3. Comic Sans

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Com a ajuda da aproximação de Alfonso, Anahi rapidamente foi se adaptando a vida do novo escritório. Até mesmo Joseph, da contabilidade — Cuja maioria das pessoas costumava evitar, dada sua tendência antipática e olhar amedrontador — parecia tolerá-la, e isso dizia muita coisa.

No final daquela primeira semana, Alfonso começou a usar ternos que combinavam com suas calças e Christopher, graças ao bom Deus, fez o favor de não inferniza-lo com isto.

Ou pelo menos não muito.

O assistente também, para alegria de Alfonso, fez questão de avisa-lo todas as vezes que o terceiro andar fizesse uma chamada para solicitar alguma ajuda ... afinal, era o andar de Ana.

Ana.

Ela mesma o tinha dado liberdade de chamá-la assim, e aconteceu após sua quinta ou sexta visita ao escritório do RH, quando Anahi o chamou — um tanto quanto sem jeito — na tentativa de solucionar um problema que não a deixava baixar os anexos dos e-mails.

— Me chame de Ana! — Entoou, folheando algumas páginas do arquivo de algum funcionário – que Alfonso não conseguiu reconhecer de longe – enquanto o deixava digitar em seu teclado. — Todos os meus amigos me chamam de Ana.

E com aquela afirmação, ele constatou que eram amigos.

Ele tinha amigos, independentemente de qualquer boato que rolasse no escritório. Não eram amigos de dentro do trabalho, é claro. Mas havia Christian, Ian e Sam, e ele os via uma vez por semana para sua noite de pôquer.

Para falar a verdade, Alfonso não tinha nenhuma amiga mulher, diretamente falando. Maite e Eréndira eram sim suas amigas, mas também eram primas, então provavelmente não contavam. A noiva de Ian, Nina, era mais uma conhecida, especialmente com todas as semanas que passava viajando a trabalho, e Gilly, a esposa de Sam, era doce, mas não ficava por perto com frequência.

 
Apesar de ser considerado como um "amigo", ele não tinha certeza de como lidar com Anahi.  Não demorou muito até se dar conta que já havia iniciado sua lista Ana – que, pelo menos, teve autoconsciência para admitir que tinha uma. Tudo começou inocentemente.

Ele carregava uma lata com um rótulo que indicava "reciclagem de eletrônicos" quando topou com ela, agachada ao lado de uma lixeira na rua.  A loira se assustou, deixando cair – e quebrando – um pires cheio de leite. Anahi corou, explicando que tinha começado a alimentar um gato que costumava rondar o estacionamento e ele, obviamente, a ajudou a limpar a bagunça. Ao voltar para a empresa, Alfonso chegou a comprar uma caixinha de leite na máquina de venda automática da lanchonete, pensando em substituir a que fora derramada no chão.

Naquele dia, a lista Ana começou. Mais especificamente quando já estava no carro a caminho de casa, enquanto tentava descobrir o por que, além de sua óbvia beleza, a achar encantadora.

1.  Quando ela ria - realmente rindo - acabava fazendo um som engraçado. 

2.  Ela caminhava surpreendentemente rápido em seus saltos imensos. 

3.  Seus olhos sempre brilhavam com uma inteligência incisiva. 

4.  Os seus ternos pretos e cinzas, de algum tecido que parecia extraordinariamente caro, eram sempre bem ajustados em seu corpo – não que ele tivesse notado.  Pelo contrário, ele estava determinado a não perceber o corpo dela.  Afinal, ele não era um cretino que objetificava suas colegas. Poderia apreciar sua beleza sem ser um puta de um babaca.

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