00| Prólogo

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#CulpaDaLua

Há milhares de anos, o universo era somente escuridão.

Não havia nada que pudesse caracterizá-lo como algo belo e sereno, apenas uma imensidão de preto e vácuo que não tinha fim. Cosmo odiava isso.

Era calmo, mas tão solitário que doía.

Resolveu, então, descobrir o poder que escorria por entre seus dedos finos e não se mantinha calado. Eram gritos, murmúrios e sussurros que ecoavam em sua cabeça vazia.

A entidade, então, tentou: criou as estrelas e os planetas. Continuou odiando o lugar em que vivia, nada lhe agradava. Criou, por fim, Sol e Lua.

Cosmo era, de fato, uma entidade meio...amargurada.

De geração em geração, no continente central, denominado Yang-il, a história do amor impossível de Sol e Lua era contada e recontada de inúmeras maneiras diferentes. Entretanto, uma coisa era certa: quando Cosmo, em um surto de ciúmes, decidiu separar os enamorados, Sol entrou em desespero. Gritava com a entidade, ajoelhava e chorava, pedindo para que voltasse atrás. Lua, contudo, permanecia em silêncio, sem encarar ou dizer nada ao velho amigo. A entidade ficou assustada com a quietude da mulher e, assim, criou o único momento em que os amantes poderiam se encontrar: o eclipse.

A simples e rápida junção dos astros que regiam o mundo sobre eles.

Foi assim que, milênios depois, Yang-il foi dividida em dois Impérios: Dal-bam, o Império da Lua, no Sul; Tae-il, o Império do Sol, no Norte. E, assim como as entidades místicas que regiam o local, as duas nações eram amigas e tinham uma relação pacífica por conta das sábias Imperatrizes que governavam o local com maestria.

Sendo assim, os povos de polos opostos se uniam para o dia mais importante do ano: o eclipse, o encontro dos amantes que tanto admiravam. As ruas de Dal-bam ficavam decoradas, o cheiro de comida circundava o ambiente e a música animada preenchia os ouvidos dos súditos.

Naquele solstício de inverno, aniversário da Imperatriz sulista, o evento seria ainda mais especial: finalmente o pequeno herdeiro seria apresentado ao povo.

Porém, foi o que eu te disse, caro leitor: Cosmo é amargurado.

🌙

Sunhee caminhava mancando pelos corredores de mármore branco.

A dor em seu baixo ventre era insuportável, sentia como se estivessem tentando arrancar suas entranhas sem remorso.

ㅡ Shhh...Shh...ㅡ A mulher embalava o pequeno bebê loiro e resmungão em seus braços. ㅡ Ajude a mamãe, Jimin, por favor...precisamos ver o que está acontecendo.

Sunhee estava exausta, havia acabado de parir o menino quando ouviu os guardas correndo pelos corredores e os generais dando ordens inteligíveis. Aquilo estava tão estranho que resolveu levantar e ignorar as dores do nascimento do filho.

Após o que pareceu uma eternidade, chegou às altas portas do salão do trono.

Silêncio.

Nenhuma das risadas de momentos atrás.

A mulher engoliu em seco, segurando o filho manhoso em apenas um dos braços, abrindo a porta que rangeu como se gemesse naquele vácuo denso que tornava a respiração difícil. Olhou para o chão polido e sentiu a garganta fechar imediatamente.

ㅡ Não. ㅡ A aloirada caminhou, sentindo os pés pegajosos e pesados. ㅡ Não, não, não.

O grito de dor e pesar ecoou pelo salão imenso que, nos sentidos deturpados e afetados da loira, parecia pequeno e claustrofóbico.

SCARLATTO • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora