Pela manhã me acordei cedo, a cabana estava silenciosa, nem Anelar e nem Thean estavam ali, o que era estranho, já que meu gatinho nunca saia sem mim. Cuidei de descer para o riacho ali perto e tomar um banho, estava mesmo precisando. A água estava morna, do jeito que eu gostava, relaxante. De repente escuto algo se mexer na água.
Gritei assutada. Thean estava ali, mergulhando na água, me cobri o mais rápido que pude e não economizei no sermão:
- Sem vergonha, o que pensa que está fazendo? Saia daqui agora!
- Eu só estava pescando, calma já vou sair - ele saiu da água - inclusive, o seu gato está comigo.
- Que pouca vergonha hein, Catarina - Anelar estava na pedra ali próximo - Contarei tudo pro rei Aniel viu? Você vai ver só.
Assim que eles sairam, me vesti e segui pra cabana.- Quando me virem sair pro riacho, não vão atrás de mim, ok? Não quero ter que falar isso de novo.
- Desculpe. Não era minha intenção. Só estavamos procurando algo pro café da manhã .
- Encontramos alguns pêssegos - Anelar cravou a unha em um dos frutos e mordeu - docinhos.
- Tudo bem. Tomem café pra seguirmos nossa viagem. Vamos ao extremo norte para colher as flores de hibisco e guarda-las em caixas bem lacradas, evitando que aqueles monstros sintam o odor. Em seguida daremos a volta chegando ao lado do castelo, onde está o pé de Carvalho e indo buscar minha coroa de rubis. Precisaremos também de um caldeirão. Talvez encontremos em alguma casa de camponeses. Vamos recolher mais alguns frutos, água e mantimentos para a viagem. Hoje a tarde improvisarei armas novas com a madeira que for encontrada. Não mate nenhum bixinho por que não vamos consumir carne de forma alguma.
- Pode me explicar o motivo disso? - Thean indagou
- Simples. não temos como conserva- las. E pra mim tanto faz por que sou vegetariana
Anelar não parecia feliz com essa decisão:
- Não posso matar nenhuma lagartixa?
- Não me parece correto. Mas indo direto ao ponto: Anelar traga frutas silvestres que encontrar, Thean encha os barris com água e eu recolherei madeira para fogueira e para fazer novas armas.
Logo após o café, fomos fazer nossas devidas tarefas. Só acabamos a tarde e conseguimos bastante mantimentos. Consegui elaborar canivetes e arco e flecha. Além de termos o trigo. A noite percebemos o barulho de pessoas se aproximando, então saimos com urgência e já seguimos em caminho ao norte de Aplonis. Eram mais ou menos 4 dias de viagem.- Sabe que uma vez eu namorei uma gatinha linda - Anelar estava deitado sob a caroça improvisada - Mas ela era uma gata de rua. Uma pena. Sonhava em ter filhotes com ela. Miau.
- Você é um don ruan - Thean brincou - o terror das gatas.
- pior que eu era mesmo. Tomara que isso passe logo pra que eu volte a minha vida de bohemia. - o gato se espreguiçava - tudo isso por causa de uma ideia de jirico da Catarina. Acredita que ela queria virar homem?
Não era pra Anelar ter exposto esse fato. Ainda não confiava 100 % em Thean.
- Caladinho, Anelar - olhei pra ele desconfiada - há coisas que não devem ser ditas
A curiosidade do guerreiro ficou aflorada:
- Isso é verdade?
- Não vamos falar disso. Minha consciência está uma pedra por ter causado essa confusão. Por favor, não toquem nesse assunto.
Passamos um bom tempo da viagem em silêncio. Enquanto isso fui observando como estava o céu. Aprendi todas as constelações sozinha, isso me ajudava a ter um bom senso de direção, fora que também despertou meu amor por astrologia. Meu signo era Câncer e ascendente em sagitário. Talvez meu ascendente tenha influência nessa minha paixão por batalhas. As estrelas também me lembravam alguém especial. Minha mãe. Ela estava ali, sendo a estrela que mais brilhava pra mim.
Dizem que após a morte dela o papai se tornou um homem amargurado. Nunca o vi sorrir. Dizem que ela era radiante, que até os animais se afeiçoaram a ela. Que cantava com a voz de um anjo. Que os olhos dela pareciam duas jabuticabas de tão escuros e que era serena como um monge e ingênua como uma criança. Quanta falta ela fazia. Apesar de não estar viva, ela estava onipresente e eu sabia que onde quer que ela esteja, ainda há um amor enorme por mim. Eu era capaz de sentir isso.
- ele dormiu - Thean observava Anelar ressonar - sabe que eu até que gosto dele? Sério. Ele é mais bon vivant que muito humano por ai.
Sorri e fiquei em silêncio. Não queria conversar. Então me deitei pra dormir. O guerreiro se deitou ao meu lado, ele queria mesmo conversar.
- Por que não confia em mim?
- Como sabe se confio em você ou não?
- Observando suas atitudes.
- Seria estranho se eu confiasse cegamente em você, sendo que só te conheço a um dia.
- Faz sentido. Porém, olhe a situação, só restou nós de todo o reino e você ainda assim não quer se aliar a mim. Me sinto fútil por um momento.
- Pense o que quiser.
Me virei para dormir até realmente adormecer.O dia amanheceu e me vi junto com Anelar na caroça próximo a um bosque de pinheiros. O guerreiro sumiu. Porém o colar dele estava no meu pescoço. Ele abandonou a missão. Talvez tenha sido dura com ele, rígida demais. Me senti mal.
- Aquele filho da mãe sumiu
Me fingi de despreocupada:
- Vamos seguir nossa jornada.
Abri minha bolsa de mantimentos e peguei pão, geleia e cebolas caramelizadas:
- olha só. Café da manhã de reis.
Eu e Anelar tomamos café e paramos na vila ali próximo. Estava tudo vazio, as casas, ruas, comércios.....não havia ninguém. Para nossa felicidade encontramos um caldeirão tamanho médio, mas pelas minhas contas daria tudo certo. Pegamos também alguns lençóis que encontramos nos varais. Foi ótima a parada mas precisamos seguir a viagem e assim fizemos.- Anelar, você acha que eu fui rigida com o Thean? Estou me sentindo mal por ter destratado ele.
O gato acabava de devorar um prato de legumes, como sempre lento e despreocupado.
- Você tratou ele bem até. O problema é que ele é um molenga. É todo frufru com você por que tá interessado.
Me senti sem graça.
- não acho que seja isso. As vezes ele é emotivo mesmo.
Ele deu ombros:
- sei lá. Só sei que isso aqui tá muito bom.
Sorri acariciando ele.
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Catarina - 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 𝖒𝖊𝖉𝖎𝖊𝖛𝖆𝖑 𝖊 𝖋𝖆𝖓𝖙𝖆𝖘𝖎𝖆
RomanceCatarina é a única filha do Rei Aniel com a falecida rainha Nara. Após a morte da sua sua mãe, ela, juntamente com seu pai, assume o papel de governar e tomar importantes decisões sobre o reino de Aplonis, povo que governa o pacífico. Moça de grand...