Something Stupid | Adapt.

28. Sobrevivendo por pura Ansiedade

FEVEREIRO
Sábado, 10:32 a.m.

Alfonso Herrera estava ... estranho.

Talvez estranho não fosse exatamente a palavra.

Meio ... excêntrico?

Ou suspeito?

A loira – que caminhava em direção a uma prateleira repleta de azeitonas e palmitos envidraçados, assumindo as compras da semana para que Alfonso pudesse passear com os cachorros no parque que, acidentalmente, fora banida – pensava nas diversas evidências do tal novo "comportamento" com uma careta desconfiada no rosto.

Ela fez uma pausa, parecendo lembrar-se de algo e tratando de buscar logo em seguida, em meio a bagunça de sua bolsa que, apesar de pequena, parecia lotada de itens totalmente aleatórios para uma ida ao supermercado.

Uma caneta sem tampa. Um brinco – um, não um par – sem tarracha. Várias moedas soltas de 5 centavos. Uma papel amassado que parecida ser meio velho e que ... espere, aquilo era a lista de compras.

Ok isso era importante.

Continuando.

A caixinha de seus óculos. Duas entradas para uma seção de cinema da semana passada e, finalmente, o cartão de débito.

Ufa!

Ela respirou fundo, guardando-o no bolso de sua calça e abrindo a lista de compras logo em seguida. A verdade é que Anahi não tinha 100% de certeza de onde estava sua carteira no momento.

Desde que começaram a namorar oficialmente – depois da verdadeira saga que fora o tal "Grande Plano" – há pouco mais de um ano, a vida tinha ganhado um novo sentido. Os dias pareciam correr de forma muito mais alegre, cheios de animais correndo pelos cantos, visitas despretensiosas do chefe de T.I. ao seu escritório e noites ... incríveis.

Mais que incríveis.

Quentes.

E ela desconfiava que Alfonso sequer tinha real noção do quão bom era no quesito "noites quentes". 

De todas as formas, a vida parecia ter, finalmente, encontrado seu rumo:

Um rumo cheio de amor e logisticamente mais complicado.

     
O fato era que os quatro eram quase como uma tribo nômade: Alfonso, Apolo, Edwiges e ela, costumavam migrar entre as duas casas quase todos os dias da semana.

E morar metade do tempo em uma casa e metade do tempo em outra, era complicado.

Para começar, antes mesmo de namorarem, havia os dias de lavanderia em seu apartamento, sendo seguidos pelos dias de aula de culinária no dele. Essa rotina não mudara totalmente com o tempo, agora sendo apenas acompanhada por mais dias consecutivos dormindo juntos, roupas divididas entre gavetas e coleiras duplicadas em ambas residências. Anahi perdera a noção de quantas vezes estava aconchegada em seu sofá, as mãos dele começando a lhe causar arrepios por onde passava, quando Edwiges choramingava por seu brinquedo favorito, que inevitavelmente fora esquecido na casa de Alfonso, no dia anterior.

Ou das vezes que estava prestes a dormir, agarrada ao peito dele – como de costume – enquanto as mãos do namorado lhe faziam um carinho suave nas costas, e a lembrança que o sapato que gostaria de usar no dia seguinte não estava em seu armário, e sim no dele, a atingia.

Por isto, sua bolsa foi obrigada a tornar-se um salva-vidas portatil.

Ou algo parecido.