Ponto fraco

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- Anelar, acorde. Temos que seguir viagem.
   Meu gato dormia em sono pesado. Ele sequer se mexeu. Resolvi deixa-lo dormir mais um pouco. Já estavamos quase no fim da viagem.
- estamos quase no final da jornada. - Respirei aliviada, como se estivesse tirando um peso das minhas costas - Falta pouco pra tudo voltar a ser como antes.
   Thean estava animado e eu também, mas havia um quê de insegurança. E se o feitiço não funcionar? Questões como aquela bombardeavam minha mente.
- Você está muito nervosa.
O guerreiro sempre atento as minhas expressões.
- um pouco. Mas tenho fé que vai dar tudo certo.
  Ele trazia consigo um pequeno mapa de Aplonis, segundo ele passaríamos pela última vila antes de se aproximar do castelo.
- Podemos almoçar por lá. O que acha?
- tanto faz. Não estou com apetite para comer nada.
Ele olhou em meus olhos:
- Vossa majestade tem que se alimentar, como é que pretende ser a melhor guerreira de Aplonis sem cuidar da alimentação?
   Pensei um pouco:
- é. Você tem razão, agora vamos embora.

   Já era quase meio dia e Anelar não havia acordado. Ele estava estranho, parecia exausto. Pus um pouco de óleo de hortelã em meu dedo e coloquei levemente sobre as narinas dele, que com pouco tempo abriu os olhos, porém não tinha reação nenhuma e nem falava nada.
- Deixe ele descansar.
- Ele já dormiu a manhã toda. Isso não é normal, Anelar sempre foi vigoroso, cheio de energia.
Thean o observava :
- Desde quando você o tem?
Desde sempre. Pensei.
- Ele é meu melhor amigo desde quando eramos filhotes. Ganhei ele quando eu tinha 2 anos de idade. Agora tenho 21.
- Caramba....é como eu suspeitava.
- O quê?
- Ele já está velhinho. Talvez a viagem tenha o desgastado.
    Esse era um preço que eu não estava disposta a pagar. Anelar não podia ir. Preciso dele comigo.
- espero que ele fique bem. - beijei o topo da cabeça dele e sussurei baixinho - não me vejo sem você. Por favor fique bem.
O felino voltou a dormir serenamente.

   Quando estavamos próximos de chegar na vila houve mais um ataque. Desta vez as criaturas estavam mais rebeldes, não pude correr de lutar contra elas.
- Conduza a carroça que deles cuido eu. - Falei pegando meu arco e flecha e a bolsa das porções.
- Você é quem sabe.
    Molhei a ponta das flechas no suco dos hibiscos que eu havia colhido e mirei em uma das sombras. Era a hora da verdade. Tudo milímetricamente estudado por meio do meu livro de feitiços e calculado por mim na noite passada. As criaturas submundanas eram atraidas por perfumes frutais mas toda essa obsessão por tal seria seu ponto fraco.
   Aprendi sozinha tudo que sei sobre Arco e flecha, a força, distância, impulso e até macetes para acertar a mira. Me criei nesse meio sozinha e mesmo que duvidassem, eu estava ali. Me concentrei em acerta-los. Um suor frio percorria minha espinha. Acertei a primeira flecha e vi a criatura se desmanchar como cinzas ao vento. Era isso. Só faltava mais um exército deles pra aniquilar.
- Catarina, você não vai conseguir sozinha.....vamos de novo na poção de teletransporte. É a melhor saida.
Joguei o vidrinho com líquido de teletransporte para Thean.
- Tudo bem, mas deixe eu me divertir um pouco. - Acertei mais flechas e via aos poucos as sombras cairem do cavalo.
   O maior desafio seria acertar o homem gigantesco que os liderava, mas ele havia sumido.

- Tá tudo bem com você?
   O guerreiro parecia preocupado. Eu estava feliz, extremamente feliz por ter descoberto o ponto fraco deles.
- Estou bem sim. - olhei em volta - estamos na última vila?
- Sim.
    Preparei um almoço simples com a ajuda de Thean e pûs leite morno pra Anelar, que por sinal estava melhorando. Ele já estava acordado e conseguia se sentar e se alimentar, mas até o momento não havia dito uma palavra. Acreditei que ele voltaria logo a ser o gato de antes.
- Nossa última parada será pelo rio, preciso de um banho. Não vou demorar.
- Tá bem. Mas tome cuidado.
  Ele franziu as sobrancelhas:
- Com o que?
- Dizem as más línguas que nesse rio tem sereias.
O guerreiro deu uma risada de desdém:
- Isso é a coisa mais tosca que eu já ouvi.
- Depois não diga que eu não avisei.
Ele deu ombros e voltou a almoçar.

Catarina - 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 𝖒𝖊𝖉𝖎𝖊𝖛𝖆𝖑 𝖊 𝖋𝖆𝖓𝖙𝖆𝖘𝖎𝖆 Onde histórias criam vida. Descubra agora