As sombras

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      Era de madrugada quando ouvi algo se aproximar. Era o homem de 3 metros em um cavalo selado. A figura imensa e estranha estava cada vez mais perto, porém me agarrei ao talismã de rubis para me proteger. Isso os afastava, mas ele ainda estava ali. Logo atrás dele, a estrada ficava completamente preta, cheia das criaturas das sombras. Aquilo estava fora do controle. O que uma garota e um gato poderiam fazer? Me atentei a lança flechas e tentar derrubar aquele ser do cavalo.
      - Desgraçada, se entregue. Por acaso não percebe que o seu povo está morto e é tudo culpa sua?
     O homem berrava tentando se aproximar. Abri minha bolsa e procurei minhas poções, já que as flechas não o atingiam. Nada funcionaria. Pensei por um instante em parar a carroça e enfrenta-los, já  que eles nos seguiriam até o final. Então tratei de parar os cavalos.
      - O que você quer? Que diabos vocês são? Devolvam meu povo!
     O homem não conseguia se aproximar muito de nós, coisa de uns 3 metros, mas ele parecia não se importar com isso.
      - Você que começou isso. Abriu as portas para esse mundo maravilhoso. Nos tirou das sombras e mandou todos os seus entes queridos para lá.
     Sob o céu pude observar finalmente o meu pai e todo o povo, eles estavam reunidos em um limbo repugnante. Estavam sofridos e mais magros do que nunca. Cercados de serpentes, eles pareciam assustados.
         A culpa era toda minha. Eu que deveria estar lá, não eles. Sou uma idiota mesmo. Desfaria tudo aquilo que eu fiz e abandonaria a magia de vez
         - Traga os de volta. Agora. Todos eles.
O homem gargalhou alto, sua risada era estrondosa e horripilante:
         - Não há como traze- los de volta - ele estirou a mão para que eu me entregasse. - Mas há como mandar  você pra lá. O mundo das sombras te espera, princesa. Nós somos as sombras.
       Anelar jogou algo em mim. Era um vidrinho da poção de teletransporte. Perfeito.

       Assim que usamos, nos vimos no extremo norte em uma vila vazia. A caroça caminhava lentamente. Era como se acordasse de um pesadelo. Ver o meu povo preso no limbo só me encorajou a resgata- lo. O homem das sombras é um enganador, todo o meu estudo de magia me ensina que não há de forma alguma passagem só de ida para outras dimensões. Ele poderia muito bem trazer o meu povo de volta. Mas isso eu terei que conseguir sozinha.
     - Cat.....Catarina. tem alguém parado ali. - Anelar apontou para o bar do vilarejo.
     Havia alguém parado lá e era uma figura que eu já conhecia.
    - É o Thean. Ele deve estar podre de bêbado.
   Paramos a carroça para ir falar com ele e para minha surpresa ele estava sóbrio.
     - O que faz aqui?
Ele se virou calmamente:
   - O que VOCÊ faz aqui, vossa alteza? Siga seu caminho. A viagem é longa.
    Ele recolhia alguns copos do balcão. O bar estava vazio.
  - Estou confusa.....eles tentaram me atacar de novo - Falei guardando minhas poções na bolsa.
   - tome cuidado com eles.
   - Você abandonou a missão.
  Ele continuava a recolher os copos tranquilamente.
   - Foi preciso.  Vossa Alteza é uma teimosa, insensível e desconfiada. Não valia a pena continuar com alguém assim.
        Ele tinha razão, mas não me orgulho disso
  - É. - observei o bar - Você mora aqui?
  - Não. - Ele passava um pano sobre o balcão- Aqui é o bar do meu pai adotivo. Eu moro na Academia de Guerreiros.
   Retirei uma moeda da bolsa :
- Por favor, me vê uma cerveja.
    Ele revirou os olhos:
- Sério isso?
   Pus a moeda no balcão:
- Sim.
   Ele encheu uma caneca com cerveja.
- aqui está.
  Peguei a caneca para ir embora. Ele não concordou:
- Olha, se você for beber, vai dormir aqui essa noite. Já pensou se eles te pegam bêbada? Você se tornaria um alvo fácil. Mesmo com o colar.
     - Preciso seguir a viagem. Uma caneca de cerveja não embebeda uma mosca. Quem dirá a mim - virei um gole da bebida e me assustei. - nossa que treco forte.
   Thean riu baixinho, mas parecia preocupado:
   - Olha, faça assim, durma no meu antigo quarto. Não vou me importar.
   Olhei pra Anelar, que já dormia em cima da mesa de sinuca.
- Tá bom. A gente dorme aqui.
       Bebi outra dose da cerveja.
- Thean, Por que essas cicatrizes? Qual a história delas?
- Cicatrizes de batalha. Eu estive na guerra contra o povo do atlântico...foi muito árduo mas faria tudo de novo por Aplonis.
  - Também sou apaixonada por estratégias de combate. Queria entrar pra Academia de Guerreiros, isso abriria porta para muitas outras meninas entrarem e seguirem seus sonhos também. Mas por enquanto é complicado.
    Observei as cicatrizes escuras em suas mãos.
- Isso ai é causado pelas flechas de bronze, elas causam essa reação de escurecer as cicatrizes. - Peguei uma infusão de ervas e coloquei sobre elas - isso vai melhorar esse aspecto.
   Ele me observou com um olhar curioso:
  - Você é muito inteligente.
Amarrei as ervas com uma faixa
- Tão inteligente que mandei meu povo para o limbo.
  Thean não concordava comigo:
- acidentes acontecem, vossa alteza.
- espero que um dia eles possam me perdoar.
- Não se preocupe com isso.
  Peguei uma das minhas pomadas de rosa colombiana e passei sob as cicatrizes do meu rosto. Enquanto isso não consegui conter as lágrimas:
  - Eu estraguei tudo.Quando o meu pai voltar ele sentirá tanto desgosto de mim. Meu papel é proteger Aplonis e não coloca-los em risco.
     Ele olhava em meus olhos, tentando me passar fimeza:
  - Você vai se redimir os trazendo de volta.
    Não funcionou, já que estava me afundando em minha própria angústia. As lágrimas escorriam de meus olhos. Ele as limpou:
   - Está tudo bem, vossa alteza. Não se martirize mais. Suba para o quarto. Já está tarde.
      Ele me mostrou onde ficava o quarto e eu dormi feito uma pedra.

     

Catarina - 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 𝖒𝖊𝖉𝖎𝖊𝖛𝖆𝖑 𝖊 𝖋𝖆𝖓𝖙𝖆𝖘𝖎𝖆 Onde histórias criam vida. Descubra agora