo aquele tempo o Hyunjin planejou em silêncio uma maneira de como burlar a nossa conexão para beneficiar a mim, fez com que eu entendesse algumas de suas ações ao meu respeito.

Mesmo ele me dizendo quase diariamente que poderia, sem hesitar, morrer por mim, eu não conseguia ㅡ ou não queria ㅡ enxergar a veracidade disso, pois eu sabia sobre a nossa conexão e se ele morresse eu iria junto, deveria ter sido assim; contudo, não foi.

Mas o Hwang foi muito inteligente, ele se sobrepôs a algo visto como imutável, ganhando uma certa admiração de minha mãe e sua companheira. Pena que elas desenvolveram isso apenas diante dessa tragédia.

Hoje elas o admiram, porque viram suas verdadeiras intenções, sempre benéficas para mim. Antes, tinham medo dele fazer o mesmo que o cuidador de meu irmão fez ㅡ se é que podemos chamar tal conexão de traição, não foi o que pareceu. Até então, penso que se o Minhyuk e seu cuidador tivessem um tempo a mais, eles teriam tomado alternativas diferentes, principalmente porque a ligação sentimental é mais forte do que eu imaginava, envolve vitalidade, corpo, alma, sinergia e amor. Não existe razão em dizer que sentir tudo isso vá ser usado como base para passar a perna em alguém por raiva de seu próprio destino.

Há estágios no luto que, se não forem vivenciados, podem agravar todo o processo e levar a graves traumas comportamentais e psicológicos. E minha mãe, não conseguindo aceitar a morte do meu irmão, tentou encontrar um culpado para direcionar sua angústia que se transformou em ódio, rancor e depois em medo ㅡ medo de que acontecesse tudo outra vez, agora comigo.

O mundo é bem semelhante ao que Hyunjin me descreveu, há mais mulheres do que homens pelas ruas, mas ainda vejo crianças e adolescentes, volta e meia, um adulto. Tudo parece bem pacifico aqui fora. Algumas vezes vou até o jardim da minha nova casa para sentir a luz do sol sobre minha pele, cuidando, dedicadamente, de todas as pequenas partículas dele que residem dentro de mim. Tenho uma ótima alimentação, pratico exercícios e fiz novos amigos, como a senhora Park, governanta da casa e as vizinhas que moram ao nosso lado.

Jisung e Minho continuam no distrito e, por vezes, vêm me visitar. Também tenho notícias deles a partir de minhas novas mães, agora que não há mais pressão sobre cuidadores e pacientes. O laboratório está aos poucos se tornando um centro de pesquisa, esquecendo todo o passado cheio de manipulações, mentiras, vidas perdidas e vidas tiradas.

O Changbin conseguiu a cura, uns dias depois que eu, a partir do novo sistema, bem como quase noventa por cento de todos os residentes, e agora vive junto a sua namorada, em Seul. O Binnie e eu nos falamos, sempre que possível, pelo novo celular que minha mãe deu para mim, assim como com o Bangchan, que fica praticamente toda hora me enviando fotos de sua pequena Náyra, ele aproveita, devotamente, cada salto de crescimento e suspiro de sua filha, junto a sua esposa.

Seungmin e Jeongin também continuam no distrito, junto a outros últimos também voluntários para o novo sistema, potencializando a demanda de imunizantes e a rapidez nos tratamentos. Aos poucos, já foram enviados alguns deles para distritos vizinhos, salvando a vida de vários doentes e cuidadores.

Talvez fosse porque minha mãe não deseje usar meu corpo da mesma forma que os recentes supracitados, ou talvez seja porque eu me tornei um grande egoísta ㅡ não querendo compartilhar noutros corpos o que Hyunjin deixou para mim.

Às vezes eu sinto o cheiro dele em situações nada determinantes, como agora, sentado por entre as flores do jardim, numa manhã de domingo de primavera.

Em nenhum lugar por aqui há plantações de bergamotas, mas, mesmo depois de meses, eu ainda consigo sentir o cheiro levemente cítrico e adocicado de murcott que remete à sua pele. Que saudade...

LI(v)E • { hyunlix }Onde histórias criam vida. Descubra agora