Um reino perdido

51 4 0
                                    

- Catarina, acorda. - Anelar estava ao meu lado, assustado como nunca.
Estavamos num lugar totalmente escuro, provavelmente uma floresta.
- O que aconteceu? - ele me olhava desanimado - Fala Anelar.
- A gente invocou algo. Algo ruim, Catarina. Acabei de vir lá do castelo. Está tudo vazio. Só tem algumas criaturas horrendas presentes. Eles estão por toda a parte e vão nos matar.
- O papai. Cadê ele?
- Sumiu. Igual todo o restante de Aplonis.

    Caminhávamos escondidos pelo centro de Aplonis. Tudo estava vazio e o único barulho que podemos ouvir era o do vento. Pus um manto escuro e levei anelar próximo ao meu peito. Pulamos o muro do castelo e logo em seguida subimos para o meu quarto. Reuni na minha bolsa as coisas que eu precisaria: meu livro de feitiços, arco e flecha, a espada de um dos soldados e algumas misturas mágicas que eu havia feito. Tudo parecia ir bem até eu ouvir uma voz aguda:
- Ora, ora, quem resolveu aparecer.
    Um homem de uns 3 metros surgiu no meu quarto. Ele era magro e esgio, vestia uma capa escura de couro e era branco como a neve. Com ele vi as criaturas mais feias que poderia imaginar: possuíam corpos como o de cobras e eram peludos ao mesmo tempo. Seus olhos eram escuros como a noite e eles andavam se rastejando. O homem se aproximou sorridente:
- Vossa Alteza....é uma honra recebê-lo e será uma honra matá-lo
Dei alguns passos para trás:
- Onde está o meu pai ?- apontei a espada em direção a sua garganta.
- bem longe daqui. - ele parecia se divertir com a situação.
- Quem são vocês e o que fizeram com o meu povo??? Não aceitarei meias respostas e não vou me render.
- você é tão patética - ele se aproximou.
Não hesitei em cravar minha espada nele porém ele não foi atingido. Era como se fosse uma sombra.
- Peguem ela!
   Todas as criaturas avançaram para me pegar. Estava encuralada. Não havia pra onde ir. Pensei rápido e pulei a sacada do meu quarto. Anelar pulou comigo. Já estava preparada para o tombo, já que a janela era alta, mas cai em cima de algo fofo. Era uma carruagem com vários sacos de farinha Me senti confusa e preocupada para saber quem a conduzia. Não conseguia ver. Só sei que saímos do reino e paramos próximo a floresta. Pude finalmente saber quem havia ,e salvado. Me deparei com um rapaz em trajes de guerreiro. Ele era forte e tinha olhos verdes, porém em seu rosto, braços e pescoço haviam cicatrizes enormes e profundas.
- Está tudo bem? Eu estava preocupado com você.
Avancei em cima dele e o imobilizei:
- Quem é você? Por que me trouxe aqui? Você é um deles? Fala. Fala logo. Onde está meu pai e o povo?
Ele parecia tranquilo. Nem parecia que eu estava com minhas mãos cravadas no pescoço dele:
- Eu sou o Thimoth Grinn, Mas pode me chamar de Thean. Sou da academia de Guerreiros, inclusive, modéstia a parte mas você se saiu muito bem ontem nas atividades de lá.
- Onde está o povo? O que aconteceu?
- Tudo bem. Se você me soltar eu posso tentar explicar. - o soltei e ele continuou - Algum energumeno de Aplonis abriu um portal que trouxe essas criaturas pra cá. Acontece que elas prenderam todo mundo em um espaço vazio do tempo. Ou seja, em calabouços mágicos que eles mesmo criam. Se eles conseguirem mandar todos os habitantes de Aplonis para esse espaço vazio, todo o território é oficialmente deles.
- Como que você não foi preso também?
Ele mostrou o colar:
- Por causa do meu talismã.
    Era um rubi acoplado a um fio de ouro. Semelhante ao rubi da coroa que eu usei.
- Compreendi. Mas você ainda me deve explicações....por que me resgatou?
    Ele mirou os olhos em mim e falou sarcástico:
- Eu sabia que você iria ali. Sou seu guarda oficial. Seu pai confiou em mim para te vigiar todas as noites.
- Não é verdade. Meu pai não providenciou guarda algum pra me vigiar.
- Providenciou sim. Mas você não sabia. Estive todas as noites escondido no jardim vigiando a sacada do seu quarto. Vi tudo o que você fazia - ele estava convencido do que dizia - inclusive sei que você foi o ser energumeno que trouxe esses monstros pra cá.
Me senti envergonhada e com um peso na consciência.
- Eu me confundi. Mas vou cuidar disso. - peguei anelar no colo, me preparando pra sair.
-estamos fritos - falou Anelar.
- estamos mesmo - respondeu o guerreiro.
Fiquei mais confusa e assustada ainda:
- Você ouviu o que meu gato falou?
Ele acariciou anelar que tentou morder a mão dele:
- Claro. Não é só você que mexe com magia.
Fiquei petrificada e maravilhada com a ideia de que eu não era a única amante de feitiçaria. Mas não havia tempo pra isso. Recolhi minha bolsa pra ir embora e resolver a confusão que havia feito.
- Pra onde você vai? - Falou o guerreiro.
- Vou desfazer o mal que causei.
- vou com você.
- Não há necessidade. Sei me virar sozinha, tom.
    Ele conduziu a carruagem até mim:
- Meu nome é Thean. E eu vou com você, princesa. Não seja tão rigida. Sei que posso te ajudar.

     Entramos em uma cabana velha da floresta, eu procurava no livro uma resposta. Thean acendeu o fogo da lareira.
- Ai você não encontrará resposta alguma. Você tem que ir ao pé do mesmo Carvalho que colheu o galho e esperar pela lua cheia.
- Não foi usado galho de pé de Carvalho, mas sim de limoeiro.
- Você está enganada.
Olhei para o meu gato que estava deitado ali próximo:
- Anelar.....
    Ele se lambia calmamente:
- oras, eu sou um gato, não sei diferenciar árvores. Peguei o galho da árvore ao lado do castelo.
   Thean continuou:
- Você precisará estar debaixo do carvalho, sob a lua crescente e está com um rubi dos da coroa que você usou em mãos. Além de arrumar também uma flor de hibisco, pois essa fragrância chama a atenção daqueles seres horrendos.
Fiquei surpresa:
- Como sabe de tudo isso?
   Ele desconversou sem graça:
- Isso não vem ao caso. - ele se levantou - vou me deitar.
   Assim que ele se retirou , peguei minhas coisas e saí de fininho, junto com Anelar. Na realidade, não me senti confiável a presença de Thean. Há muita coisa que ele escondia de mim e ele podia muito bem estar ao lado daqueles seres sombrios.
Eu e Anelar paramos para descansar em baixo de uma árvore, aproveitei para anotar tudo o que o soldado havia dito que desfaria aquele mal entendido. Ouvi som de galhos sendo quebrados, alguém havia se aproximado e eu via apenas a sombra. Usei meu arco e flecha pra acertar a criatura.
  - Você realmente manda muito bem com arco e flecha - Thean estava preso em uma árvore pela flecha que lhe acertei próximo ao ombro, mas não havia machucado.
  - Mas que droga. O que você quer?
  Perdi a paciência com aquele homem me perseguindo. Não queria que ninguém estivesse na minha cola. Queria resolver sozinha o que eu havia feito.
- Vossa Alteza, me permita lhe acompanhar. É para o seu bem. Somos os únicos que restaram.
- Se esconda e cuide de se manter vivo. Deixe que do resto eu cuido.
  Ele arrancou a flecha dos ombros e a jogou no chão:
- Você precisa de mim. Mas do que imagina.
Respirei fundo, já sem paciência.
- Prefiro continuar sozinha.
Ele se aproximou de mim :
- O talismã que carrego não permite que aqueles monstros se aproximem muito de mim. Posso te dar proteção enquanto você se vira com isso.
  Pensei em algo que colocaria a palavra dele em prova. Vamos ver se ele queria mesmo o meu bem:
- E por que simplesmente não me entrega o colar. Já que quer tanto me proteger?
  Ele tirou o talismã e colocou em mim:
- se é assim que você quer.....só te garanto que estarei por perto, caso precisar.
  Thean se virou para ir embora. Ele havia me dado algo que o protegeria, provou falar a verdade e pôs a minha vida acima da dele. Me senti mal por ter feito aquilo.
- Tudo bem. Vamos ficar juntos. Mas prometa que vai me deixar cuidar sozinha da parte de desfazer o feitiço. Prometa que depois que isso passar, você me deixará em paz.
   Ele me abraçou, aliviado:
- Ok, eu prometo.

Catarina - 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 𝖒𝖊𝖉𝖎𝖊𝖛𝖆𝖑 𝖊 𝖋𝖆𝖓𝖙𝖆𝖘𝖎𝖆 Onde histórias criam vida. Descubra agora