Capítulo 8

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Any Gabrielly

- eu atirei no peito dela - ele diz me olhando - eu tirei a vida de uma criança inocente, ela devia ter no máximo seis anos. Eu nunca vou esquecer aquele momento, assim que eu atirei ela me olhou e deu o sorriso mais lindo que eu já vi. E era um sorriso verdadeiro, e quando eu olhei nos olhos dela, ela não tava me olhando com raiva, ódio ou tristeza e sim com alívio. E antes de cair no chão ela tinha dito uma coisa.

Ele deita na grama e faço o mesmo, e me impressiono. Nunca vi o céu tão estrelado como hoje, é uma noite muito linda

- eu não tinha consiguido entender mas eu sempre ficava me perguntando o que ela tinha dito, algumas semanas depois eu consigui descobrir. - ele dá um pequeno sorriso - ela disse "obrigada! Agora posso ficar com a minha família"

Ele suspira, eu olho para ele e toco em sua mão, ele dá um meio sorriso, e volto a olhar o céu.

- E mesmo que eu esteja certo, ainda sinto que sou um monstro.

E pela primeira vez desde que ele começou a falar, eu falo.

- você não é um monstro, você salvou a vida de trinta pessoas e eu sei que salvou mais gente. Essa menina está em um lugar muito melhor do que estava quando viva. Você a salvou também.

Digo ainda olhando para o céu mas, sinto seu olhar em mim, viro meu rosto para olha-lo. Ficamos nos olhando por alguns segundos ou minutos, só sei que parece que o tempo parou enquanto nos olhavamos.

- agora é a sua vez - o olho em confusão mas logo depois entendo. Respiro fundo e volto a olhar o céu estrelado

- meus problemas não chegam nem perto do seu mas ok. Minha mãe engravidou de mim com quinze anos, ela era a filha perfeita sabe - digo e olho pra ele - ela era uma das melhores alunas da escola, se não a melhor, meus avós não tinham com o que se preocupar, ela quase não saia e se saia sempre chegava antes das sete da noite. Ela era o orgulho da família.

Volto a olhar o céu e penso em como estraguei a vida dos meus pais.

- minha família não era rica, nenhum deles chegaram a fazer uma faculdade, mas todos tinham a expectativa que minha mãe iria fazer uma e ser uma grande médica ou algo assim. Mas tudo foi pro ralo quando ela disse que estava grávida. Todos os meus parentes começaram a dizer o quanto irresponsável ela era e todos os elogios que um dia deram a ela foi esquecido.

Meus olhos começam a marejar enquanto penso em como ela sofreu. Josh me pega de surpresa quando me puxa para deitar a cabeça em seu peito.

- meus avós até juntaram dinheiro pra ela me abortar mas ela não queria. Com o meu pai foi diferente, meus avós falaram como ele foi irresponsável mas ficaram do lado dele. Minha mãe foi expulsa de casa, e ela começou a morar com meu pai em uma quitinete que os pais dele tinham. Assim que eu nasci ela saiu da escola já que não tinha ninguém pra cuidar de mim e quando completei um ano, meu pai saiu da escola também pra começar a trabalhar.

Suspiro e ele começa a mexer em meu cabelo.

- eles viram em mim a chance que eles não tiveram. Com muito custo eles consiguiram pagar um curso de línguas estrangeiras pra mim. Então eu sempre dava tudo de mim nas provas da escola e do curso, eu me sinto no dever de dar orgulho a eles de ser o que eles querem que eu seja. No ensino fundamental, eu deixava de ir em uma festa do pijama, pra ir estudar. Mesmo eu tirando dez em todas as provas e trabalhos, mesmo eu nunca dando trabalho a eles, meus parentes ainda me olhavam com desprezo, como se eu fosse a pior pessoa do mundo.

Paro um pouco de falar mas, logo contínuo.

- não sei se você sabe mas sou brasileira, e quando eu tinha quinze anos eu ganhei uma bolsa pra estudar fora. Meus pais estavam tão orgulhosos, mas eu por outro lado tava assustada e insegura, eles não podiam ir junto e seria só eu em um lugar desconhecido. Mesmo assim eu vim para o Estados Unidos, só para não decepcionar eles. Foi a primeira vez que meus parentes por parte de mãe não me olharam com desprezo ou decepção.

Ele suspira e olho pra ele. Estamos muito perto, mas não é uma aproximidade que deixe desconfortável. Ele abre a boca para dizer algo mas não diz e volta a olhar para o céu.

- eu achei que tudo ficaria bem, mas não ficou, eu acho que fui um pouco iludida achando que iria viver uma história clichê como nos filmes, onde a novata de outros pais faz vários amigos e conhece um cara legal - respiro fundo - mas não foi assim. Foram os piores três anos da minha vida, os meus colegas de turma ficavam falando mau do meu país, e de mim. As garotas da minha classe se juntavam para me perturbarem e falavam coisas tão horríveis pra mim. Sendo que eu nunca tinha feito nada pra elas.

Minha voz começa a embargar e meus olhos se enchem de lágrimas. Me levanto ficando sentada de novo na grama e fico com o olhar fixo em uma parte do jardim onde tem lindas peônias.

- o pior é que ninguém tentava me ajudar, até os professores sabiam o que acontecia e não faziam nada. Eu só conversava com uma pessoa na escola e era o professor de filosofia, ele era o único que me tratava bem.

Josh se senta também e olha pra onde meus olhos estão fixos. Ele levanta do chão e vai até lá, ele pega uma tesoura de jardinagem que estava no chão, e corta uma peônia e outra flor que não identifico.

Ele volta para perto de mim e se senta de novo estendendo a mão que estava com as duas flores e eu as pego.

- qual o nome dessa? - aponto para a flor

- é um lírio

- são lindas! Obrigada - digo e ele dá um meio sorriso

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Continua

Deixem a estrelinha 🖤💙

•O SOLDADO•beauany [Concluído✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora