Brigas

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- Se seguirmos por aqui vamos chegar em uma floresta de hibisco. Não é muito longe, posso assegurar.
   Thean conduziu a carroça pelo bosque, enquanto isso Anelar me indagava assustado:
- Cada dia que passa você está mais estranha, Catarina. Ontem você estava falando sozinha enquanto dormia.
    Realmente, me senti envolvida em uma névoa de sensibilidade. Não irei me esquecer nunca do sonho que tive.
- Sério?
O gatinho deitou sobre meu colo:
- Sim. Você estava ensopada de suor enquanto dormia. Está tudo bem?
    Acariciei Anelar, que estava mais manhoso do que nunca:
- estou perfeitamente bem. Não se preocupe.

   Depois de alguns minutos chegamos a plantação de hibisco, estava cheio de frutos e algumas flores que nos prontificamos a colher. Eu e Anelar colhiamos algumas flores enquanto Thean terminava de construir a caixa de madeira.
- Depois disso vamos pra casa, certo? - O felino levava uma flor na boca.
- temos que buscar a minha coroa e ir à sombra do pé de Carvalho reverter o que aconteceu.
- O Thean está com sua coroa.
O guerreiro tratou de desmentir:
- Não estou.
Anelar pulou na caroça e entrou na bolsa que Thean trazia:
- e isto - ele jogou a coroa pra mim - é o que?
O guerreiro ficou confuso, começou a tremular e gaguejar:
- e-eu posso explicar.
Desembanhei a espada que eu trazia e me aproximei dele:
- é bom você se explicar.....não me importaria nenhum pouco de cravar essa espada em você.
Thean mirou o olhar pra Anelar:
- Seu linguarudo. Não era pra contar pra ela agora.
- Hum, eu só agilizei o processo. Você não entende nada de mulheres.
     Me estressei:
- tratem de me contar o que está acontecendo.
Thean foi até a carruagem e pegou a bolsa:
- Queria fazer uma surpresa, com as coisas que você mais gosta.
    Ele estava com o álbum de fotos da minha família, meu arco e flecha de prata e alguns livros de cabeceira.
- Eu e o seu gato fomos até o castelo ontem com a sua porção de teletransporte e trouxemos algumas coisas.
   Me senti irada, avancei para gritar com ele:
- Quando ia me contar? Por que invadiu meu quarto e furtou minhas coisas? Não gosto que mintam pra mim.
  Ele segurou meus pulsos quando tentei esbofetea-lo:
- Essa não era a minha intenção. Só queria que......você gostasse de mim.
Respirei fundo incrédula:
- Você só conseguiu fazer com que eu te odeie mais.
Ele ficou cabisbaixo:
- É muito difícil conviver com você. Por mais que eu tente, seu coração de pedra não amolece nunca.
   Ele voltou a construir a caixa e eu tentei me acalmar. Depois de um tempo voltei a colher as flores, já estava anoitecendo quando acabei.

     A noite me deitei na caroça pra me dormir, estava cansada e irritada . Thean estava sentado em uma pedra longe, observando a lua. Quando ia descansar me deparei com uma caixa cheia de morangos, vinhos e um buquê de rosas. Revirei os olhos, já sem paciência. Anelar estava sentado no canto me observando :
- ele queria preparar um piquenique com você hoje a tarde.....
Estava irritada com ele também:
  - me estranha saber que você compactuou com isso. Anelar, você sabe que não gosto que façam nada sob minhas costas, nem se for pra me agradar.
- na verdade fui eu que dei a ideia. Queria pegar umas coisas pra mim também. Tipo a minha almofada.
Ele se debruçou sobre a almofada de veludo.
- Não acredito que você deixou que ele levasse a culpa. Tive vontade de esmurrar ele e você não disse nada.
- Concordo com Thean quando ele diz que é insensível e tem o coração de pedra. Ele só queria estar com você.
- O meu objetivo é resgatar o meu povo. Um romance está fora de cogitação.
- Deveria dar uma chance á ele. Quando você não está, o rapaz só fala de você. Ele me parece uma pessoa boa.
- vou me desculpar com ele e tentar explicar que não vai rolar nada.
   O gato fechou os olhos, ainda se esparramando na almofada:
- boa sorte.

Me aproximei cabisbaixa:
- Tá, eu fui imprudente com você. Gritei e explodi sem....sem pensar.....me desculpa. Sou boa em algumas coisas e ser calma não é uma delas. Estou realmente mal pelo que aconteceu.
Ele se manteve calado. Coloquei uma toalha sobre o chão e a cesta com vinhos e morangos. Ofereci uma taça de vinho a ele.
- pensei que você fosse me bater hoje.
  Ele recusou o vinho.
- foi por um triz.
Ele riu cabisbaixo:
- Não sei por que ainda insisto em conquistar você, ter a sua confiança. É mais fácil amansar um leão.
- É o meu jeito de ser. Desculpe.
Peguei um morango e levei a boca:
- Embarquei nessa aventura pra resgatar Aplonis. Quero meu reino de volta como antes. Esse é meu foco agora. Por isso, não permito que nenhum sentimento aflore.
   Thean parecia mais determinado do que nunca:
- e se eu te convencer a ficar comigo até o final da jornada?
- isso não vai acontecer. Quando tudo voltar ao normal, vou entrar na academia de Guerreiros. Acho que serei rainha solo.
Ele finalmente aceitou um morango:
- O que te faz pensar assim? Que vai ser feliz sem ninguém?
- O meu auto conhecimento.
Ele se aproximou:
- Ainda vou quebrar essa casca que te envolve
Revirei os olhos:
- Vai tentar em vão. Deveria escutar o que digo.
Ele retirou algo do bolso. Era o porta retrato com a foto da minha mãe:
- Aquele gato safado não conseguiu escapar a surpresa por completo.
  Fiquei petrificada vendo a foto e me recordando do sonho:
- Obrigado por isso. E por favor, nunca mais mexa nas minhas coisas.
- ok, eu já aprendi a lição.
   Passei um tempo refletindo sobre a burrada que eu havia feito, o quão irresponsável fui.
- Fico imaginando, se eu não tivesse feito aquele feitiço, eu estaria feliz hoje, com meu pai, meus súditos, Herbert......
Ele deu ombros:
- Tudo acontece por um motivo. Talvez você saia dessa situação mais madura.
- Quem sabe...- senti vontade de chorar - Só fiz o que fiz por que queria ser homem por um tempo.
O guerreiro riu:
- Isso é uma bobagem. Não acredito que isso foi motivo pra tanta confusão.
- Não foi você que foi impedido de seguir o seu sonho por ter nascido mulher. Não é você que tem que abdicar o que mais gosta pra não ser julgado. Talvez se passasse por tudo isso saberia a dor.
Ele pegou em minha mão:
- Vossa Alteza, me perdoe. Tem razão. Não posso opinar sobre algo que nunca vivi.
Olhei nos olhos dele:
- E sobre o que eu falei hoje a tarde.....me desculpe Thean, não te odeio e queria realmente gostar de você....- a pupila dele dilatou, ele estava inquieto - como pessoa. Mas há algo em você que não me inspira confiança. Quero muito estar errada e ter certeza de que você não me esconde nada.
Ele tocou em meu rosto:
- É uma pena que se sinta assim. Por que sou capaz de tudo por você, mesmo que não acredite.
Fiquei sem reação alguma. Só soube dizer:
- É melhor eu ir me deitar. O dia é longo amanhã.
- Tudo bem.

Catarina - 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 𝖒𝖊𝖉𝖎𝖊𝖛𝖆𝖑 𝖊 𝖋𝖆𝖓𝖙𝖆𝖘𝖎𝖆 Onde histórias criam vida. Descubra agora