09 | na minha torre

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O mundo parou de girar, senti meu coração parar de bater, nada conseguia fazer sentido. Minha respiração ficou tensa, não só isso como cada vibração que emanava do corpo dele. Retirou a mão de mim, mas continuou em cima, encarando meus olhos. Minha boca não conseguia se mover. Eu não conseguia raciocionar, eu nem sabia se tinha ouvido o que ouvi... Por acaso, Park Seonghwa...

ㅡ Você vai parar de gostar de mim?

Um ruído estranho se firmou. Meu corpo estava tremelicando, ainda tentando processar aquela informação, jogada sem nenhuma espécie de preparo. As palavras haviam fugido, dando espaço para um silêncio vazio e doloroso, talvez ainda pior do que o que tivemos por duas semanas. Depois de alguns segundos, deu uma risada. Olhou para os lados e se levantou rápido, catando a camisa do chão. Não consegui agir. Se quer consegui perguntar para onde ia, o que pretendia fazer, não consegui fazer absolutamente nada. Vestiu-a e foi a caminho da porta, e a segurando, com os olhos marejados, voltou o olhar em minha direção.

ㅡ É por isso que eu estava evitando você. ㅡ A voz saiu embargada de choro. Bateu a porta me dando um pequeno tremelique, me deixando ali com a companhia do silêncio, só que dessa vez um ainda mais potente e angustiante silêncio.

Sim! Eu fui tão idiota para não perceber... Todo aquele excesso de cuidado não era mero capricho, era questão de sobrevivência. Abracei meu próprio corpo tendo que internalizar diversos pontos. Bati com o punho na cama frustrado, não por descobrir somente agora, depois de um bom tempo juntos, que Seonghwa era imunodeficiente, mas porque eu demorei para responder àquela pergunta.

Quando andei descalço pela cozinha, com os olhos inchados de tanto soluçar, em busca de um copo com água, eu esbarrei no armário deixando cair o frasco das "vitaminas". Na verdade eram antirretrovirais. É óbvio que ele tinha que tomar aquilo todos os dias. Abraçei o medicamento, sentindo minha garganta inflamar ainda mais. Chorei pelo longo da noite. Toda aquela casa tinha um pedaço de Seonghwa... Toda aquela casa tinha seu cheiro, tinha seu toque, sua essência. Eu não conseguia acreditar que Park Seonghwa conviveu comigo por tanto tempo e era um portador de HIV. Isso não é uma coisa pra se manter segredo.

Eu abri a porta do seu quarto, não o frequentava por respeitar seu espaço. Não havia absolutamente nada de "perigoso". Tudo estava meticulosamente arrumado, bem disposto, todo o estoque de primeiro socorros que possa precisar. Mas agora não sei se Seonghwa estava me protegendo dele... Ou se protegendo de mim. As receitas antigas, as novas, as dietas, o calendário de visitas. Tudo aquilo era absurdamente impactante de se saber de uma hora pra outra.

@yunhoe
ele está na minha casa
não se preocupe
acho que você descobriu tudo
de qualquer forma, não pense demais, não é como se ele estivesse de dias contados

Suspirei fundo e limpei meus olhos ao ler o conforto de Yun Ho. Eu queria ligar imediatamente e pedir para que nunca mais saísse daquele jeito, mas eu não saberia o que ou como dizer. Me aquietei por ali mesmo, brincando com uma ampulheta em sua escrivanhia. O sono sumiu com meu estado de choque.

( ... )

Passei pelo corredor da loja, com meus próprios dedos se retorcendo, apenas para dar de cara com o mesmo. Não estava tão diferente de mim, seu rosto estava vermelho. Percebi seus lábios tremerem. Não evitou olhar para mim, manteve-se firme o tempo todo. O que eu via antes e o que eu vejo agora é como se fosse uma distorção da realidade. Eu sempre glorifiquei Park por ser uma pessoa saudável, e sim, ele era, mas de alguma forma, saber do vírus o colocava num pantamar diferente. É como se eu já tivesse vendo Seonghwa em sua fase terminal. Essa imagem é assustadora, eu não queria vê-la, eu estava assustado. Respirei fundo passando pelo mesmo, ou melhor, eu tinha que passar.

ㅡ Então você não vai falar comigo? ㅡ Sua voz continuava embargada. Engoli a seco, retorcendo meus dedos ainda mais. Um frio gélido subiu do tornozelo até a nuca. ㅡ Hongjoong... Por favor...

ㅡ Eu não sei o que dizer. ㅡ O respondi, com toda a sinceridade. Senti seus dedos ainda mais gelados ancorarem em meu pulso, me impedindo de ir a qualquer lugar.

ㅡ Você... Está com nojo de mim? ㅡ Sua respiração estava tão tensa e pesada que eu conseguia sentir me esmagar. Agarrei seus dedos, meu coração estava errando todas as batidas possíveis. Voltei meu olhar para si, suas bochechas molhadas brilhavam.

ㅡ Não... Eu nunca teria nojo de você, Seonghwa. ㅡ Falei determinado, ele soltou o ar. ㅡ Você tem...

ㅡ O quê? O que eu tenho? Você pode dizer. Não é um crime. ㅡ Percebi nossas mãos juntas como se fossem feitas para se encaixarem. Consegui sentir seu coração tão acelerado quanto o meu.

ㅡ Seonghwa, você tem HIV. Por que você nunca me contou sobre isso? Se estamos juntos por esse tempo todo, eu acho que eu deveria saber. Eu sou mesmo seu amigo?! Você realmente gosta de mim?

ㅡ Hongjoong, você não entende... ㅡ Ele falou com a voz baixa, levando o olhar para o próprio chão. ㅡ Por favor, não me diga que isso mudou o que sente por mim. Eu realmente gosto de você, eu nunca mentiria sobre isso.

ㅡ Não mudou! Eu amo você, Seonghwa, mas... ㅡ Ele soltou minha mão, seu rosto começava a suar e dessa vez ele não limpou.

ㅡ Mas o que, eu sou doente? Eu sou doente. Você está com medo? Você está com nojo, você está com raiva? ㅡ Rangeu os dentes, voltando a tremer. Ele deu dois passos para trás. Eu ainda não conseguia dizer nada. ㅡ Hongjoong, nós podemos ficar juntos... Existem milhões de casais sorodiferentes, por favor, não olhe pra mim como se eu estivesse perto de morrer. Eu quero ficar com você...

Seonghwa pôs as mãos em meus ombros, quase me sacudindo para arrancar qualquer resposta. Seus olhos brilhavam, sua boca estava seca e tremia, meu corpo estava criando uma combustão. Naquele momento eu me sentia um estúpido, um incapaz, um idiota, eu não podia hesitar do que sentir por Park Seonghwa aquela altura. O sentimento por si que eu havia construído com certeza era maior do que qualquer outra circunstância.

ㅡ Hongjoong, você realmente não entende. Eu sabia que isso ia acontecer. ㅡ Me largou e saiu de perto mais uma vez, já que eu não consegui falar o que ele queria ouvir de mim.

PUNCH DRUNK LOVE | ATEEZOnde histórias criam vida. Descubra agora