Feitiços e confusões

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   - Senhorita -  Hebert bateu na porta do meu quarto - O rei pediu para chama-la. Ele a espera na sala de reuniões.
    Me assustei ao ouvir a voz de Hebert, então me apressei para guardar meus livros. Estudava ervas medicinais na hora que ele apareceu. Anelar estava deitado sob sua almofada de veludo:
   - você deveria tomar mais cuidado. Quase todo dia você corre risco de ser pega.
   Sussurei baixinho, atrapalhada:
- estou tendo muito cuidado. Anelar....
Hebert abriu a porta de repente:
- Senhorita?
Chutei os livros para debaixo da cama. O mordomo me olhava desconfiado.
- Já vou descer Hebert. Obrigado.
Ele assentiu com a cabeça e saiu.
   
      Depois de um tempo, desci para a sala de reuniões e encontrei meu pai com um semblante rigido. Dava uma leve agonia ver as veias do pescoço dele pulsando, mas eu sabia que sempre que ele estava assim, era por que vinha bronca. E não estava errada.
     - Catarina, minha filha. Onde você andou essa tarde?
Engoli o seco. Estava nervosa.
    - Fui a academia de Guerreiros, pai. Fui treinar arco e flecha.
Ele assentiu com a cabeça ainda sério:
  - Eu permiti que você fosse lá?
Me mantive de cabeça baixa:
  - Só fui por uma boa cau...
  Papai aumentou o tom de voz:
- Já está mais do que claro pra você que essas atividades são para homens. HOMENS.  O que diabos uma princesa faria em um local de exclusiva presença masculina? Você ficou louca? O que seus súditos vão pensar?
   - Eles pensarão que há uma grande lider por vir. Que além de princesa, sou também guerreira, que desceria do salto pra protege- los e que daria a vida pelo meu reino.
  Agora, além das veias do seu pescoço estarem aparentes, as da testa também. Apesar disso, meu pai manteu a classe:
- Você é uma princesa. Seu dever é cuidar da organização dos bailes e eventos reais. Deixe essa parte pesada para os nossos guerreiros de alto padrão. Você é só uma menina, Catarina.
  Senti orgulho de dizer as seguintes palavras:
- Sou só uma garota, mas venci todos os seus guerreiros de alto padrão hoje no esgrima, no arco e flecha e no manuseio de armas.
   Papai revirou os olhos com indiferença:
- Eles pegaram leve com você. Inclusive o general me informou que alguns dos jovens perderam o foco nas atividades por causa da sua presença.
  Revirei os olhos em resposta:
- A culpa não é minha se esses bobalhões não são acostumados com a presença de uma mulher. Se esses homens tão incríveis não honram as próprias calças, eu honro as minhas saias.
- O que está querendo dizer?
Tomei coragem e falei o que há anos estava preso na garganta:
- Vou entrar para a academia de Guerreiros Aplonis. Serei a primeira mulher a.....
   - JAMAIS REPITA TAMANHA BOBAGEM! -  meu pai gritou comigo pela primeira vez. Senti vontade de chorar, mas não me arrependo de ter dito o que disse. - VOCÊ ESTÁ PROIBIDA DE PISAR NA ACADEMIA DE GUERREIROS. ESTÁ OUVINDO? VOU PEDIR COMO AUTORIDADE MAJORITÁRIA QUE BARREM A SUA ENTRADA LÁ.
   Ele estava nervoso. Vermelho como um pimentão. Tratei de me retirar pois estava assustada.

     
- Não fique assim. - Disse Anelar pulando em meu colo.
    Só sabia chorar. Meu sonho de guerrear foi por água a baixo. Desde muito nova tive esse desejo, esse dom. Talvez fosse complicado pra meu pai entender isso agora, mas quem sabe com o tempo o coração dele amolece? Tomara que sim.
  - Ela me apoiaria - Falei segurando o porta retrato da minha mãe  - tenho certeza. Talvez até se orgulharia da minha destreza de pelo menos tentar. Eu faria de tudo pra entrar pra academia de Guerreiros.
   - Você teria que ter nascido homem - o gato preto lambia a patinha despreocupado.
  Isso despertou uma ideia na minha mente. E assim eu a faria.

  Logo que todos forem dormir, irei lançar um feitiço pra mudar meu gênero. Serei um homem apenas por um tempo. Vou lutar nos grandes combates e depois revelaria toda a verdade ao meu pai e ao povo. Eles iriam ter que me aceitar. O livro me indicou um cristal recém comprado e uma galha do pé de limão, tudo sobre o livro, a luz da lua crescente. Hoje a lua estava cheia, porém não senti que isso faria diferença. Foi ali que cometi um terrível engano.
       Tudo ia como o planejado, Anelar me trouxe um galho de limão e eu peguei um rubi dos que estavam cravejados na minha coroa. Fomos para a sacada do meu quarto. Pus tudo sobre o livro, porém anelar cortou a patinha pulando de cima do telhado e o seu sangue respingou na folha do livro. Estava feito a maldição. Tudo ficou escuro de repente e eu perdi a consciência.
 

Catarina - 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 𝖒𝖊𝖉𝖎𝖊𝖛𝖆𝖑 𝖊 𝖋𝖆𝖓𝖙𝖆𝖘𝖎𝖆 Onde histórias criam vida. Descubra agora