Thomas
30 de dezembro.
Era véspera da véspera de ano novo. Acordei às dez da manhã com o barulho do pessoal. Levantei e fui fazer minhas higienes. Logo depois, desci para tomar café, dei bom dia a todos e eles responderam animados, exceto a Scarlett que respondeu seco.
Já fazia dois dias que ela havia vindo morar conosco e eu estava com uma leve impressão de estar sendo ignorado. Toda vez que eu entrava em um cômodo ela imediatamente saía ou quando os outros estavam juntos, ela nunca me dirigia a palavra.
No primeiro dia eu pensei na possibilidade dela ser tímida e ter vergonha de falar comigo, mas depois de vê -la falando com todos os outros normalmente, percebi que não poderia ser isso.
Depois de pensar em inúmeros motivos, decidi perguntar a ela, eu só precisava de uma oportunidade para fazer isso. Ela me parecia ser familiar, mas eu não entendia o porquê. Com apenas o primeiro nome eu não conseguiria descobrir se a conhecia, afinal, existem centenas de pessoas chamadas Scarlett.
A manhã seguiu tranquila, conversamos e o pessoal decidiu assistir filme, o problema era decidir qual. O Ben, a Nat e a Gabi queriam romance, e por outros lado, eu, o Leo e a Scarlett queríamos qualquer coisa, menos romance. Até que ela tinha um bom gosto.
Fomos vencidos pelos três barulhentos e eles colocaram "como eu era antes de você". O filme até que não era chato. No final o pessoal estava em prantos, eu continuei firme, mas não pude negar que foi muito triste.
Almoçamos por volta das uma e meia da tarde e depois fomos ao mercado comprar algumas coisas que faltavam para o luau que estávamos planejando para amanhã a noite.
Quando voltamos para casa, Natasha separou funções para cada um de nós. E por ironia do destino, eu e a Scarlett ficamos na decoração da praia.
Fomos para lá e começamos a arrumar as tochas na areia da praia. Sinceramente eu não sabia como falar com ela, mas eu não aguentava mais o silêncio perturbador que estava entre nós.
— Por que você anda me ignorando? —Falei quebrando o silêncio.
— Não sei do que você está falando. — Ela respondeu fazendo a Kátia para cima de mim.
— Não se faz de desentendida. Você trata todo mundo na maior educação e me dá um gelo enorme quando eu falo. — Elevei um pouco o tom, mas me mantive tentando ser delicado.
— Primeiro: abaixa o tom para falar comigo. Segundo: você realmente não se lembra não é? — Ela respondeu me deixando confuso.
— Não me lembro do quê? Se você me explicar, pode ser que eu compreenda.
Mas antes dela poder me responder, o Ben apareceu na porta dos fundos que dava de frente pra onde estávamos.
— Chegou uma encomenda para você Sky, precisa da sua assinatura. — Ele disse gritando e já saindo em seguida.
Scarlett saiu batendo os pés na areia e eu fui atrás. Percebi que ela ficou irritada por eu ter ido, mas enquanto eu a seguia, tentava de todas as maneiras me lembrar de qualquer coisa que ela poderia estar se referindo. Se ela queria que eu lembrasse de algo era porque já nos conhecíamos antes, o que confirmava as minhas suspeitas.
Quando chegou na porta, ela assinou o papel, pegou a encomenda e como a mesma era grande deixou o recibo cair.
Me abaxei pra pegar, mas quando li o seu nome completo escrito naquele papel fui atingido por uma onda de lembranças que me fizeram entender o porquê dela sentir tanta raiva. Tudo o que consegui pensar foi que eu precisava pedir perdão, de joelhos se fosse preciso.
Scarlett
Senti a expressão dele mudar totalmente enquanto lia meu nome no recibo, mas não me deixei sentir nenhuma gota de pena e tomei o papel da mão dele com toda a ignorância que havia em meu ser, saí em disparada para meu quarto e ele veio atrás.
Nossos amigos nos encaravam sem entender nada, ouvi Leonardo perguntar o que houve, mas sinceramente eu não estava com cabeça pra responder.
Entrei no meu quarto seguida por Thomas que estava com um semblante confuso. Percebi que havia uma mistura de culpa e compaixão em seu olhar.
— Por que não me disse antes, ao invés de me tratar mal? — Ele disse enquanto se sentava em minha cama.
— TRATAR MAL!? Olha só quem fala. — Elevei o tom colocando a caixa no chão perto do espelho.
— Poxa Scarlett, éramos crianças! Não tem motivos para você ficar com mágoa de mim e me tratar dessa maneira por causa das minhas burrices da infância. — Ele disse tentando distorcer minha visão de que ele era culpado.
— Foda -se que foi na infância. Isso me machucou! O fato de você me maltratar na frente dos seus amigos e depois se fazer de santo na frente da minha mãe, isso me deixou magoada. Ela morreu pensando que você era uma boa pessoa, mas muito pelo contrário, você era um idiota que tratava a filha dela como um lixo. Ela te amava como um filho e te respeitava. — Respondi com a voz elevada e meus olhos marejados.
Percebi que o que eu havia falado o tinha atingido, era possível ver a tristeza no olhar dele.
— Eu peço perdão. Nunca queria ter feito você passar por isso. A Aurora era como uma mãe para mim e eu não queria que ela soubesse das merdas que eu fazia. Eu queria que ela sentisse orgulho de mim. Eu sinto muito Scarlett, eu era um idiota e não queria que sua mãe soubesse. Eu posso prometer que eu mudei para melhor, eu não sou mais aquele pirralho babaca. Se você aceitar podemos começar do zero e quem sabe podemos nos tornar amigos de verdade dessa vez. — Disse arrependido com os olhos lacrimejando também.
Analisei o pedido de desculpas. Eu ainda estava com raiva, mas ele parecia estar sendo sincero. Não valia a pena continuar a briga, então decidi dar uma chance.
— Eu posso te perdoar, Thomas. Entendo o fato de você querer que minha mãe sentisse orgulho de você. Eu aceito recomeçar, não quero ficar em um clima chato com você já que iremos morar juntos por um bom tempo — Respondi olhando em seus olhos.
Rapidamente ele me puxou para um abraço sincero e eu retribuí o ato. Nos separamos e ele foi em direção a porta. Logo que abriu os fofoqueiros de plantão caíram. Rimos da situação e cada um foi terminar o que estava fazendo antes. No final da noite já estávamos todos cansados e fomos descansar. Amanhã o dia seria longo.
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Desventuras Da Vida Adulta
RomanceScarlett se muda para os Estados Unidos junto de sua família, logo após a perda de sua mãe. Anos depois, recebe a oportunidade de voltar para o Brasil ao ser aceita em uma faculdade. De volta ao país, ela se vê em uma nova aventura. Reencontrando pe...