Capítulo IX

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O soldado Carter estava certo.

Não em relação ao meu coração ou aos meus sentimentos, mas sobre papai. Três dias se passaram, e ele parecia tentar esquecer o incidente voltando a conversar comigo aos poucos.

Eu e papai sempre fomos próximos, desde que eu era criança. Uma vez, quando vi Violetta subindo em uma árvore e tentei ir atrás dela, levei uma queda bastante dolorosa. Meus joelhos sangraram por horas, e eu não parava de chorar dizendo o quanto eu era fraca. Papai soprou o ferimento e me olhou com um semblante orgulhoso, dizendo que eu era a princesa mais forte que ele já vira.

Tentei me agarrar a esses pensamentos enquanto ponderava sobre tudo o que eu havia visto na cidade. Não conseguia me arrepender completamente de ter ido porque eu sentia que precisava ter visto aquilo tudo. A forma que as pessoas viviam, as famílias que passavam fome, as crianças que brincavam com tão pouco. Como eu podia ignorar aquilo tudo e voltar a minha rotina como se nada tivesse acontecido?

— Ceci? Irmã, ouviu o que eu disse? — Bella balança a mão em frente ao meu rosto. Coloco o livro que segurava de lado, e afasto meus pensamentos me ajeitando sob o pequeno pano ao chão no jardim do castelo.

— Ah...não. Pode repetir?

— O ponto Ceci, sabe que não consigo terminar quando chega nesse ponto. — ela empurra o pequeno lenço e a agulha de costura em minha direção, e eu acabo sorrindo pegando-o da mão dela.

— Você tem que ter paciência Bella, está vendo? Com calma você irá conseguir terminar o bordado. — a ensino me inclinando e vendo seu cabelo ruivo brilhar sob a luz fraca de sol daquela manhã.

— Ah irmã, nunca vou conseguir fazer isso igual a você. — ela joga tudo de lado, e solta os ombros respirando fundo. — Você é boa em tudo e Violetta sabe lutar e se virar em qualquer lugar. Eu não sei nada.

— Não diga isso, você ainda é nova, tem muito a descobrir. — digo levantando o seu queixo, e a lançando um sorriso. — Além do mais, lembra de quem é a voz mais bonita de Beaumont?

— Saber cantar não serve para nada, Ceci. Agora chega de divagar acerca de minha tediosa vida sem talentos. Me conte sobre o príncipe Christian, ainda não tivemos oportunidade de falar sobre o que você sente por ele.

— Só o vi duas vezes Bella, não tem como sentir nada por ele ainda. — ajeito o vestido sob o corpo e olho para baixo. — Várzea é muito distante, provavelmente nos veremos pouco até o dia do casamento.

— Assim você me desanima com o amor, Cecília. A última coisa que eu queria na vida era um casamento arranjado.

— Agora eu que gostaria de mudar de assunto. — sorrio fraco, colocando uma maçã da cesta na boca e mordendo um pedaço. — Você acabara de dizer a pouco que Vi sabia lutar, e na cidade ouvi Apolo dizer que ela sabia se defender sozinha. Quem a ensinou? Nosso pai decerto que não fora.

— O soldado Carter a treinou em secreto por um tempo.

— O quê? — respondo chocada mais do que deveria. Apolo havia treinado Violetta a lutar? E em secreto? Eu não fazia ideia do porquê imaginar os dois sozinhos fez meu estômago se revirar.

— Sim, mas não conte a ninguém. Vi me mataria. — ela suspira fundo e retira algo do pequeno bolso que havia em seu vestido branco. — A propósito, essa carta estava em sua escrivaninha nesta manhã.

— Carta? Para mim? — pego o papel confusa, e observo as letras marcando o nome Cecília no centro.

"Eu a estou observando, sempre. Não pense que está segura. Quando menos perceber, seu inimigo estará logo atrás de você."

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