Pietro

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Acordo quando sinto alguém cutucar minhas bochechas várias vezes, abro meus olhos e vejo duas esferas azuis me encarando bem de perto, coloco minha mão no rosto desse intruso e o empurro para longe, lentamente me sento na cama e ainda tenho as esferas me encarando atentamente.

-Vai ficar aí me encarando?-perguntou com um tom brincalhão, enquanto me movia para fora da cama- ande me dê um abraço- abro os braços e sinto braços fortes me envolverem e me erguerem no ar.

-Olá maninha-ele diz enquanto beija minha cabeça-como vai?- ele pergunta enquanto me solta e dá alguns passos para trás para me ver por completo- UAU, você cresceu tanto.

-Pietro para de palhaçada- digo com um bico nos lábios- você é apenas 30 minutos mais velho que eu.

-30 minutos é muita coisa-ele diz com um ar superior - agora me responda, como você está?

- Estou bem, nessas últimas semanas nada de importante ou espetacular aconteceu- digo enquanto caminho em direção a minha cama e me jogo na mesma- na verdade teve sim, a uma semana atrás eu fui assaltada, ou pelo menos tentaram me assaltar.

-Assaltada?- ele pergunta com preocupação enquanto seus olhos percorrem meu corpo em busca de algum machucado.

-Eu estou bem, Pietro-digo tentando lhe acalmar.

-Ótimo- ele suspira aliviado- e o que aconteceu? me conta direito essa história Wanda.

-Bem, eu um dia desses decidi ir na praça, e lá tentaram me assaltar- digo dando de ombros- mas eu fui mais rápida e peguei a ladra antes que ele conseguisse me assaltar de fato, era apenas uma criança, devia ter uns 10 anos.

-Entendo- ele diz coçando a barba invisível, patético- as ruas estão ficando cada vez mais perigosas, não é bom que você saia sozinha maninha.

-Eu não estava sozinha, estava com Scott- digo olhando em volta do quarto e não encontrando meu carrinho de comida- cadê meu café da manhã?

-Não sei, talvez nebulosa ainda não tenha acordado.

-Ela não trabalha mais aqui, aquela estúpida se demitiu- digo irritada- medo, essa foi a razão para ela ter pedido demissão.

-Medo, entendo- ele diz pensativo, mas ao ver meu olhar triste ele caminha até meu closet e some pelo mesmo, minutos depois ele volta com algumas peças de roupas e joga na cama, perto dos meus pés- se vista, estamos saindo para tomar café.

E tudo o que ele diz antes de me lançar um sorriso dócil e caminhar para fora do quarto.

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-E então, como foi a viagem?-pergunto enquanto tomo um café sem açúcar, estamos em um bar a uns 10 minutos do castelo- como é lá na Inglaterra? É tudo muito chique, como costumam dizer?

- A viagem em si foi bem chata, passar meses em um navio é uma verdadeira merda, mas quando lá cheguei valeu apena cada segundo que eu passei naquele navio- ele diz com um sorrisinho no rosto- é realmente tudo muito chique lá, tudo muito bonito, só fiquei um pouquinho decepcionado com o café da manhã- ele diz fazendo bico- eles tomam chá no café da manhã, CHÁ.

- Ora, chá não é ruim-digo rindo da cara indignada que ele está fazendo para mim- bem, mas agradeça que você pode viajar, já eu tenho que ficar trancada na merda daquele castelo.

- Pelo menos você tem o Visão para te fazer companhia- ele diz e eu faço uma careta ao ouvir o nome do meu namorado- o que? Vocês brigaram de novo?

-Quase isso, é só que...- bufo irritada e tomo um gole do meu café, não quero falar sobre o Visão, aquele idiota me irrita ao extremo- ele é insuportável, parece até um robô( eu sei que essa palavra nem existia na época, mas...licença literária hehe) segue todas as regras corretamente e é um pé no minha paciência, que já não é muito grande.

-Então porque está com ele?- ele me pergunta me fazendo o fuzilar com os olhos.

- Você sabe muito bem o por quê, porque papai diz que ele é o ideal e que ele é o único que consegue me domar- falo irritada, ao me lembrar das palavras do meu pai- estupido, não é como se eu fosse um animal para precisar ser domada.

-Bem, então papai é burro- ele diz me fazendo gargalhar- você é tipo aqueles gatinhos selvagens, de longe é fofinha, frágil, e até desejável, mas quando chegam perto eles veem que não é bem assim, apesar da aparência agradável, você é insubmissa, forte, inabalável, independente e muito, muito perigosa.

- Uau, um gatinho? Gostei disso- digo beijando sua bochecha- Grazie pipi- digo e ele faz uma careta pelo apelido- vamos a praça Cuore d'oro?

- Claro, mas só se você prometer nunca mais me chamar assim.

- Sem chances pipi- digo deixando dinheiro na mesa e me levantando para ir em direção a carruagem.

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Estamos a uns 10 minutos na praça, estamos sentados perto do lago conversando sobre coisas alheias, olho para trás e vejo alguém que eu pensei que nunca mais veria na vida sentada em um banco, ignoro a presença da pessoa e volto minha cabeça para frente.

- Então o que acha da ideia?

- É acho legal- digo um pouco confusa- perdão, ainda estamos falando da nossa festa, certo?

-Sim, do que mais estaríamos falando?- ele diz com um sorriso confuso no rosto- você prestou atenção no que eu falei?

- Desculpa, talvez eu tenha me distraído um pouco no final- digo me sentindo envergonhada- você pode repetir por favor?

- Claro, mas só depois que você me contar o que está acontecendo.

Um pouco desconfortável me mexo no lugar e fito a grama.

- Olha para trás- digo para ele que faz exatamente o que pedi- esta vendo a menina? Então lembra que eu fui assaltada?

- Foi ela?- ele pergunta bravo- devemos prender ela, Wand...

- Cala a boca e me deixa falar- digo um pouco brava por ter sido interrompida - enfim, como eu ia dizendo, quando eu fui assaltada foi essa garota que foi ajudou a outra menina que me assaltou, elas pareciam irmãs, talvez sejam.

- Ok, e qual é o motivo de você não ter prestado atenção no que eu falava?

- Non lo so, eu virei para trás e a vi sentada ali, ela parece estar chorando, e por algum motivo isso está me incomodando.

-Então vá falar com ela, pergunte o motivo.

- Que?

- Se está te incomodando ver ela chorando, vá falar com ela.

- Tem certeza?- pergunto e recebo um aceno positivo- ok, já volto.

Me levanto, respiro fundo, e em passos lentos vou em direção ao banco onde a menina está sentada, quanto mais me aproximo mais minha teoria ganha vida, ela está chorando, um choro dolorido, consigo sentir a dor daqui, mesmo estando um pouco distante. Sabe quando uma pessoa está chorando e você sente a dor dela só pelo modo em que ela chora? Com soluços fortes que falam mais alto que qualquer palavra, com lágrimas que queimam os olhos, lágrimas cada vez mais duras, lágrimas que carregam anos de sofrimento, era exatamente assim que o choro dessa menina se assemelhava, ela parece tão nova para tamanho sofrimento, seria ela amaldiçoada também?

Lentamente me sento ao seu lado e demora alguns segundos para ela perceber minha presença, ela me encara confusa e assustada , dou um pequeno sorriso para ela e tiro de dentro do decote de meu vestido um pequeno lenço e lhe estendo.

- Aqui, pegue!

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;) espero que tenha gostado :) 



Almas destinadas ( revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora