PRÓLOGO

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PRÓLOGO

Num mundo dominado por mulheres, homens cisgêneros estavam escassos.

Para alguns, isso foi digno de evolução, pois muitas coisas acabaram mudando, como leis e direitos, segurança, educação, e principalmente o machismo ㅡ que com o tempo foi diminuindo, até alcançar um percentual digno de tratá-lo como erradicado da nova humanidade. Já para outros, foi triste, pois mesmo com tanta tecnologia disponível, não foi possível conter os genes instáveis daquela geração de homens, chegando num quadro em que, mundialmente, se conta pelos dedos quantos restaram.

Bebês são gerados a partir de células tronco e fertilização in vitro e, com isso, a maioria das doenças e deformidades foram observadas e tratadas precocemente, utilizando de toda a tecnologia adquirida durante todos esses anos.

Hoje, casais de lésbicas podem ter seus próprios filhos sem interação alguma com pessoas do sexo oposto, pois espermas podem ser criados a partir de células tronco de mulheres adultas e o próprio governo auxilia na fertilização in vitro como um direito à vida.

Alguns homens vivem bem dentro deste novo mundo, são aqueles que vivem pelo bem dos últimos, como eu, Hwang Hyunjin. Somos experimentos criados com partículas de pessoas doentes. Podemos ser a parte boa desta ou podemos ser a parte que lhes falta.

Experimentos não são como gêmeos, primos ou filhos, pois temos mães bem diferentes e um grau de parentesco ridiculamente distante, apesar dos nossos genes encaixarem de modo tão perfeito.

Experimentos ou cuidadores ㅡ como costumamos nos chamar ㅡ, são como sombras, estamos aqui porque nos foi dada uma missão e por ela podemos deixar de existir a qualquer momento, até mesmo se não estivermos prontos, porque foi para isso que viemos.

Entretanto, nosso dever não impede de que vivamos as nossas vidas, apenas somos cientes de que morreremos de uma maneira diferente, talvez nobre, pois doar sua própria vida pela vida de alguém, quando este se encontra por um fio, é uma ação que me causa um pouco de frio na barriga, apesar de ser aplaudida pelos que nos observam de fora.

Mas nem todos nos aceitam, na verdade eu já cheguei a ser imensamente desrespeitado por ser quem sou. Há pessoas que não gostam de experimentos, pois desafiamos as leis naturais, dando mais um sopro de vida para alguém que já está comprometido com a dona morte. Ou porque desfrutamos, praticamente, da imortalidade. Digo praticamente porque fomos criados para morrer em benefício de alguém e apenas isso já não nos faz tão imortais, mesmo não contraindo doenças comuns como irritações de pele, gripes ou resfriados.

Cresci ouvindo histórias de que alguns cuidadores deixaram de viver da noite para o dia e outros que se doaram aos poucos para seus últimos, pois é assim que chamamos os homens cis com genes da geração passada.

E apesar de enfrentar o medo de viver o meu dia como se fosse o meu último, conheço outros assim como eu que sempre me enchem de coragem.

Nos ensinaram a não criar laços fortes demais, pois despedidas são dolorosas, mas os outros cuidadores são a minha família ㅡ um pouco quebrada e instável, mas é a minha família.

Até alcançar a minha maioridade, eu morava junto com as minhas mães. Elas são cientistas e agiram na linha de frente pela criação dos experimentos, apenas não contavam com a possibilidade de cuidar de um deles como se fosse seu verdadeiro filho, portanto, eu fui morar junto com elas e a sua filha Yeji.

Sendo uma filha biológica, criada a partir de células tronco e um filho de criação, literalmente.

Quando completei meus dezenove anos, tomei uma decisão não tão diferente para quem eu era, mas as minhas mães entraram em negação constante ao descobrir que eu estava me mudando para o distrito, com intuito de executar a minha missão. Afinal, havia alguém que estava internado lá precisando de mim e eu tinha que fazer algo a respeito.

LI(v)E • { hyunlix }Onde histórias criam vida. Descubra agora